Em 2018, a alagoana Marta foi eleita pela 6ª vez como a melhor jogadora do mundo, se mantendo como a rainha do futebol feminino. No mesmo ano, ela viu o seu time do coração, o CSA, conseguir o acesso no Campeonato Brasileiro. Literalmente, pois esteve na arquibancada em Caxias do Sul, comemorando a volta alviceleste à primeira divisão depois de três décadas.
Juntando as duas peças, foi feita a seguinte (e interessante) a pergunta à atleta: será que ela toparia defender o clube de Maceió na Série A de 2019? Em entrevista ao canal ESPN, em 14/12, Marta não titubeou.
“Eu já joguei tantas vezes no meio dos marmanjos, muitos deles que eram bem maiores que eu. A gente sabe que o perfil físico do homem é mais forte que o da mulher e eu teria que usar mais a inteligência. Mas eu toparia e não fugiria do desafio (de jogar a Série A)”
Na sequência, ela ainda brincou que ficaria mais restrita às assistências, para deixar Neto Berola, destaque no acesso, na cara do gol. Embora o cenário seja difícil de imaginar, até porque Marta estará focada na Copa do Mundo Feminina de 2019, será que a regra permite? Como sabemos, existem duas “modalidades”, a masculina e a feminina, ambas com várias faixas etárias e um nível profissional (em tese) na categoria principal. Logo, o questionamento é válido a partir da possibilidade de “time misto”, com homens e mulheres juntos.
Na prática, cada federação nacional estipula o seu critério. Na pesquisa para este post, a Dinamarca aparece como o único país sem limite de idade para que homens e mulheres atuem no mesmo time em competições oficiais. Em outros países europeus, a mistura se aplica apenas nas categorias de base, variando o limite máximo – anualmente, a Uefa solicita a declaração de cada filiado. Na Inglaterra, por exemplo, o limite passou de 11, em 2010, para 18, em 2015, num aumento gradativo promovido pela The Football Association, a “CBF” de lá.
Os limites de idade para times mistos no futebol*
Sem limite – Dinamarca
Até 19 anos – Holanda e Suíça
Até 18 anos – Inglaterra
Até 17 anos – Alemanha
Até 16 anos – Itália e Gales
Até 15 anos – Escócia
* Em competições oficiais das respectivas federações
A evolução do limite para times mistos na Inglaterra
2010 – Até 11 anos
2011 – Até 13 anos
2012 – Até 14 anos
2013 – Até 15 anos
2014 – Até 16 anos
2015 – Até 18 anos
Profissionalmente, o Perugia, da Itália, tentou contratar, em 2003, a atacante sueca Ljungberg, que recusou o convite. Em 2004, a também atacante mexicana Maribel Dominguez chegou a fechar contrato com o Celaya, que disputava a 2ª divisão do seu país – ela tinha 26 anos e era o maior nome da seleção. Porém, a Fifa vetou o acerto, justificando a existência de gêneros específicos para as competições oficiais – procurando nos regulamentos, não é tão simples de encontrar. Para as competições da entidade, não há a possibilidade de mistura, de acordo com o parágrafo 1º do 4º tópico do regulamento “verificação de gênero”, de 2011 (abaixo). Hoje, no site da Fifa, o tema é abordado para a prática esportiva de crianças e adolescentes.
Já no Regulamento Geral de Competições da CBF, considerando a versão de 2019, a busca pelas palavras feminino, feminina, gênero, jogadora e mulher só tem 4 resultados ao longo de 63 páginas, três deles num mesmo tópico, para definir a interpretação do texto no documento e outro tratando sobre a presença dos nomes dos jogadores no Boletim Informativo Diário, o BID – no parágrafo 2º do artigo 35 (trecho a seguir). Neste caso, a separação é implícita.
À parte de discussões sobre comparativos físicos e técnicos entre os atletas, seria massa ver a rainha disputando um jogo do campeonato. No futebol dinamarquês já seria possível…