A eliminação do Santa Cruz na Série C foi categórica. O tricolor foi goleado em Ponta Grossa, com o Operário revertendo o placar do Arruda e obtendo o acesso à segundona de 2019.
Assim, o clube pernambucano encerrou as suas atividades oficiais, em relação ao futebol, ainda em agosto – num golpe duríssimo para uma instituição já carente de recursos. Neste contexto caótico, é preciso juntar os cacos e avaliar os erros da temporada e as primeira correções necessárias. Não se trata apenas de reformular o elenco – algo óbvio, devido à limitação vista desde janeiro. Abaixo, tento pontuar alguns cenários no Santa. Confira e deixe o seu comentário…
Os maiores erros
1) Em termos de orçamento, a eliminação na 1ª fase da Copa do Brasil foi, provavelmente, o maior baque do clube na temporada. O revés aconteceu ainda janeiro, no dia 31, com a derrota por 2 x 0 para o Fluminense de Feira de Santana. Ali, o tricolor perdeu a cota da 2ª fase, que seria de R$ 600 mil, e a chance de disputar um clássico contra o Náutico, em jogo único no Arruda, valendo a cota da 3ª fase, de R$ 1,4 milhão. A “conta” chegou nos meses seguintes (e decisivos)…
2) A falta de dinheiro resultou na montagem de um elenco enxuto, de R$ 250 mil mensais – menos da metade da folha durante a Série B de 2017. A limitação técnica foi colocada à prova inclusive diante de adversários intermediários – em relação ao “equilíbrio”, basta dizer que foram 7 empates em 10 rodadas. Nas quartas, acabou eliminado pelo Sport por 3 x 0.
3) Parte do problema também pode ser atribuído ao estilo de Júnior Rocha. Nada contra à ideia de jogo do treinador, com posse de bola, saída com muitos toques e paciência para encontrar espaços. Contudo, com o time montado neste primeiro ano da gestão de Constantino Júnior, a proposta não fez sentido, passando longe da execução. Rocha trocou o Santa pelo CRB após a estreia na C
4) O distanciamento da torcida. O público no jogo de ida das quartas da terceirona, de 49.476, foi o maior do ano no futebol local, mas passou uma falsa impressão sobre o acompanhamento da torcida coral. Sem cota de televisão, o clube precisava de uma resposta massiva da torcida, tanto no quadro de sócios quanto no borderô – não é culpa da torcida, mas, neste ano, a maior fonte de receita regular seria ela. Em relação aos adimplentes, menos de 5 mil. Sobre a bilheteria, o mata-mata registrou R$ 732 mil, o que correspondeu a 43% do apurado nos 18 jogos como mandante. No ano, a renda bruta foi de R$ 1.678.545, já abaixo de 2017, também ruim (R$ 2,24 mi).
5) O projeto “Camisa 12” foi algo que efetivamente funcionou, com uma meta de R$ 280 mil para bancar um reforço acima da média no Brasileiro. De fato, o clube conseguiu repatriar o meia Carlinhos Paraíba. Entretanto, o jogador acabou convivendo com lesões e, no time, não foi a liderança técnica que se esperava, mantendo a equipe coral num rendimento aquém durante toda a competição – se nivelando com clubes bem menores. A contrapartida técnica foi baixa.
Observações sobre a próxima temporada…
1) A Copa do Brasil. A confirmação do favoritismo teórico nas duas primeiras fases pode fomentar o ano – no mínimo, é preciso avançar na estreia, quando terá o empate a favor. Foi através deste torneio que o rival alvirrubro manteve os salários em dia e teve condições de trazer reforços de mercado acima da Série C – como Ortigoza, mantido até o fim do Brasileiro. Desconsiderando o provável aumento nas cotas, o Santa precisa captar de R$ 1,1 mi (2 fases) a R$ 2,5 mi (3 fases). Esse desafio é o primeiro em 2019, entre a 2ª quinzena de janeiro e a 1ª quinzena de fevereiro.
2) A definição sobre o perfil do técnico. As diferenças nos trabalhos de Júnior Rocha (posse), PC Gusmão (4-4-2) e Roberto Fernandes (contra-ataque) expõem a indecisão sobre o tipo de jogo que o Santa busca. E essa escolha precisa ser feita a partir dos torneios que o clube participará, com fases eliminatórias importantes – curiosamente, foi eliminado nas quatro que disputou em 2018.
3) Tratar o Campeonato Pernambucano como laboratório. Com 5 títulos na década, já com o status de maior vencedor da competição de 2011 a 2020, o tricolor não pode gastar as “fichas” antes da Série C. À parte da rivalidade, não há classificações em jogo (Copa do Brasil e Nordestão devem vir através do ranking da CBF), com o foco financeiro voltado para o cenário a partir de abril.
4) Caso não registre uma grande venda de direitos econômicos (Raniel, via Cruzeiro?) ou não apareça um patrocinador-master forte, o clube terá, outra vez, a força da catraca como essencial para o faturamento anual. Não há fórmula para esta reaproximação, mas ela precisa ocorrer…
5) A abertura do centro de treinamento. O Ninho das Cobras foi aguardado durante todo o ano, mas nem o 1º campo foi entregue. Embora tenha treinado em Aldeia, para poupar o Arruda, o clube precisa do seu próprio espaço, para que o gramado do estádio ofereça condições melhores a um time mais bem treinado – e, consequentemente, mais poderoso como mandante.
O desempenho do Santa Cruz em 2018
40 jogos (44 GP, 39 GC, +5 SG)
13 vitórias (32,5%)
17 empates (42,5%)
10 derrotas (25,0%)
46,6% de aproveitamento
Estadual (11 jogos; 2V, 7E e 2D) – Quartas de final (6º)
Nordestão (8 jogos; 3V, 3E e 2D) – Quartas de final (7º)
Copa do Brasil (1 jogo; 1D) – 1ª fase (84º)
Série C (20 jogos; 8V, 7E e 5D) – Quartas de final (7º)
A análise do Podcast 45 Minutos sobre as consequências da eliminação tricolor na Série C