O gráfico com a evolução das receitas e das dívidas do tricolor de Salvador nos últimos 6 anos.
Em 2022, o Bahia disputou a Série B com uma cota de “Série B” pela 1ª vez, considerando a era das supercotas da TV, em vigor há cerca de 15 anos. Antes, como membro fundador do extinto Clube dos 13, o tricolor recebia o valor integral mesmo na segunda divisão. Com o fim da “cláusula paraquedas”, o clube viu a sua receita de transmissão cair drasticamente após o rebaixamento em 2021. De R$ 90 milhões em cotas, apurou apenas R$ 18 milhões.
Em campo, o ano começou com a eliminação na 1ª fase do Baiano e do Nordestão, mas terminou alcançando o objetivo mais importante, com o retorno à elite nacional. O time ficou na 3ª colocação no Brasileiro e subiu junto a Cruzeiro, Grêmio e Vasco. Para se ter ideia da importância do dinheiro da televisão no Bahia, até então, as cotas representaram 43% da receita total em 2021. Em 2022, com o faturamento caindo basicamente pela metade, de R$ 208 milhões para R$ 108 milhões, este mesmo segmento só representou 16%.
Gasto excedeu o orçamento
Ou seja, o clube precisou se fortalecer em outras frentes. Com média de 31 mil torcedores na Fonte Nova, durante o BR, o Baêa aumentou em R$ 13 milhões a receita com sócios e bilheteria, virando o ano com 45 mil sócios adimplentes. Também manteve a estabilidade do quadro de patrocínios, na casa de R$ 18 milhões. Só que isso não foi suficiente, ainda mais porque as despesas dispararam. Segundo o orçamento do clube para 2022, a previsão de gasto operacional era de R$ 80 milhões, mas terminou em R$ 125 milhões.
Só com a folha de pessoal, o que inclui o elenco profissional, o salto foi de R$ 40 mi para R$ 65 mi, a partir de um time de futebol visivelmente mais caro, quase um “all in” para buscar o G4 na Série B. Além disto, para a criação da Sociedade Anônima do Futebol, o Bahia precisou resolver um litígio não previsto na temporada com a Liga Futebol S. A., sobre o “Bahia S/A”, criado em 1998. O acordo gerou R$ 35 milhões no passivo. O resultado disso tudo foi um saldo negativo de R$ 77 milhões entre receitas e despesas de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2022. Superou os 50 milhões negativos em 2020, no ápice da pandemia da Covid-19.
Aumento da dívida antes do City
Entretanto, perceba que escrevi há pouco a palavra “quase”. Afinal, no fim do ano saiu o acordo com o Grupo City, que adquiriu 90% da SAF constituída pelo Bahia. Como parte deste acordo, o investidor assume o passivo de 2022, já que deverá zerar todas as dívidas até então, fora o investimento no futebol, com mais de R$ 90 milhões em reforços em apenas 4 meses à frente de fato. E olhe que o endividamento do clube chegou perto de R$ 300 milhões. Ou seja, considerando a previsão de investimento de R$ 1 bilhão em até 15 anos na SAF, a associação sem fins lucrativos do Esporte Clube Bahia, o modelo pré-SAF, acabou achando um pote de ouro, porque a última contabilidade da velha guarda foi no limite…
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Abaixo, o histórico de receitas do Bahia num recorte de seis anos, com cinco seguidos na Série A e a passagem na Série B, com o acesso obtido na última rodada. Embora os valores de 2017 e 2022 sejam quase iguais, é preciso considerar a correção monetária. Segundo a calculadora online do Banco Central, os R$ 104 milhões de 2017 valeriam R$ 138 milhões em 2022.
Receita total do Bahia
2017 (A): R$ 104.897.000 (+29%; +24 mi)
2018 (A): R$ 136.107.000 (+29%; +31 mi)
2019 (A): R$ 189.485.000 (+39%; +53 mi)
2020 (A): R$ 130.619.000 (-31%; -58 mi)
2021 (A): R$ 208.649.000 (+59%; +78 mi)
2022 (B): R$ 108.346.000 (-48%; -100 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2017 (A): -8.692.000
2018 (A): +4.481.000
2019 (A): +3.881.000
2020 (A): -50.641.000
2021 (A): +27.751.000
2022 (B): -77.758.000
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual
Evolução do endividamento do clube
2017 (A): R$ 194.905.000 (-9%; -19 mi)
2018 (A): R$ 184.398.000 (-5%; -10 mi)
2019 (A): R$ 209.948.000 (+13%; +25 mi)
2020 (A): R$ 255.223.000 (+21%; +45 mi)
2021 (A): R$ 235.088.000 (-7%; -20 mi)
2022 (B): R$ 296.270.000 (+26%; +61 mi)
A seguir, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos seis demonstrativos contábeis do Bahia.
Direitos de transmissão na TV
2017 (A): R$ 68,93 milhões
2018 (A): R$ 83,06 milhões (+20%; +14 mi)
2019 (A): R$ 70,54 milhões (-15%; -12 mi)
2020 (A): R$ 46,59 milhões (-33%; -23 mi)
2021 (A): R$ 90,65 milhões (+94%; +44 mi)
2022 (B): R$ 18,28 milhões (-79%; -72 mi)
Quadro de sócios-torcedores e bilheteria
2017 (A): R$ 16,70 milhões
2018 (A): R$ 21,95 milhões (+31%; +5 mi)
2019 (A): R$ 36,30 milhões (+65%; +14 mi)
2020 (A): R$ 34,34 milhões (-5%; -1 mi)
2021 (A): R$ 22,89 milhões (-33%; -11 mi)
2022 (B): R$ 36,74 milhões (+60%; +13 mi)
Negociação de atletas
2017 (A): Zero
2018 (A): R$ 18,31 milhões (+100%)
2019 (A): R$ 44,82 milhões (+144%; 26 mi)
2020 (A): R$ 21,71 milhões (-51%; -23 mi)
2021 (A): R$ 35,44 milhões (+63%; +13 mi)
2022 (B): R$ 21,41 milhões (-39%; -14 mi)
Patrocínio/Marketing
2017 (A): R$ 12,95 milhões
2018 (A): R$ 9,54 milhões (-26%; -3 mi)
2019 (A): R$ 15,58 milhões (+63%; +6 mi)
2020 (A): R$ 10,18 milhões (-34%; -5 mi)
2021 (A): R$ 18,24 milhões (+79%; +8 mi)
2022 (B): R$ 18,14 milhões (-0,5%; -0,1 mi)
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