O gráfico com a evolução das receitas e das despesas do Baêa nos últimos 6 anos.
A temporada de 2024 foi a primeira com o “Bahia SAF” gerindo o clube de 1º de janeiro a 31 de dezembro. No balanço anterior, referente a 2023, a SAF só começou a operar no fim de fevereiro, o que distorceu um pouco a análise. Agora é possível ver, de fato, a pujança dos recursos obtidos junto ao Grupo City, detentor de 90% das ações da Sociedade Anônima do Futebol do tricolor baiano. Num período marcado pela classificação à Copa Libertadores da América, após quase quatro décadas ausente, o Bahia SAF gastou R$ 523,2 milhões, somando custos operacionais e investimentos em reforços e estrutura. No ano anterior, somando o Bahia SAF e o Bahia Associação, que detém os outros 10% da sociedade, a despesa total havia sido de R$ 317,0 milhões. Logo, a alta foi de R$ 206,2 mi (ou +65%).
Saldo negativo de quase R$ 250 milhões
Somando as receitas recorrentes da SAF, como mensalidades de sócios, bilheteria dos jogos na Fonte Nova, patrocínios e direitos de transmissão, além de receitas extras, como a venda de jogadores, o clube ainda não tem um faturamento que equilibre essa balança. Deduzindo os impostos, a receita líquida do Bahia SAF foi de R$ 273,3 milhões, um número que já seria um recorde histórico, mas que levou a um saldo negativo de -246 milhões. Para chegar a este déficit, também foi considerado o “resultado financeiro”, cujo dado foi até positivo, com R$ 3,3 milhões em aplicações. Apesar deste resultado final, a gestão internacional do Bahia não vê preocupação. Eis um trecho do demonstrativo contábil publicado no site oficial:
“O Bahia investiu mais em 2024, com destaque para folha salarial da equipe principal, comissão técnica e contratação de jogadores. A estratégia é centrada em impulsionar o desempenho esportivo do clube, através de uma equipe de alto rendimento, visando alcançar resultados de destaque tanto em competições nacionais quanto internacionais. Exemplo foi a classificação para a Libertadores de 2025.”
Aumento do investimento no futebol tricolor
Falando em salários, a folha do Bahia SAF teve um aumento de 70%. Ao todo, as despesas com salários, encargos e benefícios do departamento de futebol, somando profissional, base e feminino, chegaram a R$ 293,7 milhões. Isso representa 56% de todos os custos na temporada. O clube também investiu R$ 97,3 milhões em direitos econômicos de atletas, o que dá 18% do total. As principais aquisições no ano foram Luciano Rodríguez, Jean Lucas e Caio Alexandre, embora o relatório não detalhe os valores individuais.
Já o gasto com logística e viagens também subiu, de R$ 31,8 mi para R$ 54,5 mi. Esse item envolve, por exemplo, voos fretados para o time principal. Somando os três tópicos (salários, reforços e operação), o Bahia SAF gastou R$ 445 milhões em 2024. Considerando todos os balanços que já abordei no blog, esse é o maior custo anual já registrado por um clube do Nordeste. Embora também esteja subindo, a geração de receita do Bahia vem num ritmo menor – algo esperado para este início de trabalho da SAF. Considerando a receita bruta, com a devida correção pela inflação, o clube faturou R$ 118 mi em 2022, quando esteve na Série B, R$ 236 mi em 2023 e R$ 298 mi em 2024. Agora, a alta foi de R$ 62 milhões (ou +26%). Sem surpresa, os direitos de transmissão puxaram a fila das receitas.
Ao todo, o Bahia recebeu R$ 112 milhões da televisão, sendo R$ 90,4 mi pela Série A (ficou em 8º lugar), R$ 13,4 mi pela Copa do Brasil (quartas de final), R$ 4,4 mi pela Copa do Nordeste (semifinal) e R$ 1,2 mi pelo Baiano (vice). Ao contrário da maioria dos clubes, essa SAF não separa as receitas de bilheteria e quadro de sócios. Portanto, observando a soma das duas, o tricolor faturou R$ 14 milhões a mais no último ano. Chegou a R$ 83 milhões, o seu maior apurado com o “Sócio Esquadrão”. Já o faturamento com patrocínios teve um acréscimo de R$ 3 milhões, chegando a R$ 59 milhões. Foi tímido, mas com a ressalva de que o clube firmou dois acordos importantes somente no início de 2025, tendo um novo patrocinador master (Viva Sorte Bet) e uma nova fornecedora de uniformes (Puma).
A soma dos Bahias e o passivo bilionário
Ainda que o Bahia SAF administre todo o futebol, o “Esporte Clube Bahia” segue em operação, mas com números reduzidos. Sobretudo em 2024, quando não teve qualquer influência no comando do futebol. Não por acaso, a receita da associação caiu de R$ 58,9 milhões para apenas R$ 10,0 milhões – e olhe que quase metade veio do reembolso de parcelas previdenciárias. Sendo assim, a receita do total dos “dois Bahias” foi de R$ 308,3 milhões, sendo 96,7% via SAF e 3,2% via associação. A partir de agora, creio que a análise do time de Salvador passe a ser focada apenas na gestão da SAF.
