O gráfico com a evolução das receitas e das dívidas do leão de Salvador nos últimos 6 anos.
Numa temporada de bastante dificuldade em termos esportivos, com a passagem na 3ª divisão nacional após 16 anos, o Vitória acabou terminando com um enorme saldo positivo na contabilidade. Entre receitas e despesas, R$ 33 milhões. Dos balanços financeiros disponíveis para consulta, desde 2011, o resultado de 2022 é o maior do clube baiano. Sem grandes campanhas nos âmbitos estadual, regional e nacional, o Vitória vinha de cinco anos tendo “déficit”, com mais despesas que receitas. Desta vez, enfim registrou um “superávit”.
Segundo o balanço patrimonial do clube com dados de 1º de janeiro a 31 de dezembro do último ano, publicado dentro do prazo, a receita foi de R$ 42 milhões, com queda de R$ 18 milhões sobre 2021, quando estava na B. Algo esperado, pois a cota de transmissão do Campeonato Brasileiro caiu de R$ 8 mi para R$ 1 mi. Contudo, o gasto com salários, entre futebol e administrativo, seguiu “baixo”, com R$ 22,8 mi (em 2021 gastou R$ 23,6 mi).
Acesso e parcelamento salvador
Em campo, apesar da duradoura crise política, o Vitória conseguiu uma recuperação incrível na Série C. De ameaça de rebaixamento à Série D, o time conseguiu entrar na zona de classificação na última rodada e depois, na fase final, obteve uma dos quatro acessos, fazendo o bate-volta à Serie B. Salvou o ano ali. Antes disso já havia sido dado outro passo importante, sem alarde. Em termos contábeis, o episódio mais relevante foi em 30 de junho.
Foi quando o rubro-negro aderiu ao Programa Emergencial de Retomada do Setor de Eventos (Perse), renegociando o débito de R$ 117 milhões junto à Receita Federal. Isso representou num abatimento de R$ 57,3 milhões, além do parcelamento a longo prazo de R$ 59,7 mi. Assim, a despesa tributária de R$ 40 milhões em 2021 virou uma “receita” de R$ 44 milhões em 2022. Me parece uma ação contábil incomum, pois o “dinheiro” não entrou.
E essa negociação com a Receita Federal atuou diretamente na relação com o superávit, aliviando a pressão sobre a dívida. De fato, o clube apurou R$ 42 milhões em 2022, mas somou R$ 44 milhões desta conversão da dívida em receita, totalizando “R$ 86.985.000”. Daí, subtraindo por todos os custos e despesas, de R$ 53.616.000, o saldo foi positivo.
Mutação nas dívidas de curto prazo
O passivo do clube segue altíssimo, mas sofreu uma redução de R$ 28 milhões, sendo agora de R$ 243 milhões. Neste ponto, vale o destaque para a mudança na relação de pendências de curto prazo, com vencimento em até 12 meses. O “passivo circulante”, como se chama, caiu de R$ 160 mi para R$ 108 mi. Por outro lado, o cube dobrou a dívida contraída em empréstimos e financiamentos, de R$ 7,5 mi para R$ 15,6 mi. Sobre o demonstrativo de 5 páginas, quase uma versão sintética, não é possível abordar mais pontos. Isso porque o Vitória não detalhou a origem das receitas, como bilheteria no Barradão e mensalidades.
A seguir, o histórico de receitas do Vitória. Nos últimos 12 anos o clube só um faturamento acima de R$ 100 milhões (em 2016). No último ano, o rival Bahia apurou R$ 65,7 milhões a mais.
Receita total do Vitória
2017 (A): R$ 88.071.107 (-21%; -23 mi)
2018 (A): R$ 87.013.000 (-1%; -1 mi)
2019 (B): R$ 53.010.000 (-39%; -34 mi)
2020 (B): R$ 39.539.000 (-25%; -13 mi)
2021 (B): R$ 61.104.000 (+54%; +21 mi)
2022 (C): R$ 42.625.000 (-30%; -18 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2017 (A): -59.845.190
2018 (A): -4.804.000
2019 (B): -1.831.000
2020 (B): -20.604.000
2021 (B): -42.320.000
2022 (C): +33.369.000*
* O saldo da subtração da receita (operacional e tributária, com 86,9 mi) pelo custo operacional (52,6 mi) e pelas despesas financeiras (0,9 mi)
Evolução do passivo acumulado do clube
2017 (A): R$ 109.221.000 (+63%; +42)
2018 (A): R$ 143.110.000 (+31%; +33 mi)
2019 (B): R$ 144.398.000 (0,9%; +1 mi)
2020 (B): R$ 239.236.000 (+65%; +94 mi)
2021 (B): R$ 272.288.000 (+13%; +33 mi)
2022 (C): R$ 243.397.000 (-10%; -28 mi)
* A soma das pendências de curto prazo (circulante) e longo prazo (não circulante)
Abaixo, um comparativo com quatro frentes importantes na composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos seis balanços do Vitória – e as respectivas séries no BR.
Direitos de transmissão na TV
2017 (A): R$ 50,67 milhões
2018 (A): R$ 48,56 milhões (-4%; -2 mi)
2019 (B): R$ 7,83 milhões (-83%; -40 mi)
2020 (B): R$ 6,73 milhões (-14%; -1 mi)
2021 (B): R$ 10,28 milhões (+52%; -3 mi)
2022 (C): não detalhado
Quadro de sócios e premiações
2017 (A): não divulgado
2018 (A): R$ 11,7 milhões
2019 (B): R$ 14,0 milhões
2020 (B): R$ 13,4 milhões
2021 (B): R$ 14,0 milhões
2022 (C): não detalhado
* Ao contrário dos outros clubes, o Vitória soma os sócios-torcedores às premiações e loterias.
Renda nos jogos
2017 (A): R$ 4,27 milhões
2018 (A): R$ 3,39 milhões (-20%; -0,8 mi)
2019 (B): R$ 2,17 milhões (-35%; -1 mi)
2020 (B): R$ 619 mil (-71%; -1 mi)
2021 (B): R$ 337 mil (-45%; -0,2 mi)
2022 (C): não detalhado
Patrocínio/Marketing
2017 (A): R$ 5,68 milhões
2018 (A): R$ 6,46 milhões (+13%; +0,7 mi)
2019 (B): R$ 1,11 milhão (-82%; -5 mi)
2020 (B): R$ 3,22 milhões (+188%; +2 mi)
2021 (B): R$ 2,78 milhões (-13%; -0,4 mi)
2022 (C): não detalhado
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