A reprodução do balanço publicado pelo Bahia SAF no jornal Tribuna da Bahia, em 20 de abril.
O Bahia SAF foi criado em 27 de fevereiro de 2023. Na ocasião, a Sociedade Anônima do Futebol surgiu com um capital de R$ 1. Sim, um real. Pouco depois, em 1º maio, houve o “drop-down”, que seria, a grosso modo, a transferência de ativos das duas partes envolvidas na constituição da nova empresa. No caso, o Esporte Clube Bahia, a versão tradicional do clube e agora conhecido como “associação”, transferiu R$ 26,7 milhões para ficar com 10% das ações, faltando repassar ainda R$ 1,5 mi. Já o Grupo City aportou R$ 190 milhões para obter 90%, faltando ainda mais R$ 131 mi. Ou seja, o capital da SAF já passou de R$ 1 para R$ 216,7 milhões. O restante precisa ser integralizado em no máximo três anos. Quando ocorrer, o valor total do capital social do Bahia SAF será de R$ 349,5 milhões.
Essa introdução foi necessária para entender a lógica sobre a nova estrutura financeira do Bahia. Na prática, o clube passa a ter dois demonstrativos por ano. Um da “associação”, com atividade quase remota, e outro da “SAF”, com o comando do futebol (masculino e feminino, profissional e amador) sob o controle do acionista majoritário, o Grupo City. Nesta versão principal, o primeiro documento, publicado num jornal baiano, traz os detalhes expostos no primeiro parágrafo. Por sinal, os valores do relatório são posteriores ao depósito inicial de R$ 190 milhões, utilizado para o pagamento de dívidas e outros custos. Tanto que o clube gastou R$ 100 milhões em reforços na última temporada, permanecendo na Série A.
Soma dos Bahias gera receita recorde
Em seu ano de estreia, a SAF gerou uma receita bruta de R$ 176.541.000. Esse número não considera o repasse do grupo controlador, cujo contrato prevê um investimento mínimo de R$ 1 bilhão em 15 anos. Dito isso, a principal fonte de receita em 2023 foi pelos direitos de transmissão das competições, com R$ 76,5 milhões, ou 43% do total. Já o Bahia associação teve uma receita de R$ 63.201.000, com a verba da televisão sendo de R$ 12,1 milhões, ou 19% do total. Na associação, a principal fonte foi, na verdade, a soma de patrocínio, publicidade, marketing e doações, com R$ 25,4 milhões. Isso correspondeu a 40%. Por isso, trago os dois dados separados, para só depois apresentar o somatório geral – na minha visão, sobretudo neste ano, é mais adequado para o comparativo com os anos anteriores.
Portanto, a receita total dos “Bahias” foi de R$ 239 milhões, sendo a maior da história tricolor em termos nominais. Além das principais receitas tanto da SAF quanto da associação, há o resultado do balanço. O saldo final é feito pela subtração da receita líquida (que é a receita total após a dedução dos impostos) pela despesa operacional e pelo resultado financeiro – este “resultado financeiro”, com aplicações e juros, pode ser positivo ou negativo, mas os dois casos deste ano foram negativos. Assim, o Bahia registrou um saldo final negativo nos balanços, com R$ 66 milhões na SAF e R$ 65 milhões na associação. A junção desses déficits dá -131 milhões, que é o número na tabela final do post. Contudo, o clube apontou esse prejuízo inicial como dentro do esperado na reorganização de uma instituição de 92 anos.
Dívida antiga quase quitada pela SAF
Em relação à dívida do clube, contraída pelo Esporte Clube Bahia, a SAF já quitou 79%. Em 30 de janeiro deste ano, uma reunião do Conselho Deliberativo apresentou o resultado, com o pagamento de R$ 258 milhões, zerando as dívidas trabalhistas. Hoje, a dívida total é de cerca de R$ 50 milhões, completamente “pagável” dentro da nova realidade. No balanço anterior, pré-SAF, o passivo, com a soma de todas as pendências do clube, era de R$ 296 milhões.
