O gráfico com a evolução das receitas e das dívidas do leão cearense nos últimos 6 anos.
Outrora irrisório, ainda mais considerando o cenário num clube de massa, o passivo do Fortaleza atingiu R$ 212 milhões no fim de 2024. Esse número soma todas as dívidas, financiamentos e obrigações contratuais vigentes. Dez anos antes, o total de pendências do Laion era de R$ 16 milhões, ou R$ 28 mi em valores corrigidos – claro, a receita também subiu no período. De acordo com o novo balanço financeiro do clube, obtido pelo blog, o passivo aumentou R$ 84 milhões em apenas uma temporada. Ou seja, alta de 66%.
O investimento para o G4 no Brasileirão
As explicações, segundou um relatório do clube, estão nas obrigações relacionadas às aquisições de atletas e nos empréstimos tomados para equilibrar a balança operacional entre janeiro e dezembro. Num comparativo de 2023 para 2024, o investimento em direitos econômicos de jogadores passou de R$ 42,6 mi para R$ 77,9 mi, enquanto os empréstimos saltaram de R$ 627 mil para R$ 46,4 milhões. Este segundo caso me chamou a atenção, sobretudo pelo peso dos juros. O volume com vencimento em até 12 meses é de R$ 38 mi.
Além disso, houve um “mútuo”, uma espécie de empréstimos entre partes relacionadas, do Fortaleza “SAF” para o Fortaleza “Associação”. Neste caso foram R$ 31,6 milhões. Somando os empréstimos e o mútuo, o clube virou o ano devendo R$ 78,1 milhões. Um segundo documento, produzido pela auditoria BDO, aponta que “com a melhoria dos processos e controles internos este saldo vem sendo monitorado para ser reduzido ao longo de 2025”. Só será possível confirmar isso no próximo balanço, que deve sair até 30 de abril de 2026.
Saldo entre ativo e passivo caiu R$ 87 milhões
Em 2023, o saldo entre o “ativo”, com o patrimônio do Fortaleza, e o “passivo” era de R$ 89,9 milhões. Em 2024, tendo uma leve redução do ativo tricolor (-1,3%) e o supracitado aumento do passivo, o saldo caindo para apenas R$ 2,4 milhões. Para o clube, o forte aumento no passivo ocorreu “devido aos desafios financeiros e esforços de manutenção da competitividade no futebol”. De fato, pois realmente houve competividade nos gramados.
O Fortaleza conquistou a Copa do Nordeste, numa final apertada contra o CRB, e disputou a Série A em altíssimo nível, terminando em 4º lugar e com a classificação direta à fase de grupos da Copa Libertadores da América, o que inclusive ajudou a impulsionar o orçamento de 2025. Ao todo, o clube do Pici teve uma receita bruta de R$ 279,7 milhões em 2024. A soma dos direitos de transmissão na televisão e a performance nos campeonatos oficiais deu R$ 119,1 milhões – o orçamento oficial havia estimado R$ 95,4 mi nesta dobradinha.
Receita bruta foi menor, mas há explicação
Ainda que seja um dado enorme, sobretudo no Nordeste, essa receita bruta ficou bem abaixo do valor registrado pelo próprio FEC em 2023. Ao menos de forma “contábil”, porque o balanço anterior havia incorporado toda a receita da Liga Forte União (LFU) pela venda de 20% dos direitos comerciais no Brasileirão pelos próximos 50 anos. Ou seja, R$ 120 milhões. Na prática, o pagamento foi acordado em três parcelas, espalhadas em 2023 (69,6 mi), 2024 (17,6 mi) e 2025 (30,6 mi). Excluindo o valor extraordinário da liga, o faturamento de 2023 cairia de R$ 381 mi para R$ 261 mi. Logo, o número em 2024 seria até maior, justificando inclusive o crescimento da renda no Castelão, das mensalidades de sócios e dos patrocínios.
Sobre os gastos realizados em 2024, o custo das atividades sociais e esportivas do Fortaleza chegou a R$ 275,2 milhões, havendo ainda as despesas gerais e administrativas (61,6 mi) e as despesas tributárias (11,3 mi). O saldo final no ano foi pra lá de negativo. Oficialmente, o déficit de R$ 80,3 milhões foi o maior do clube, mas vale ressalvar que nem todo o valor foi “fluxo real de dinheiro em caixa”. Boa parte ocorreu em ajustes contábeis, como a “amortização de intangível”, com a redução de R$ 52 milhões no vínculo dos atletas – a partir da realização dos respectivos contratos. Considerando somente a operação financeira na temporada, o saldo negativo foi de R$ 17,9 milhões. Ainda assim, pesou.
A seguir, confira o histórico recente de receitas do Fortaleza.
Receita total do Fortaleza no ano
2019 (Série A): R$ 120.490.995
2020 (Série A): R$ 86.069.940 (-28%; -34 mi)
2021 (Série A): R$ 175.053.214 (+103%; +88 mi)
2022 (Série A): R$ 267.851.201 (+53%; +92 mi)
2023 (Série A): R$ 381.656.000 (+42%; +113 mi)
2024 (Série A): R$ 279.709.000 (-26%; -101 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2019 (Série A): +3.444.392
2020 (Série A): -9.787.635
2021 (Série A): +15.300.604
2022 (Série A): +32.280.844
2023 (Série A): +66.206.000
2024 (Série A): -80.325.000*
* O saldo da subtração da receita líquida (272,4 mi) pelo custo operacional (348,2 mi) e pelas despesas financeiras (4,5 mi)
Evolução do passivo acumulado do clube
2019 (Série A): R$ 43.485.850
2020 (Série A): R$ 57.885.088 (+33%; +14 mi)
2021 (Série A): R$ 74.612.038 (+28%; +167 mi)
2022 (Série A): R$ 96.018.000 (+28%; +21 mi)
2023 (Série A): R$ 127.798.000 (+33%; +31 mi)
2024 (Série A): R$ 212.440.000 (+66%; +84 mi)
* A soma das pendências de curto prazo (circulante) e longo prazo (não circulante)
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos quatro balanços do Fortaleza, todos na primeira divisão nacional.
Direitos de transmissão na TV
2021 (Série A): R$ 54,53 milhões
2022 (Série A): R$ 56,48 milhões (+3%; +2 mi)
2023 (Série A): R$ 50,27 milhões (-10%; -6 mi)
2024 (Série A): R$ 56,59 milhões (+12%; + 6 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2021 (Série A): R$ 14,08 milhões
2022 (Série A): R$ 35,30 milhões (+150%; +21 mi)
2023 (Série A): R$ 34,51 milhões (-2%; -0,7 mi)
2024 (Série A): R$ 38,54 milhões (+11%; +4 mi)
Renda nos jogos
2021 (Série A): R$ 5,68 milhões
2022 (Série A): R$ 18,52 milhões (+226%; +12 mi)
2023 (Série A): R$ 20,04 milhões (+8%; +1 mi)
2024 (Série A): R$ 26,07 milhões (+30%; +6 mi)
Patrocínio e Marketing
2021 (Série A): R$ 9,38 milhões
2022 (Série A): R$ 22,22 milhões (+136%; +12 mi)
2023 (Série A): R$ 31,66 milhões (+42%; +9 mi)
2024 (Série A): R$ 42,24 milhões (+33%; +10 mi)
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