Em 25 de janeiro de 2018 o instituto Datafolha protocolou no Tribunal Superior Eleitoral uma pesquisa de intenção de voto para as eleições gerais no país, com a inscrição BR-05351/2018 – para este tipo de avaliação é preciso o registro oficial no TSE. Com pouco menos de 3 mil entrevistas, em todo o país, o levantamento custou R$ 398.344 à Empresa Folha da Manhã S/A, responsável pelo jornal Folha de S. Paulo, que teve a exclusividade na publicação, em 31 de janeiro. Aproveitando aquela pesquisa, o Datafolha ampliou o questionário com outros temas – algo normal, uma vez que estudos do tipo são caros. E lá estava o futebol, como já havia sido em 2014, na última eleição presidencial, diga-se. Sobre o resultado apresentado agora, não fica um questionamento sobre os dados finais, pois sempre me interessei por pesquisas – quem me acompanhou durante o blog no Diario de Pernambuco sabe disso – , mas sim sobre a metodologia implantada. Mal construída de tal forma que acaba distorcendo o quadro, incompreensivelmente restrito e já enviesado.
A reportagem da Folha sobre a pesquisa de torcida, publicada em 13 de abril, trouxe gráficos de todas as regiões do país. Acima, a imagem do Nordeste. Chama a atenção o fato de apenas 14 clubes terem sido citados, sendo apenas dois nordestinos (a dupla Ba-Vi), sem contar que quatro times aparecem com 0%. Isso mesmo, nada! Outros três estão com 1%. Um pouco mais atenção e a opção ‘outro’, que se refere a outro clube, surge com 14%. Considerando as equipes já citadas, fica bem claro que são nordestinos agrupados nesta opção. Por que não citá-los nominalmente? Não seria mais informativo do que mostrar clubes com 0%? Na minha opinião, seria. No entanto, com o formulário proposto, fica muito difícil.
Em pesquisas de torcida tradicionais, é bem difícil a liberação dos questionários por parte dos institutos – embora a atitude seja discutível, entende-se devido ao ‘produto’, que pode ser consumido por clubes, empresas interessadas no futebol etc. Porém, a desvantagem (para os institutos) de pesquisas co-relacionadas às eleições é justamente o registro no TSE, com a íntegra do texto no questionário e da lista de cidades visitadas.
Abaixo, portanto, a página em que o futebol foi citado, com 6 perguntas, incluindo a Copa do Mundo de 2018 e a opinião sobre o trabalho de Tite na Seleção Brasileira. Sobre a pergunta mágica (“Qual é o time de futebol de sua preferência?”), são apenas 18 opções. Embora o questionário deixe grafado em negrito a resposta como ‘espontânea’ e ‘única’, estão lá cinco clubes de São Paulo, justamente nas cinco primeiras opções (incluindo a Portuguesa, que, mesmo com uma torcida ínfima, costuma aparecer no Datafolha – e somente no Datafolha).
Na sequência do cartão de respostas, os quatro grandes times do Rio de Janeiro, os dois grandes de Minas Gerais, os dois grandes do Rio Grande do Sul, três do Paraná e os dois da Bahia. Somente depois disso vem a opção ‘outro’ – em que o responsável deveria anotar o nome do clube (nenhum divulgado). O Datafolha precisa se abraçar à garantia da espontaneidade na resposta, mas embora você, leitor, tenha consciência do seu time do coração, cogite a possibilidade de quem alguns (muitos) podem precisar de ajuda. Inclusive funciona assim com o próprio questionário eleitoral, com respostas espontâneas e estimuladas.
A garantia de fato sobre a espontaneidade estaria num questionário muito mais amplo sobre as opções (coisa pra 50 clubes), ou simplesmente com nenhum nome presente – o que dificultaria a coleta de dados, é verdade. A seguir, os dados gerais da pesquisa – cuja amostragem foi relativamente baixa, uma vez que concorrentes vêm entrevistando ao menos de 10 mil pessoas. Como costumo fazer, mensurei os percentuais com a última estimativa populacional do Brasil, projetando em dados absolutos os tamanhos das torcidas. Ao menos, dos clubes citados.
Datafolha / Brasil 2018
Período: 29 a 30 de janeiro de 2018
Público: 2.826 (em 174 municípios)
Margem de erro: 2%
População estimada (IBGE/agosto de 2017): 207.660.929
1º) Flamengo – 18% (37.378.967)
2º) Corinthians – 14% (29.072.530)
3º) São Paulo – 8% (16.612.874)
4º) Palmeiras – 6% (12.459.655)
5º) Vasco – 4% (8.306.437)
5º) Cruzeiro – 4% (8.306.437)
7º) Grêmio – 3% (6.229.827)
7º) Santos – 3% (6.229.827)
7º) Inter – 3% (6.229.827)
10º) Atlético-MG – 2% (4.153.218)
11º) Botafogo – 1% (2.076.609)
11º) Fluminense – 1% (2.076.609)
11º) Bahia – 1% (2.076.609)
11º) Vitória – 1% (2.076.609)
Outros times – 8% (16.612.874)
Sem clube – 22% (45.685.404)
Em relação ao futebol pernambucano, essa falta de opção nominal parece gritante sobre o resultado da pesquisa, com os times locais em ‘outros’. Sobretudo em comparação com outras pesquisas nacionais do tipo. Ainda que o Datafolha tenha como regra a não utilização de casas decimais, arredondando para cima ou para baixo os percentuais, Sport e Santa Cruz costumam aparecer com ao menos 1% em outros institutos – abaixo, 12 pesquisas nacionais e todos os percentuais divulgados sobre o G7 do Nordeste, com o leão ‘dentro’ do cálculo do Datafolha em todos os casos (variando de 0,58% a 1,89%) e o tricolor ausente em apenas dois (entre 0,39% e 1,0%). No estado, o Datafolha passou em oito municípios, com duas áreas em cada um: Cabo, Caruaru, Jaboatão, Jatobá, Passira, Pombos, Recife e Serra Talhada. Em sete deles, perguntas no centro e em bairros distintos. A exceção foi a capital, com perguntas na Imbiribeira e em Boa Viagem.
O histórico sobre a ‘presença’ pernambucana nas pesquisas do Datafolha e um comparativo, como curiosidade, com a Portuguesa de Desportos..
Pesquisa de 2018 (2.826 pessoas em 174 cidades)
Portuguesa – não informado
Sport, Santa Cruz e Náutico – n/i
Pesquisa de 2014 (4.337 pessoas em 207 cidades)
Portuguesa – 1%*
Sport – 1%*
Santa Cruz e Náutico – n/i
Pesquisa de 2012 (2.588 pessoas em 160 cidades)
Portuguesa – 1%
Sport, Santa Cruz e Náutico – n/i
Pesquisa de 2010 (2.600 pessoas em 144 cidades)
Portuguesa – 1%
Sport – 1%
Náutico – 1%*
Santa Cruz – 1%*
* Não atingiu 1% exato