Receita total do Bahia SAF: R$ 176,54 milhões
1º) R$ 76,53 milhões (43,3%) – Direitos de transmissão na TV
2º) R$ 49,19 milhões (27,8%) – Sócios e bilheteria
3º) R$ 31,11 milhões (17,6%) – Patrocínio e marketing
4º) R$ 9,22 milhões (5,2%) – Filiais
5º) R$ 5,62 milhões (3,1%) – Venda de direitos econômicos de atletas
6º) R$ 4,83 milhões (2,7%) – Outras receitas
Receita líquida: R$ 158.362.000
Despesa operacional : R$ 222.278.000
Resultado financeiro: R$ 2.113.000 (negativo)
Saldo final em 2023: -66,02 milhões (déficit)
Receita total do Bahia associação: R$ 63,20 milhões
1º) R$ 25,42 milhões (40,2%) – Patrocínio e marketing
2º) R$ 19,57 milhões (30,9%) – Sócios e bilheteria
3º) R$ 12,10 milhões (19,1%) – Direitos de transmissão na TV
4º) R$ 3,17 milhões (5,0%) – Filiais
5º) R$ 2,91 milhões (4,6%) – Outras receitas
Receita líquida: R$ 58.996.000
Despesa operacional: R$ 111.620.000
Resultado financeiro: R$ 12.499.000 (negativo)
Saldo final em 2023: -65,12 milhões (déficit)
A seguir, confira o histórico recente de receitas do Bahia. Em 2023, o valor tabulado no blog soma os resultados do Bahia SAF e do Bahia associação de 1º de janeiro a 31 de dezembro.
Receita total do Bahia
2018 (Série A): R$ 136.107.000
2019 (Série A): R$ 189.485.000 (+39%; +53 mi)
2020 (Série A): R$ 130.619.000 (-31%; -58 mi)
2021 (Série A): R$ 208.649.000 (+59%; +78 mi)
2022 (Série B): R$ 108.346.000 (-48%; -100 mi)
2023 (Série A): R$ 239.742.000 (+121%; +131 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2018 (Série A): +4.481.000
2019 (Série A): +3.881.000
2020 (Série A): -50.641.000
2021 (Série A): +27.751.000
2022 (Série B): -77.758.000
2023 (Série A): -131.152.000
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual
A seguir, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos quatro demonstrativos contábeis do Bahia. Em 2023, reforçando, o valor considera a soma do Bahia SAF e do Bahia associação.
Direitos de transmissão na TV
2020 (Série A): R$ 46,59 milhões
2021 (Série A): R$ 90,65 milhões (+94%; +44 mi)
2022 (Série B): R$ 18,28 milhões (-79%; -72 mi)
2023 (Série A): R$ 88,63 milhões (+384%; 70 mi)
Quadro de sócios-torcedores e bilheteria
2020 (Série A): R$ 34,34 milhões
2021 (Série A): R$ 22,89 milhões (-33%; -11 mi)
2022 (Série B): R$ 36,74 milhões (+60%; +13 mi)
2023 (Série A): R$ 68,76 milhões (+87%; +32 mi)
Negociação de atletas
2020 (Série A): R$ 21,71 milhões
2021 (Série A): R$ 35,44 milhões (+63%; +13 mi)
2022 (Série B): R$ 21,41 milhões (-39%; -14 mi)
2023 (Série A): R$ 5,99 milhões (-72%; -15 mi)
Patrocínio e Marketing
2020 (Série A): R$ 10,18 milhões
2021 (Série A): R$ 18,24 milhões (+79%; +8 mi)
2022 (Série B): R$ 18,14 milhões (-0,5%; -0,1 mi)
2023 (Série A): R$ 56,53 milhões (+211%; +38 mi)
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