O estádio do Arruda é o maior patrimônio físico do clube. Foto: Rafael Melo/Santa Cruz.
O estatuto do Santa Cruz foi modificado pela última vez em maio de 2022, quando abriu caminho para a criação de uma Sociedade Anônima do Futebol. Naquela assembleia geral, os sócios tricolores aprovaram o novo texto com 67% dos votos, dando ao executivo do clube o pleno poder de escolha e implementação da SAF. Demorou mais que o previsto, mas o Santa finalmente avançou neste assunto. Agora, em janeiro de 2025, o clube pernambucano deve apresentar detalhes da proposta feita por empresários de Minas Gerais. O valor total do negócio seria de aproximadamente R$ 1 bilhão por 90% das ações. E o passo seria realmente grande, já com a assinatura da proposta vinculante.
Possível dono da SAF estava em outra SAF
O grupo de cinco empresários que deverá investir no Santa Cruz durante dez anos é liderado por Vinícius Diniz, ex-sócio da SAF do Athletic, o clube mineiro que acabou de subir para a Série B. Com histórico no ramo da mineração, Vinícius vendeu a sua parte no clube do interior em agosto e deixou o Conselho de Administração após dois anos. Sob sua gestão foram dois acessos nacionais. No Santa, além de repasses imediatos ao futebol profissional, o futuro aporte deverá contemplar a modernização do Arruda, um estádio de 60 mil lugares que começou a temporada limitado a apenas 26,5 mil torcedores, e do CT Ninho das Cobras.
Isso sem contar o pagamento das dívidas, praxe neste modelo de negócio no futebol brasileiro. Neste ponto, talvez o mais delicado, vale ficar atento a uma notícia bem recente, esta oficial. No último dia de 2024, o Santa Cruz divulgou o diagnóstico da consultoria Alvarez & Marsal, que apontou a conclusão da Recuperação Judicial como vital para a atração de investimentos. Embora tenha entrado com o pedido de “RJ” em setembro de 2022, o clube coral ainda não fez a assembleia de credores para definir o tamanho do deságio na dívida trabalhista. Somando com as pendências tributárias, que não entram na “RJ”, o Santa deve R$ 305 milhões. É o que diz o último demonstrativo contábil. Por outro lado, o estudo mais recente de “valuation”, feito pela Sports Value, estimou o Santa Cruz em R$ 255 milhões.
O verdadeiro ativo do Santa Cruz
O presidente coral, Bruno Rodrigues, deu inúmeras entrevistas sobre a SAF na última temporada, sempre ponderando que havia recebido propostas e que a escolha estava próxima – mas sem dizer nomes. Neste caso agora, a informação foi adiantada pela Rádio 98 Live e confirmada pelo site NE45. Independentemente das dificuldades para recuperar a imagem do Santa, com o time na 4ª divisão nacional e com o estádio demandando muito dinheiro para a manutenção, o maior ativo continua sendo, como sempre foi, a torcida.
Afinal, a aquisição da SAF da Cobra Coral significa a fidelidade de um público de pelo menos 1,14 milhão de torcedores, a massa apontada na última pesquisa do Datafolha. Em canto algum é fácil encontrar um público consumidor deste tamanho, ainda mais com o grau de presença como é o da torcida do Santa Cruz. Com essa movimentação, o Santa poderá se tornar o primeiro clube do Trio de Ferro do Recife a virar SAF, considerando o cenário com um investidor externo. Hoje, o Náutico já tem um proposta não vinculante em mãos, mas a resposta alvirrubra, para virar proposta vinculante, só deve sair em fevereiro.
Texto da assembleia do Santa Cruz em relação à SAF:
“Autorizar a constituição de sociedade anônima do futebol (“SAF”), (…) cuja implementação e efetiva constituição, ficará a cargo do Executivo do Clube, que adotará todas as medidas necessárias para a constituição da SAF, de acordo com seu juízo de oportunidade e conveniência voltados a melhor formatação para atração de investimentos, em observância ao planejamento estratégico e de reestruturação do clube”.
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Receita total do Santa Cruz
2011 (Série D): R$ 17,18 milhões
2012 (Série C): R$ 13,13 milhões (-23%)
2013 (Série C): R$ 16,95 milhões (+29%)
2014 (Série B): R$ 16,50 milhões (-2%)
2015 (Série B): R$ 15,11 milhões (-8%)
2016 (Série A): R$ 36,85 milhões (+143%)
2017 (Série B): R$ 17,97 milhões (-51%)
2018 (Série C): R$ 12,40 milhões (-30%)
2019 (Série C): R$ 21,59 milhões (+74%)
2020 (Série C): R$ 13,75 milhões (-36%)
2021 (Série C): R$ 14,07 milhões (+2%)
2022 (Série D): R$ 12,23 milhões (-13%)
2023 (Série D): R$ 13,34 milhões (+9%)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2011 (Série D): +1.442.869
2012 (Série C): -692.408
2013 (Série C): +453.996
2014 (Série B): -1.766.461
2015 (Série B): -3.388.522
2016 (Série A): -3.861.281
2017 (Série B): -32.795.861
2018 (Série C): -18.804.746
2019 (Série C): -2.573.353
2020 (Série C): -5.625.020
2021 (Série C): -8.795.057
2022 (Série D): -8.404.032
2023 (Série D): -7.060.111*
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual