A foto após a assinatura oficial da nova SAF do Brasil. Foto: Santa Cruz/divulgação.
O Santa Cruz assinou a proposta vinculante junto a um grupo de empresários de Minas Gerais e irá constituir a primeira Sociedade Anônima do Futebol do Trio de Ferro. Esse grupo de investidores passa a formar o consórcio “Cobra Coral Participações S/A”, que irá gerir o futebol do clube. Após um ano no comando executivo do Tricolor, num período marcado com conversas com vários interessados, hiato esportivo e muita ansiedade da torcida, o presidente Bruno Rodrigues finalmente deu prosseguimento ao projeto da SAF.
A venda contemplou 90% das ações da futura empresa, com o clube “associação” mantendo 10%, como preza a lei federal 14.193, a “Lei da SAF”. Este dia 13 de janeiro de 2025 já está mesmo marcado no Arruda. O anúncio oficial do Santa Cruz foi precedido em alguns minutos pela seguinte mensagem nas redes sociais do clube: “reconstrução, resiliência e futuro”. A frase é bastante simbólica observando a duríssima provação dos últimos tempos.
Sirene avisou o povo sobre a mudança
Depois da divulgação da assinatura, salva de fogos de artifício e sirene ligada na sede por mais de meia hora, como nas grandes vitórias no gramado. O acordo prevê um investimento de R$ 1 bilhão durante quinze anos. Na média fria, isso daria R$ 66,6 milhões a cada ano. Obviamente, a divisão não será assim, pois um percentual considerável do recurso será logo destinado à necessária reestruturação do Santa. Para quitar o passivo de R$ 305 milhões (que deve diminuir após a conclusão da Recuperação Judicial), para reformar o estádio do Arruda, para construir um novo CT (com alguns terrenos já em avaliação) e, claro, para dar qualidade técnica ao time de futebol profissional, que hoje está na 4ª divisão nacional.
Considerando os sete clubes mais tradicionais do Nordeste, o Santa Cruz é apenas o segundo a firmar uma SAF com investimento externo. O primeiro foi o Bahia, através do Grupo City, com mínimo garantido de R$ 1,5 bilhão pelo mesmo tempo. Os dois investidores à frente deste novo negócio na região são Vinícius Diniz e Márcio Cadar, que desembarcaram no Aeroporto Internacional dos Guararapes no fim da manhã. Nos bastidores, o acerto já era tido como certo, com a reunião à tarde definindo os últimos detalhes. Ao anoitecer, a direção coral sacramentou o acordo e foi produzida uma foto oficial envolvendo todas as partes.
Empresários mineiros à frente do Santa Cruz
Focado no futebol, Vinícius Diniz liderou a SAF do Athletic de Minas Gerais, onde levou o modesto time de São João del Rei da Série D para a Série B em apenas dois anos. O empresário, sócio fundador de uma empresa de mineração, vendeu a sua parte no clube mineiro em agosto do ano passado, passando a se interessar por outro perfil de clube. No caso, um time de massa. E a torcida do Santa Cruz é, sem dúvida alguma, o maior ativo envolvido nesta negociação. Já Cadar deve ser o responsável pela parte financeira do “Santa Cruz SAF”, incluindo a organização de um fundo de investimentos para a captação de receitas. Abaixo, as primeiras palavras dos novos gestores do clube pernambucano.
Pronunciamento oficial dos investidores da saf: Vinícius Diniz e Márcio Cadar pic.twitter.com/VTsJpuKFY8
— Santa Cruz F.C. (@SantaCruzFC) January 14, 2025
Com a proposta vinculante assinada, qual é o próximo passo? Num comunicado oficial de uma página, o clube deu mais alguns detalhes sobre a conversão – leia a íntegra abaixo. A implantação ainda pode demorar alguns meses, devido ao andamento da Recuperação Judicial, vital para saber a dívida real, e aos trâmites burocráticos. Oficialmente, o estatuto tricolor dá ao Executivo o poder total de escolha e implementação da SAF, após a mudança do texto em maio de 2022, votada numa Assembleia Geral Extraordinária. Porém, Bruno Rodrigues deve submeter essa proposta ao Conselho Deliberativo, até mesmo para dividir a responsabilidade do ato. Me parece uma decisão inteligente, até pelo risco irrisório de veto.
