A festa do time do Afogados após o triunfo milionário. Foto: Romário Silva/Afogados.
A 386 quilômetros da capital, Afogados da Ingazeira tem apenas 37.259 habitantes. Lá, no acanhado estádio Vianão, o Afogados multiplicou essa gente. Teve, possivelmente, a maior torcida da história de um clube pernambucano, com 9.557.071 torcedores durante 90 minutos e mais alguns numa tensa disputa de pênaltis.
Até porque seria difícil não abraçar a história de superação da equipe sertaneja, numa noite com transmissão da Rede Globo para todo o estado, algo raríssimo para o futebol do interior. Quem parou diante da tevê assistiu a uma das maiores zebras do futebol brasileiro nos últimos tempos. E, francamente, é bom demais estar no papel da zebra neste caso, um capítulo à parte desde já na história da Copa do Brasil.
Estreante na competição, a coruja eliminou o Atlético Mineiro, campeão em 2014 e cuja projeção orçamentária para este ano chega a R$ 388 milhões – mais do que a soma de todos os clubes profissionais de Pernambuco, e com folga. Com uma folha de R$ 98 mil, irrisória perto do Galo, o time de Pedro Manta fez valer o seu mando. Não com campo esburacado e clima hostil. Nada disso. O “fator casa”, com um gramado decente, existiu pela energia da torcida, presente para buscar algo impensável até poucos dias e, agora, inesquecível.
O jogo parelho
O 1T em branco já foi um sinal de que havia um ar de surpresa. O Galo não conseguia dominar. Não conseguia atacar com segurança, sem evitar contragolpes. Havia tensão, devidamente elevada no 2T, com os quatro gols da noite. Candinho (16) e Philip (27) marcaram para a coruja, que ficou duas vezes em vantagem, e Gabriel (20) e Ricardo Oliveira (33) fizeram para o visitante, que foi buscar o empate. A atuação do time do Pajeú foi digna demais, até porque atuou durante 28 minutos com um a menos, após a expulsão infantil do zagueiro Márcio, numa falta no ataque. A garra da equipe, no maior jogo de sua ainda curta história, levou a disputa para os pênaltis.
A virada nos pênaltis
Pois é. Foi exatamente o que aconteceu. O time de Minas Gerais chegou a abrir 2 x 0, depois que o artilheiro Diego Ceará e o volante Douglas Bomba isolaram, com o psicológico do time pesando. Era preciso ter frieza, pepel do goleiro Wallef, que já havia feito isso nas quartas de final do Estadual de 2019, no Arruda. Desta vez, espalmou duas cobranças em sequência, de Allan e Nathan, retomando a disputa. Depois, cobranças certeiras e quatro séries alternadas, nas quais o goleiro do Galo, Michael, apesar do caqueado, não foi eficiente. Já Wallef vinha pressionando os atleticanos, até Gabriel bater para fora e deixar nos pés de Heverton o chute de R$ 1,5 milhão. Não pesou. A torcida pelo gol foi gigantesca, a maior já vista em Pernambuco, 7 x 6. Parabéns, Afogados! Representou…
Cotas do Afogados na Copa do Brasil de 2020*
1ª fase – R$ 540 mil (vs Atlético-AC, 3 x 0)
2ª fase – R$ 650 mil (vs Atlético-MG, 2 x 2 e depois 7 x 6 nos pênaltis)
3ª fase – R$ 1,5 milhão (vs Ponte Preta-SP ou Vila Nova-GO)
4ª fase – R$ 2,0 milhões?
* Com a participação em três fases, o Afogados já soma R$ 2,69 milhões em cotas nesta edição. Com o segundo repasse, a direção já projetava a quitação das dívidas e a compra de um terreno na região. Com a terceira, então, pode começar a sonhar com a construção do centro de treinamento.
A análise do Podcast 45 Minutos (Cassio Zirpoli, Diego Borges, João de Andrade e Lucas Liausu):
Abaixo, o 18º pênalti da noite. Heverton mandou para as redes. Imagem: Globo/reprodução.