O gráfico com a evolução das receitas e das dívidas do alvinegro cearense nos últimos 6 anos.
O Ceará terminou a temporada de 2024 sorrindo. Apesar do empate sem gols no Brinco de Ouro na última rodada, o time foi beneficiado pelo revés do Novorizontino e conseguiu a última vaga no G4 da Série B. Ou seja, alcançou o seu maior objetivo esportivo, o retorno à primeira divisão. Sem contar que voltou a ser campeão cearense e evitou o hexa do arquirrival. Em termos administrativos, porém, a volta à Série A era mesmo alvo inadiável.
Não foi um ano fácil. Basta dizer que o alvinegro foi punido com o “tranfer ban” da Fifa em cinco oportunidades devido a débitos de negociações passadas. Além disso, terminou novamente com mais despesas que receitas, mesmo considerando o incremento do seu faturamento com a segunda parcela da venda de 20% dos direitos comerciais na Liga Forte União pelos próximos 50 anos. A prestação de contas foi analisada e aprovada pelos conselheiros em 7 de abril, com o Vozão sendo o primeiro clube do “G7 do Nordeste” a apresentar os números oficiais do último ano. A votação foi por maioria: 86 x 11.
Contrato da liga correspondeu a 36% da receita
Entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2024, o Ceará teve uma receita total de R$ 164,9 milhões, sendo a segunda maior de sua história. Superou com sobras a receita de 2023, quando teve R$ 132,1 mi, um valor que já havia sido considerável para uma temporada na Série B. Em comum nesses anos, o repasse absoluto da LFU. Para fins contábeis, o clube registrou o recebimento de R$ 120.649.999 nesses dois anos, sendo R$ 60,5 mi em 2023 e R$ 60,1 mi em 2024 – Fortaleza e Sport, também da LFU, registraram tudo logo em 2023.
Porém, em termos práticos, o Vozão ainda não recebeu R$ 31,6 milhões. Segundo a nota explicativa do relatório, o último aporte será liquidado em 2025. O “dinheiro da LFU” representou 45% da receita total em 2023 e 36% da receita total em 2024. Excluindo essa receita extraordinária, o faturamento regular do Ceará passou de R$ 71,5 milhões em 2023 para R$ 104,7 milhões. De forma geral, o Ceará subiu as suas receitas recorrentes. Foi assim com o quadro de sócios (+10,0 mi), bilheteria das partidas (+7,4 mi), venda de atletas (+7,2 mi), direitos de transmissão na TV (+5,7 mi) e contratos de patrocínio (+2,7 mi). A torcida fez a sua parte, com média de 35 mil sócios adimplentes e 25 mil torcedores pagantes por jogo.
Salto no custo e passivo “estabilizado”
Já a despesa do clube, que havia sido alta em 2023, com R$ 114 milhões, sendo R$ 54 mi em salários, saltou para R$ 148 milhões, com R$ 80 mi em salários. Os gastos gerais e administrativos também subiram, de R$ 33 mi para R$ 37 mi. Além disso, o clube segue tendo “despesas financeiras” elevadas. Esse item se refere a empréstimos bancários e juros. O custo foi de R$ 17,9 mi em 2023 e R$ 19,9 mi em 2024. Desta vez, o clube gastou R$ 16,5 milhões só com juros!. Desta forma, o Ceará terminou com um déficit, o saldo negativo entre receitas e despesas, de R$ 5,7 milhões. Caso o Vozão tivesse tido apenas as receitas recorrentes, sem o acréscimo da liga, a bronca teria sido muito maior.
Por fim, o passivo do Ceará. Pelo segundo ano, segue na casa de R$ 100 milhões, mas o crescimento de 1% foi abaixo até da inflação, o que indica uma redução real. Antes, foram cinco anos de aumento variando entre 14% e 82%. Vale pontuar também que os débitos de curto prazo, aqueles com vencimento em até doze meses, caíram de R$ 60 mi para R$ 54 mi. Obviamente, é algo que ainda demanda bastante atenção, mas uma temporada de Série A deverá ajudar. Desde que os custos não sigam num crescimento tão fora da curva…
A seguir, confira o histórico recente de receitas do Ceará.
Receita total do Ceará no ano
2019 (Série A): R$ 104.866.088
2020 (Série A): R$ 103.163.458 (-1%; -1 mi)
2021 (Série A): R$ 159.287.735 (+54%; +56 mi)
2022 (Série A): R$ 173.217.688 (+8%; +13 mi)
2023 (Série B): R$ 132.103.373 (-23%; -41 mi)
2024 (Série B): R$ 164.915.795 (+24%; +32 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2019 (Série A): +5.768.766
2020 (Série A): +377.762
2021 (Série A): +327.488
2022 (Série A): -6.163.947
2023 (Série B): -781.225
2024 (Série B): -5.702.255*
* O saldo da subtração da receita líquida (161,9 mi) pelo custo operacional (148,3 mi) e pelas despesas financeiras (19,3 mi)
Evolução do passivo acumulado do clube
2019 (Série A): R$ 16.803.756
2020 (Série A): R$ 35.263.673 (+109%; +18 mi)
2021 (Série A): R$ 49.948.270 (+41%; +14 mi)
2022 (Série A): R$ 56.953.477 (+14%; +7 mi)
2023 (Série B): R$ 104.119.036 (+82%; +47 mi)
2024 (Série B): R$ 105.903.684 (+1%; +1 mi)
* A soma das pendências de curto prazo (circulante) e longo prazo (não circulante)
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos quatro balanços do Ceará – e as respectivas séries.
Direitos de transmissão na TV
2021 (Série A): R$ 90,50 milhões
2022 (Série A): R$ 65,90 milhões (-27%; -24 mi)
2023 (Série B): R$ 16,34 milhões (-75%; -49 mi)
2024 (Série B): R$ 22,11 milhões (+35%; +5 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2021 (Série A): R$ 13,07 milhões
2022 (Série A): R$ 19,72 milhões (+50%; +6 mi)
2023 (Série B): R$ 12,82 milhões (-34%; -7 mi)
2024 (Série B): R$ 22,85 milhões (+78%; +10 mi)
Renda nos jogos
2021 (Série A): R$ 3,10 milhões
2022 (Série A): R$ 15,65 milhões (+404%; +12 mi)
2023 (Série B): R$ 9,72 milhões (-37%; -6 mi)
2024 (Série B): R$ 17,20 milhões (+76%; +7 mi)
Patrocínio e Marketing
2021 (Série A): R$ 15,70 milhões
2022 (Série A): R$ 22,43 milhões (+42%; +6 mi)
2023 (Série B): R$ 17,52 milhões (-21%%; +4 mi)
2024 (Série B): R$ 20,22 milhões (+15%; +2 mi)
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