O Náutico divulgou o seu balanço oficial sobre 2018 na data-limite, 30 de abril. Na verdade, o timbu publicou duas folhas do relatório, com os principais dados – mas insuficientes para tirar todas as dúvidas. Em contato com a direção do clube, obtive as respostas. Vamos lá.
Embora tenha conquistado título estadual e chegado à 4ª fase da Copa do Brasil, com R$ 4,3 milhões em premiações, considerando o valor bruto, o alvirrubro teve uma receita de apenas R$ 16 milhões, a segunda menor nesta década – à frente apenas de 2014.
Ou seja, a queda à Série C cobrou, sim, um preço alto ao clube, como na verba de tevê. O valor de R$ 160 mil (!) é inferior à cota do Campeonato Pernambucano – que não foi contabilizada porque o valor entrou direto para abatimentos na justiça cível. Também teve queda na bilheteria e nos patrocínios, mostrando o arrocho pelo qual passou Edno Melo em seu 1º ano à frente do clube. Em campo, o futebol profissional consumiu R$ 10,6 mi. Se o torcedor ficou parcialmente feliz com o time, com a taça após 13 anos e a volta aos Aflitos após 5 anos, tendo como ponto contra a permanência na C, no quadro financeiro o clube segue em grande dificuldade, mesmo com o leve superávit.
O tamanho do passivo deixa isso claro. A soma dos passivos circulante (com pendências de até 12 meses) e não circulante (com pendências de longo prazo) chegou a R$ 284 milhões. É o maior da história do clube, num aumento de R$ 118 mi em um ano. O do Sport, que também cresceu, chegou a R$ 193 mi, mas com uma capacidade de investimento maior. E é esta relação que deixa a cifra bem preocupante. Entretanto, há explicação para o salto.
Pelo novo modelo de divulgação do relatório financeiro, exigido pela CBF, o Náutico contabilizou todas as ações trabalhistas contra o clube – e são nada menos que 986 em aberto. No caso, com os valores pedidos por todos os advogados nas causas. Não necessariamente o clube irá pagar o valor integral, com a busca incessante por acordos. Em 2018, por exemplo, foram mais de 40. O presidente garante que o passivo será menor já no próximo balanço, em abril de 2020, justamente pelos acordos costurados ao longo de 2019, num trabalho contínuo para evitar mais dívidas. Em Rosa e Silva, a situação é um desafio.
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, considerando os últimos dois balanços do Náutico – e as respectivas séries nacionais.
Direitos de transmissão na TV
2017 (B) – R$ 834.124
2018 (C) – R$ 160.000 (-80,8%; -0,67 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2017 (B) – R$ 4.221.819
2018 (C) – R$ ainda não divulgado*
* No balanço, aparece em “outras receitas”, com R$ 7,6 mi ao todo
Renda nos jogos
2017 (B) – R$ 11.033.037
2018 (C) – R$ 3.146.154 (-71,4%; -7,88 mi)
Patrocínio/Marketing
2017 (B) – R$ 2.076.484
2018 (C) – R$ 1.278.690 (-38,4%; -0,79 mi)
A seguir, o histórico de receitas do Náutico nesta década, com valores entre R$ 15 mi e R$ 20 mi durante os anos fora da Série A. Na elite, receitas na casa de R$ 40 milhões.
Faturamento do clube (receita total)
2011 (B) – R$ 19.236.142
2012 (A) – R$ 41.089.423 (+113,6%; +21,85 mi)
2013 (A) – R$ 48.105.068 (+17,0%; +7,01 mi)
2014 (B) – R$ 15.959.176 (-66,8%; -32,14 mi)
2015 (B) – R$ 18.363.286 (+15,0%; +2,40 mi)
2016 (B) – R$ 16.723.513 (-8,9%; -1,63 mi)
2017 (B) – R$ 19.825.262 (+18,5%; +3,10 mi)
2018 (C) – R$ 16.051.433 (-19,0%; -3,77 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2011 (B): -1.643.179
2012 (A): -392.993
2013 (A): -721.320
2014 (B): -13.346.684
2015 (B): -10.839.793
2016 (B): -4.608.166
2017 (B): -41.040
2018 (C): +55.394
Evolução do passivo do clube (circulante + não circulante)
2011 (B) – R$ 62.442.207
2012 (A) – R$ 71.979.517 (+15,2%; +9,53 mi)
2013 (A) – R$ 87.816.127 (+22,0%; +15,83 mi)
2014 (B) – R$ 137.364.572 (+56,4%; +49,54 mi)
2015 (B) – R$ 149.267.447 (+8,6%; +11,90 mi)
2016 (B) – R$ 155.639.544 (+4,2%; +6,37 mi)
2017 (B) – R$ 165.936.253 (+6,6%; +10,29 mi)
2018 (C) – R$ 284.527.291 (+71,4%; +118,59 mi)
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