O gráfico com a evolução das receitas e das dívidas do alvinegro cearense nos últimos 6 anos.
O Ceará passou cinco anos seguidos na 1ª divisão nacional, igualando o recorde da região na era dos pontos corridos. Neste período, o alvinegro conseguiu quatro faturamentos acima de R$ 100 milhões, tornando-se o 2º clube da região com mais receitas anuais neste porte – só abaixo do Bahia, com seis. Em 2022 o vozão atingiu o seu auge em capacidade econômica, com R$ 173,2 milhões de receita bruta, ou 10 mi a mais em relação à estimativa feita no início do ano. É o que aponta o relatório financeiro divulgado em 24 de abril. Mas não só isso.
Afinal, embora tenha tido dinheiro como nunca, o resultado no campo acabou sendo o pior no período, com o rebaixamento à Série B. O primeiro impacto no caixa será através dos direitos de transmissão na televisão. Somando cotas e premiações, o clube de Porangabuçu teve R$ 77,7 milhões na última temporada. Em 2023, a cota da segunda divisão é de R$ 10 milhões, sem contar que o clube foi eliminado logo na 2ª fase da rentável Copa do Brasil.
Termômetro no quadro de sócios
O quadro de sócios também foi afetado no fim do ano. Em julho, o clube chegou a ter 50 mil sócios adimplentes, uma marca inédita no NE, mas em dezembro, já como consequência da crise esportiva e política, fechou com 34 mil. Hoje, recuperando a confiança, já tem 39 mil – que, francamente, já é uma excelente quantidade. Porém, uma fonte que rendeu R$ 19,7 milhões em 2022 tende a ser menor. O vozão projeta no máximo R$ 15,0 mi.
Também vale pontuar que a temporada registrou o recorde particular na venda de jogadores, com R$ 32,4 mi, superando a marca de 2021, com R$ 30,2 mi. Para este ano, é natural uma desvalorização do elenco, ainda que siga com nomes visados no mercado, como Castilho – comprado junto ao Atlético-MG por R$ 9,6 mi. Para completar, o Ceará viu o fim da sequência de superávits. O clube vinha de sete anos seguidos tendo mais receitas que despesas, terminando no azul. Desta vez o saldo foi negativo, com déficit de R$ 6,1 milhões.
O gasto com salários (no futebol e no administrativo), além de encargos e logística de competições, subiu de R$ 139,0 milhões em 2021 para R$ 155,7 milhões em 2022. Fora isso, ainda aumentou a fatia das “despesas financeiras”. Só com juros de empréstimos o Ceará pagou R$ 10,5 milhões. Ainda que o resultado contábil seja bem diferente daquilo que torcedor alvinegro já estava acostumado a ver, tanto na contabilidade quanto nos gramados, o cenário para buscar uma retomada imediata não parece causar apreensão.
Passivo controlado, mas vale a atenção
O passivo do clube teve um crescimento de 14% e chegou a R$ 56 milhões, mas isso representa 1/3 do último faturamento, além de ser a menor dívida entre os sete maiores clubes do NE. Hoje, vale ficar atento às obrigações trabalhistas e previdenciárias de curto prazo, com vencimento em até 12 meses. Essas pendências subiram de R$ 3,7 mi para R$ 18,9 mi. Olhando pra frente, o clube projetou uma receita total de R$ 89,1 milhões para 2023, sendo uma das maiores entre os 20 clubes da Série B e um dado ainda superior ao passivo.
Internamente, e aí não dá pra ignorar, a queda no faturamento é de 45%. Logo , voltará a uma realidade econômica de cinco anos atrás. Lembrando que no meio de tudo isso houve a renúncia de Robinson de Castro, que ainda assinou o demonstrativo contábil como presidente, e a eleição de João Paulo Silva para o comando do executivo até o fim de 2024.
A seguir, o histórico de receitas, saldos e dívidas do Ceará nos últimos seis anos, com salto econômico a partir da participação na Série A, onde ficou cinco anos consecutivos.
Receita total do Ceará
2017 (B): R$ 31.901.433 (+12%; +3 mi)
2018 (A): R$ 64.787.133 (+103%; +32 mi)
2019 (A): R$ 104.866.088 (+61%; +40 mi)
2020 (A): R$ 103.163.458 (-1%; -1 mi)
2021 (A): R$ 159.287.735 (+54%; +56 mi)
2022 (A): R$ 173.217.688 (+8%; +13 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2017 (B): +3.193.659
2018 (A): +3.013.201
2019 (A): +5.768.766
2020 (A): +377.762
2021 (A): +327.488
2022 (A): -6.163.947*
* O saldo da subtração da receita líquida (165,7 mi) pelo custo operacional (158,8 mi) e pelas despesas financeiras (13,0 mi)
Evolução do passivo acumulado do clube
2017 (B): R$ 10.145.773 (-20%; -2 mi)
2018 (A): R$ 13.011.519 (+28%; +2 mi)
2019 (A): R$ 16.803.756 (+29%; +3 mi)
2020 (A): R$ 35.263.673 (+109%; +18 mi)
2021 (A): R$ 49.948.270 (+41%; +14 mi)
2022 (A): R$ 56.953.477 (+14%; +7 mi)
* A soma das pendências de curto prazo (circulante) e longo prazo (não circulante)
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos seis balanços do Ceará – e as respectivas séries.
Direitos de transmissão na TV
2017 (B): R$ 12,74 milhões
2018 (A): R$ 25,05 milhões (+96%; +12 mi)
2019 (A): R$ 54,77 milhões (+118%; +29 mi)
2020 (A): R$ 52,73 milhões (-3%; -2 mi)
2021 (A): R$ 90,50 milhões (+71%; +37 mi)
2022 (A): R$ 72,77 milhões (-19%; -17 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2017 (B): R$ 2,01 milhões
2018 (A): R$ 7,08 milhões (+251%; +5 mi)
2019 (A): R$ 9,57 milhões (+35%; +2 mi)
2020 (A): R$ 10,10 milhões (+5%; +0,5 mi)
2021 (A): R$ 13,07 milhões (+29%; +2 mi)
2022 (A): R$ 19,72 milhões (+50%; +6 mi)
Renda nos jogos
2017 (B): R$ 8,09 milhões
2018 (A): R$ 10,82 milhões (+33%; +2 mi)
2019 (A): R$ 13,20 milhões(+21%; +2 mi)
2020 (A): R$ 698 mil (-94%; -12 mi)
2021 (A): R$ 3,10 milhões (+344%; +2 mi)
2022 (A): R$ 15,65 milhões (+404%; +12 mi)
Patrocínio/Marketing
2017 (B): R$ 4,39 milhões
2018 (A): R$ 9,68 milhões (+120%; +5 mi)
2019 (A): R$ 9,50 milhões (-1%; -0,1 mi)
2020 (A): R$ 8,04 milhões (-15%; -1 mi)
2021 (A): R$ 15,70 milhões (+95%; +7 mi)
2022 (A): R$ 23,02 milhões (+46%; +7 mi)
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