O contraste com o histórico de receitas do Tricolor
A seguir, confira a receita total do Santa Cruz nas últimas 14 temporadas, o período à disposição na web. Este recorte tem seis anos na Série C, quatro na Série D, três na Série B e apenas um na Série A. Além do valor nominal de cada ano, trago a correção monetária dos valores através da calculadora do Banco Central, com a utilização do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA). No período, o Santa teve R$ 226,6 milhões. Considerando os valores corrigidos, o faturamento foi de R$ 349,2 milhões. Vamos focar neste cenário.
Então, o pico do clube foi no Brasileirão de 2016, com R$ 54 milhões. Ainda assim, abaixo de quase todos os concorrentes naquele campeonato, que marcou a última presença coral na elite. Já a média de receita de 2010 a 2023 foi de R$ 24,9 milhões. Agora, o número mínimo de receita deve superar em R$ 41,7 milhões anuais. Ou seja, o clube do Arruda realmente entrará numa nova realidade econômica. Cruzando com o “know-how” no futebol adquirido por Diniz em seu trabalho anterior, o uso deste dinheiro poderá ser ainda mais otimizado.
2010 (Série D): R$ 6,1 milhões (R$ 13,6 mi)
2011 (Série D): R$ 17,1 milhões (R$ 36,0 mi)
2012 (Série C): R$ 13,1 milhões (R$ 26,0 mi)
2013 (Série C): R$ 16,9 milhões (R$ 31,8 mi)
2014 (Série B): R$ 16,5 milhões (R$ 29,0 mi)
2015 (Série B): R$ 15,1 milhões (R$ 24,1 mi)
2016 (Série A): R$ 36,8 milhões (R$ 54,9 mi)
2017 (Série B): R$ 17,9 milhões (R$ 26,0 mi)
2018 (Série C): R$ 12,4 milhões (R$ 17,2 mi)
2019 (Série C): R$ 21,5 milhões (R$ 29,1 mi)
2020 (Série C): R$ 13,7 milhões (R$ 17,7 mi)
2021 (Série C): R$ 14,0 milhões (R$ 16,4 mi)
2022 (Série D): R$ 12,2 milhões (R$ 13,4 mi)
2023 (Série D): R$ 13,3 milhões (R$ 14,0 mi)
* O balanço com a receita coral de 2024 pode ser divulgado até 30 de abril
Nota oficial do Santa sobre a assinatura da SAF:
O Santa Cruz Futebol Clube anuncia a assinatura da oferta vinculante para a venda de 90% da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) da instituição para a Cobra Coral Participações S/A, que é gerida pelos empresários Marcio Cadar, sócio da REAG Investimentos, uma das maiores gestoras independentes do Brasil com mais de R$ 280 bilhões sob gestão, Vinicius Diniz, ex-gestor da Futbraz, empresa com vasta experiência em gestão profissional no futebol brasileiro, bem como por outros empresários atuantes no mercado financeiro. O valor envolvido na operação é de R$ 1 bilhão.
O clube aguarda a finalização da due diligence e dos trâmites burocráticos, como ajustes no plano de Recuperação Judicial e aprovação pela assembleia geral dos credores, para que a transição seja concluída e a gestão da SAF seja concretizada. O investimento prevê a modernização do Estádio José do Rego Maciel (Arruda), do Centro de Treinamento e da estrutura das categorias de base do clube, além de pavimentar o caminho para que o clube retome, de forma gradual, às principais divisões do Campeonato Brasileiro.
Entendemos que a saída do modelo associativo é a melhor solução para que o Santa Cruz consiga reescrever a sua história, de maneira saudável, responsável e pautada no profissionalismo. Temos uma torcida apaixonada, com mais de 4 milhões de torcedores em todo o país. Através da SAF, o Santa Cruz poderá reorganizar os débitos vigentes, o que permitirá a captação de novas receitas, montante que será investido em melhorias estruturais e no fortalecimento do clube.
Para a torcida tricolor, queremos que esta data seja marcada pela retomada da esperança por um futuro melhor, em que a instituição voltará a ocupar o seu lugar de destaque no cenário esportivo nordestino e brasileiro. Contamos com a força da torcida para atingir os nossos objetivos dentro de campo, que serão fundamentais para o trabalho que está por vir.
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