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Balanço financeiro do Náutico em 2022

O gráfico com a evolução das receitas e das dívidas do alvirrubro do Recife nos últimos 6 anos.

Pela Lei Pelé, os clubes brasileiros devem apresentar os seus balanços financeiros da temporada, com todas as receitas e despesas registradas de 1º de janeiro a 31 de dezembro, até o dia 30 de abril do ano seguinte. Logo, o prazo sobre “2022” expirou há meses. Mas só agora, com 219 dias de atraso, o Náutico divulgou o seu demonstrativo contábil, que teve um faturamento de R$ 27 milhões, o maior desde o descenso na Série A de 2013 – em valores nominais. A justificativa do clube para o prazo estourado parte da revisão das suas contas visando o pedido de Recuperação Judicial, com o clube elaborando um plano de pagamento dos credores, além da preparação para implantação da Sociedade Anônima do Futebol (SAF).

Cota da Série B impulsionou a receita

Para dar solidez aos números, o documento contou com uma auditoria externa, algo que deveria ser praxe, que mas que há bastante tempo não acontecia em Rosa e Silva. Esse trabalho ficou a cargo da consultoria Equity, com o relatório tendo 25 páginas, revisando e reapresentando também os valores de “2020” e “2021”. No blog, onde costumo acompanhar o tema, as publicações anteriores do Náutico foram sobre “versões sintéticas” do balanço, com apenas duas páginas, poucos detalhes e nenhuma nota explicativa.

Sobre a última receita do timbu, a maior parte veio da cota da Série B, que subiu de R$ 3,4 milhões em 2021 para R$ 6,1 milhões em 2022, representando 22% do total – em 2023, no próximo balanço, o clube deve listar só R$ 800 mil pela Série C. Além do repasse pelo Brasileiro, o alvirrubro apurou R$ 4,3 milhões na Copa do Nordeste, somando cota e premiação, já que o time chegou até a semifinal. Outro ponto a favor foi o crescimento da receita com sócios, beirando R$ 4 milhões. Por mês, este segmento rendeu R$ 330 mil ao clube, que hoje tem 25 mil sócios – porém, uma parcela usa o plano gratuito.

Gastos maiores e aumento da dívida

Já em relação aos gastos do Náutico, então presidido por Diógenes Braga, o montante na temporada chegou a R$ 29,9 milhões, fazendo o clube terminar o ano com saldo negativo, na subtração das receitas pelas despesas, pelo 12º ano consecutivo. Nenhum outro clube da região, considerando os sete maiores, passou tanto tempo assim. Pesa contra demais. Só em despesas com pessoal o valor foi de R$ 18 milhões, incluindo R$ 2,3 mi em indenizações trabalhistas. A prestação de outros serviços também chamou a atenção, com R$ 4,9 milhões, com a maior parte endereçada à empresa FutebolCard, que opera a venda de ingressos.

O resultado deste novo déficit foi o aumento da dívida, mas o “verdadeiro aumento” foi através da reavaliação do passivo. Em 2020, imaginava-se um passivo de R$ 160 milhões. Na verdade, aquele valor já era de R$ 244 milhões, subindo para R$ 249 mi em 2021 e R$ 252 mi em 2022. Do novo total, R$ 231 mi são em pendências de longo prazo (além de 12 meses). De toda forma, o passivo recalculado excedeu os ativos do timbu, que hoje tem R$ 251.286.461. Para isso, houve uma revisão do patrimônio físico, com o valor caindo de R$ 364 mi para R$ 147 mi – não necessariamente, seria este o valor definitivo para o mercado.

Relatório confirma oferta bilionária por SAF

Apesar de tratar das contas de 2022 e da revisão dos anos anteriores, o documento também trouxe detalhes importante sobre o “presente”. A última página do relatório confirma a oferta de quase R$ 1 bilhão pela futura SAF do clube alvirrubro, que havia vazado na imprensa em setembro. Eis o trecho: “Em setembro de 2023, o Clube recebeu uma oferta por SAF (Sociedade Anônima de Futebol) que, dependendo dos êxitos nos próximos 10 anos, pode alcançar R$ 980 milhões pela compra de 90% das ações do Clube. Até o momento, não houve tratativas formais da proposta dos investidores para celebrar o acordo”.

A seguir, o histórico recente de receitas do Náutico. Sobre 2023, com o ano quase encerrado, o clube havia projetado R$ 18,4 milhões. O próximo balanço deve sair até 30 de abril de 2024.

Faturamento anual do Náutico

2017 (B): R$ 19.825.262
2018 (C): R$ 14.325.243 (-27%; -5 mi)
2019 (C): R$ 17.525.211 (+22%; +3 mi)
2020 (B): R$ 17.047.629 (-2%; -0,4 mi)
2021 (B): R$ 20.093.890 (+17%; +3 mi)
2022 (B): R$ 27.039.286 (+34%; +7 mi)
* Considerando a receita líquida

Resultado do exercício (superávit/déficit)

2017 (B): -41.040
2018 (C): -2.302.666
2019 (C): -1.722.733
2020 (B): -4.651.752
2021 (B): -4.852.790
2022 (B): -2.912.894
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual

Evolução do passivo acumulado do clube

2017 (B): R$ 165.936.253
2018 (C): R$ 154.519.748 (-6%; -11 mi)
2019 (C): R$ 155.868.532 (+0,8%; +1 mi)
2020 (B): R$ 244.532.429 (+56%; +88 mi)
2021 (B): R$ 249.466.699 (+2%; +5 mi)
2022 (B): R$ 252.231.450 (+1%; +2 mi)
* A soma das pendências de curto prazo (circulante) e longo prazo (não circulante)

Abaixo, um comparativo com quatro frentes importantes na composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos três balanços do Náutico – e as respectivas séries no BR.

Direitos de transmissão na TV

2020 (B): não informado
2021 (B): R$ 6,44 milhões
2022 (B): R$ 11,10 milhões (+72%; +4 mi)
* Somando cotas e premiações oficiais

Quadro de sócios-torcedores

2020 (B): R$ 3,71 milhões
2021 (B): R$ 3,48 milhões (-6%; -0,2 mi)
2022 (B): R$ 3,96 milhões (+13%; +0,5 mi)

Renda nos jogos

2020 (B): não informado
2021 (B): R$ 332 mil
2022 (B): R$ 2,06 milhões (+520%; +1,7 mi)

Patrocínio/Marketing

2020 (B): R$ 705 mil
2021 (B): R$ 2,16 milhões (+206%; +1,4 mi)
2022 (B): R$ 3,52 milhões (+62%; +1,3 mi)

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