O gráfico com a evolução das receitas e das dívidas do leão do Recife nos últimos 6 anos.
Considerando as receitas regulares na temporada, como direitos de transmissão na tevê, patrocínios, bilheteria dos jogos e mensalidades de sócios, o faturamento do Sport apenas oscilou de 2022 para 2023, caindo de R$ 77,5 milhões para R$ 75,4 milhões, numa variação de -2%. Entretanto, houve um “fato novo”. No último ano, a direção rubro-negra assinou um contrato com o grupo de investidores da Liga Forte União e cedeu 20% dos seus direitos comerciais no Campeonato Brasileiro pelos próximos 50 anos, valendo a partir de 2025. Outros filiados da LFU fizeram o mesmo, como Fortaleza e Ceará.
Contrato da liga correspondeu a 63% da receita
Por esta movimentação com a liga, o leão pernambucano teve direito a R$ 130 milhões. Assim, a receita total, sem a dedução de impostos, foi de R$ 206,2 milhões. Simplesmente, a maior da história do clube. Valor bem acima do seu maior período na Série A na era dos pontos corridos. Nos cinco anos entre 2014 e 2018, o maior faturamento na elite foi de R$ 129,5 milhões, em 2016. A atualização disso daria R$ 186,8 milhões, segundo a Calculadora do Banco Central. Portanto, a receita de 2023 foi a maior do Sport de forma incontestável.
Para fins contábeis, o clube já “incorporou” o repasse integral da liga. Na prática, porém, o clube só recebeu R$ 32 milhões até aqui. Segundo o demonstrativo contábil do Sport, divulgado no finzinho do prazo legal, às 21h56 do dia 30 de abril, o clube receberá o restante da LFU, cerca de R$ 98 milhões, ainda em 2024. Inclusive, parte deste dinheiro já foi utilizado na montagem do elenco atual, com R$ 17 milhões na aquisição de direitos econômicos dos atacantes Gustavo Coutinho, Barletta e Romarinho. E essa turbinada do balanço através do dinheiro da liga também serviu para quebrar um escrita negativa do Sport.
Futebol consumiu quase R$ 100 milhões
Após dez anos consecutivos tendo mais despesas que receitas no ano corrente, com “déficit” no resultado final, finalmente o clube voltou a registrar um “superávit”, que é o saldo positivo nesta subtração. No caso, o superávit foi de R$ 71,9 milhões! Mas isso não quer dizer que o Sport gastou pouco. Longe disso. O custo operacional saltou para R$ 130 milhões, um valor que seria impagável sem a verba da liga. A despesa de todo o departamento de futebol foi de R$ 90 milhões. Só com o elenco profissional, o custo foi de R$ 40 mi para R$ 77 mi, o que de certa forma aumenta a frustração pela perda do acesso na reta final da Série B.
Vale pontuar que este novo balanço do Sport, auditado pela consultoria BDO, foi o relatório com a maior abertura de dados nos últimos anos. Tanto que foi possível ver as receitas setor por setor, tanto as de 2023 quanto de 2022. É o básico, mas não vinha sendo feito. Nele também é possível perceber uma consequência da Recuperação Judicial em andamento, que é a negociação com os credores para reduzir a dívida e estabelecer prazos de pagamento – um dos passos visando a futura Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Sport.
Conversão do passivo em dívidas de longo prazo
Boa parte das dívidas de curto prazo foram convertidas em dívidas de longo prazo. Assim, as pendências mais urgentes, com vencimento em até 12 meses, caíram de R$ 215 milhões (!) para R$ 122 milhões. O trabalho foi focado nos débitos tributários, parcelados junto à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) e com direito a desconto na dívida fiscal. Assim, aquelas pendências acima de um ano passaram de R$ 55 mi para R$ 153 mi nesta conversão. De forma geral, o passivo segue “estável”, embora próximo a R$ 300 milhões.
A seguir, confira o histórico recente de receitas do Sport.
Receita total do Sport
2018 (Série A): R$ 104.098.716
2019 (Série B): R$ 39.208.327 (-62%; -64 mi)
2020 (Série A): R$ 54.527.382 (+39%; +15 mi)
2021 (Série A): R$ 94.131.145 (+72% +39 mi)
2022 (Série B): R$ 77.537.146 (-17%; -16 mi)
2023 (Série B): R$ 206.229.000 (+165; +128 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2018 (Série A): -14.382.986
2019 (Série B): -22.644.360
2020 (Série A): -2.586.638
2021 (Série A): -70.284.816
2022 (Série B): -17.459.557
2023 (Série B): +71.999.000*
* O saldo da subtração da receita líquida (203,7 mi) pelo custo operacional (130,5 mi) e pelas despesas financeiras
Evolução do passivo acumulado do clube
2018 (Série A): R$ 193.439.749
2019 (Série B): R$ 189.540.801 (-2%; -3 mi)
2020 (Série A): R$ 200.535.111 (+5%; +10 mi)
2021 (Série A): R$ 258.049.760 (+28%; +57 mi)
2022 (Série B): R$ 271.850.487 (+5%; +13 mi)
2023 (Série B): R$ 276.144.000 (+1%; +4 mi)
* A soma das pendências de curto prazo (circulante) e longo prazo (não circulante)
Abaixo, um comparativo com quatro frentes importantes na composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos quatro balanços do Sport – e as respectivas séries no BR.
Direitos de transmissão na TV
2020 (Série A): R$ 40,90 milhões
2021 (Série A): R$ 68,96 milhões (+68%; +29 mi)
2022 (Série B): R$ 15,23 milhões (-77%; -53 mi)
2023 (Série B): R$ 19,53 milhões (+28%; +4 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2020 (Série A): R$ 4,47 milhões
2021 (Série A): R$ 3,24 milhões (-27%; -1 mi)
2022 (Série B): R$ 4,17 milhões (+28%; +0,9 mi)
2023 (Série B): R$ 12,61 milhões (+202%; +8 mi)
Renda nos jogos
2020 (Série A): R$ 4,28 milhões
2021 (Série A): R$ 17,08 milhões (+299%; +12 mi)
2022 (Série B): R$ 11,14 milhões (-34%; -5 mi)
2023 (Série B): R$ 16,60 milhões (+49%; +5 mi)
Patrocínio e Marketing
2020 (Série A): R$ 7,66 milhões (+67%; +3 mi)
2021 (Série A): R$ 7,10 milhões (-7%; -0,5 mi)
2022 (Série B): R$ 13,68 milhões (+92%; +6 mi)
2023 (Série B): R$ 17,46 milhões (+27%; +3 mi)
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