Por fim, vale abordar o passivo do clube. Somando todas as pendências, entre obrigações contratuais e dívidas de fato, o volume da SAF subiu de R$ 559 milhões para R$ 1,414 bilhão, sendo R$ 570 milhões captados junto ao City Football Group Brazil. O número assusta realmente, mas nem tudo é “dívida”, como alerta o relatório. Neste caso, o endividamento real caiu de R$ 321 milhões em 2022 para R$ 133 milhões em 2023, no início da SAF, e para R$ 128 milhões agora em 2024. A “dívida líquida” atual representa 9% do passivo, que soma, por exemplo, o novo contrato do Brasileirão junto à Rede Globo, válido de 2025 a 2029. Por uma regra contábil, os R$ 290 milhões deste acordo entraram em “receitas a apropriar”, no passivo. Nos próximos anos esse dinheiro será contabilizado como receita de fato.
Receita total do Bahia SAF: R$ 298,27 milhões
1º) R$ 112,78 milhões (37,8%): Direitos de transmissão na TV
2º) R$ 83,18 milhões (27,8%): Sócios e bilheteria
3º) R$ 57,09 milhões (19,1%): Patrocínio e marketing
4º) R$ 35,69 milhões (11,9%): Venda de direitos econômicos de atletas
5º) R$ 6,98 milhões (2,3%): Filiais
6º) R$ 2,53 milhões (0,8%): Outras receitas
Receita líquida: R$ 273.347.000
Despesa operacional: R$ 523.232.000
Resultado financeiro: R$ 3.340.000 (positivo)
Saldo final em 2024: -246,54 milhões (déficit)
Receita total do Bahia associação: R$ 10,06 milhões
1º) R$ 4,53 milhões (45,0%): Reembolso previdenciário
2º) R$ 2,74 milhões (27,2%): Patrocínio e marketing
3º) R$ 2,48 milhões (24,6%): Sócios e bilheteria
4º) R$ 306 mil (3,0%): Outras receitas
Receita líquida: R$ 10.065.000
Despesa operacional: R$ 23.056.000
Resultado financeiro: R$ 1.570.000 (negativo)
Saldo final em 2024: -14,56 milhões (déficit)
A seguir, confira o histórico recente de receitas do Bahia, com os valores nominais de cada ano. Em 2023 e 2024, os valores tabulados no blog somaram os resultados do Bahia SAF e do Bahia associação de 1º de janeiro a 31 de dezembro. O último balanço foi o maior até hoje.
Receita total do Bahia
2019 (Série A): R$ 189.485.000
2020 (Série A): R$ 130.619.000 (-31%; -58 mi)
2021 (Série A): R$ 208.649.000 (+59%; +78 mi)
2022 (Série B): R$ 108.346.000 (-48%; -100 mi)
2023 (Série A): R$ 239.742.000 (+121%; +131 mi)
2024 (Série A): R$ 308.340.000 (+28%; +68 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2019 (Série A): +3.881.000
2020 (Série A): -50.641.000
2021 (Série A): +27.751.000
2022 (Série B): -77.758.000
2023 (Série A): -131.152.000
2024 (Série A): -261.106.000
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual
Agora veja um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos quatro demonstrativos contábeis do Bahia. Nos últimos dois, os valores consideram a soma do Bahia SAF e do Bahia associação.
Direitos de transmissão na TV
2021 (Série A): R$ 90,65 milhões
2022 (Série B): R$ 18,28 milhões (-79%; -72 mi)
2023 (Série A): R$ 88,63 milhões (+384%; 70 mi)
2024 (Série A): R$ 112,78 milhões (+27%; +24 mi)
Quadro de sócios-torcedores e bilheteria
2021 (Série A): R$ 22,89 milhões
2022 (Série B): R$ 36,74 milhões (+60%; +13 mi)
2023 (Série A): R$ 68,76 milhões (+87%; +32 mi)
2024 (Série A): R$ 83,18 milhões (+20%; +14 mi)
Negociação de atletas
2021 (Série A): R$ 35,44 milhões
2022 (Série B): R$ 21,41 milhões (-39%; -14 mi)
2023 (Série A): R$ 5,99 milhões (-72%; -15 mi)
2024 (Série A): R$ 35,69 milhões (+495%; +29 mi)
Patrocínio e Marketing
2021 (Série A): R$ 18,24 milhões
2022 (Série B): R$ 18,14 milhões (-0,5%; -0,1 mi)
2023 (Série A): R$ 56,53 milhões (+211%; +38 mi)
2024 (Série A): R$ 59,83 milhões (+5%; +3 mi)
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