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A entrevista de Mario Celso Petraglia, o presidente do conselho do Atlético-PR, à Rádio Transamérica de Curitiba, em 07/11, cravando o ano de “2019” como o último com campeonatos estaduais exibidos na Globo trouxe à tona um movimento silencioso de ampla mudança no calendário brasileiro. O objetivo é aumentar o período do Campeonato Brasileiro, o principal produto do futebol nacional na visão do canal. Um entrave imediato na fala foi o tempo de alguns contratos já assinados – entre clubes, federações e emissora.

À parte do Paulistão, com um orçamento gigantesco e inserido no principal mercado, os demais estariam “ameaçados”. Entretanto, ao menos quatro competições estaduais têm acordos firmados entre 2021 e 2024, sendo o último o Estadual do Rio de Janeiro. Há mecanismos para uma rescisão antecipada? Sem dúvida, mas não de forma gratuita – em alguns casos. Vamos ao exemplo pernambucano, cuja renovação foi divulgada neste ano, por mais quatro edições. Em 16 de janeiro, durante o lançamento da competição que seria vencida pelo Náutico, questionei o diretor-geral da Globo Nordeste, Iuri Leite, sobre o novo contrato. A resposta dele foi clara.

“Está assinado o contrato, por mais quatro anos. Nos mesmos moldes”

Sobre os tais moldes, o contrato engloba as cinco plataformas possíveis, com tevê aberta, tevê fechada, pay-per-view, sinal internacional e internet. Na ocasião, o bastidor do contrato indicava o Sport como única pendência, uma vez que Santa e Náutico chegaram a um acordo com a emissora ainda em 2017, assim como os clubes do interior, através da FPF. Além da cota-base de R$ 1 milhão para cada grande clube, com aumento anual via Índice Geral de Preços do Mercado (IGP-M) sobre o valor 01/2018, cada um recebeu R$ 1 milhão de luvas. Ou seja, 5 milhões de reais por todo o contrato. Considerando 2020 como o início da era sem transmissão local, algo que não ocorre desde 1998, seriam três edições no pacote da rescisão, com valor integral. Em tese, então, R$ 3 milhões para cada um pelo distrato.

Na minha apuração, o motivo principal para a postura da Globo seria o pay-per-view. Ganhando cada vez mais importância no Brasileiro, até mesmo pela restrição de exibições na tevê aberta e na tevê fechada, o PPV sofre um duro golpe nos primeiros meses do ano (janeiro a abril), justamente o recorte dos estaduais. É comum o cancelamento de assinaturas no período, devido à falta de interesse no PPV de competições regionais, com o pacote sendo retomado pelos clientes no início do Brasileirão. Com a ampliação do calendário das Séries A e B, com os 760 jogos transmitidos (e com mais rodadas nos fins de semana), o assinante acabaria renovando o PPV por um período maior – assim entende a cúpula da Globo.

Em depoimentos publicados na Máquina do Esporte e na Carta Capital, o diretor de diretos esportivos da Globo, Fernando Manel Pinto, fala sobre a necessidade de mudança, devido ao “efeito colateral de distanciamento na atenção” (PPV?), mas também reconhece a existência de “jogos emblemáticos” nos estaduais. Neste ponto, cito os dados do Pernambucano 2018, que teve 16 jogos em sinal aberto. A audiência média foi de 27,4 pontos, com liderança disparada no horário. Além disso, cinco jogos passaram de 35 pontos, os tais “jogos emblemáticos”.

Será que a Globo Nordeste abriria mesmo mão do Clássico das Multidões, com projeção de 40 pontos? Daria de mão beijada para a concorrência? Difícil imaginar. Ainda que a competição seja remanejada (nada contra), um duelo entre rubro-negros e tricolores continuaria programado na tabela. Continuaria com a certeza de audiência local. Creio que seja assim com o Ba-Vi e o Clássico-Rei. Portanto, a tarefa parece ser a de melhorar os “jogos regulares”, a maior parte da tabela. De fato, o enxugamento parece ser necessário. A extinção, não – até mesmo por não enxergar a possibilidade de as federações concordarem, abrindo mão da receita (6% a 8% da renda bruta dos jogos) oriunda dos certames locais. Logo, com o campeonato no calendário, acho improvável a ausência da TV… Com ou sem Globo.

Os contratos de transmissão dos Estaduais em vigor (junto à Globo)*

Até 2024
Carioca – R$ 83,6 milhões (a soma das cotas de uma edição)

Até 2022
Pernambucano – R$ 4,0 mi

Até 2021
Paulista – R$ 109,3 mi
Mineiro – R$ 35,1 mi
Catarinense – R$ 5,0 mi

Até 2020
Baiano – R$ 2,6 mi

Até 2019
Paranaense – R$ 4,7 mi
Cearense – R$ 2,56 mi

* O último acordo do campeonato gaúcho foi válido por um ano (2018)

As cotas dos principais clubes nos Estaduais de 2019
R$ 17,0 milhões – Corinthians, Palmeiras, Santos e São Paulo
R$ 15,0 mi – Botafogo, Flamengo, Fluminense e Vasco
R$ 12,3 mi – Atlético-MG e Cruzeiro
R$ 5,0 mi – Ponte Preta
R$ 2,9 mi – América-MG
R$ 1,0 mi – Náutico, Santa Cruz e Sport
R$ 850 mil – Bahia e Vitória
R$ 800 mil – Ceará e Fortaleza
R$ 650 mil – Avaí, Chapecoense, Criciúma, Figueirense e Joinville
R$ 600 mil – Coritiba e Paraná

Confira os dados de audiência do Campeonato Pernambucano clicando aqui.


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