Os três clubes ficam na área central do Recife, com a maior distância entre eles sendo de 5,2 km.
Quanto vale a Ilha do Retiro? Embora não esteja à venda, nem mesmo com a expectativa de virar SAF, a propriedade adquirida pelo Sport há 88 anos já escalou algumas cifras milionárias nesse tempo todo, entre números defasados nos demonstrativos contábeis, reavaliações internas e até estimativas judiciais para a execução de ações. Até 2021, de acordo com o balanço do clube rubro-negro, o “imobilizado”, excluindo veículos e equipamentos, teria um valor de custo de R$ 175,7 milhões. Foram quase duas décadas com este número congelado, escorado num direito legal, já que o dono não é obrigado a atualizar o valor do imóvel. Daí o desencontro em relação ao patrimônio exato do Trio de Ferro.
Ilha do Retiro aumentou 60%
A situação começou a mudar no Sport em 2022, quando o clube contratou uma empresa para reavaliar todos os seus bens na terreno de 101 mil metros quadrados na Ilha do Retiro, incluindo estádio, sede, ginásios etc. Segundo a Setape, o aumento absoluto foi de R$ 73 milhões, com o novo valor chegando a R$ 248,7 milhões. Só o terreno passou de R$ 44,5 mi para R$ 78,6 mi. Só que ainda havia outra “métrica” bem peculiar para o mercado. De tempos em tempos, as sedes e estádios dos clubes pernambucanos vão a leilão para quitar dívidas antigas. Neste processo, os bens penhorados recebem uma avaliação da própria Justiça. Historicamente, os casos costumam ser sustados, evitando o pior para os clubes.
No Leão, o episódio mais recente foi por uma dívida junto à Fazenda Nacional, numa ação protocolada na 33ª Vara da Justiça Federal de Pernambuco. A ação colocou todo o complexo da Ilha do Retiro em um leilão online, com o lance inicial de R$ 400 milhões. O evento está marcado para o dia 1º de outubro de 2024, no site Leilão Pernambuco – a direção do clube espera interromper o caso. Trata-se do maior valor já citado numa ação judicial envolvendo Náutico, Santa Cruz ou Sport. O aumento “via Justiça” foi de R$ 151,3 milhões, ou +60%.
Rivais passaram pelo mesmo
No mesmo dia, e no mesmo site, também está previsto o leilão do patrimônio do Náutico, também por dívidas junto à Fazenda. A última reavaliação do timbu havia sido em 2018, gerando um salto de R$ 172 mi para R$ 326 mi. Na ocasião, o aumento absoluto foi de R$ 154 milhões, ou +89%. Porém, para a Justiça, o patrimônio alvirrubro foi estimado em R$ 250 milhões. Bem maior que o valor de custo, mas distante do cálculo interno. Neste formato, o Santa foi alvo da Justiça pela última vez em 2021. No caso do tricolor, a penhora no Gracie Leilões foi estimada em R$ 240 milhões, pouco abaixo do estudo feito pelo clube um ano antes. Elaborada pelo escritório AC Avaliação LTDA, a reavaliação coral foi de R$ 245 milhões.
O Náutico está nos Aflitos desde 1917, o Sport está na Ilha do Retiro desde 1936 e o Santa Cruz está no Arruda desde 1943. Os estádios foram incorporados aos bairros ou os bairros foram incorporados aos estádios? Ao todo, são 200 mil metros quadrados dentro do núcleo urbano do Recife, acessados por avenidas importantes. Considerando o “valor de custo”, com terrenos e edificações, a soma dos patrimônios dos três rivais daria R$ 411.746.199.
Passivo se aproxima do patrimônio físico
Pelas reavaliações internas, encomendadas pelas próprias diretorias, o valor atual dos clubes seria de R$ 820.254.338. Ou seja, o dobro. Mas, curiosamente, está até abaixo do que a Justiça enxerga como “mínimo”: R$ 890 milhões. Vale pontuar que existem fatores que “depreciam” as edificações com o passar do tempo, como o estado de conservação, cuja redução vai de 2% a 4% ao ano. Paralelamente, também há a valorização dos terrenos no mercado, as mudanças nas condições de aproveitamento da área, o tamanho da área construída etc. Ou seja, são números que realmente precisam de acompanhamento.
Considerando as marcas dos clubes, que estão entre as mais valiosas do país, e as respectivas torcidas de massa, esses números deveriam trazer um ar de pujança. Infelizmente não é o caso, já que os três passam pelo processo de Recuperação Judicial, com a negociação coletiva com os credores para amortizar a dívida bruta e criar um plano de pagamento parcelado. Segundo os balanços dos clubes, o trio deve R$ 839.566.293, numa espécie de empate técnico com o valor atual de suas sedes. Individualmente, o passivo está assim: R$ 305,3 milhões no Santa, R$ 276,1 milhões no Sport e R$ 258,1 milhões no Náutico. Que fique claro: se o patrimônio está indo a leilão, é porque a situação está bem apertada…
A seguir, um resumo do patrimônio dos grandes clubes pernambucanos, com os três cenários: custo original, reavaliação do próprio clube e estimativa da Justiça para o primeiro lance num leilão. Lembrando que os três clubes também possuem centros de treinamento, mas que não entraram nesta conta porque nem vêm sendo apresentados nos demonstrativos contábeis.
Patrimônio do Sport
Bairro: Ilha do Retiro
Área: 101 mil m² (estádio, sede, ginásios e parque aquático)
Valor de custo: R$ 175.766.697
Reavaliação do clube (em 2022): R$ 248.735.553
Avaliação da Justiça (em 2024): R$ 400.000.000
M² pelo valor de custo: R$ 1.740
M² pela reavaliação do clube: R$ 2.462
M² pela avaliação da Justiça: R$ 3.960
Patrimônio do Náutico
Bairro: Aflitos
Área: 41 mil m² (estádio, sede, ginásio e parque aquático)
Valor de custo: R$ 172.240.502
Reavaliação do clube (em 2018): R$ 326.387.956
Avaliação da Justiça (em 2024): R$ 250.000.000
M² pelo valor de custo: R$ 4.200
M² pela reavaliação do clube: R$ 7.960
M² pela avaliação da Justiça: R$ 6.097
Patrimônio do Santa Cruz
Bairro: Arruda
Área: 58 mil m² (estádio, sede, ginásio e parque aquático)
Valor de custo: R$ 63.739.000
Reavaliação do clube (em 2020): R$ 245.130.829
Avaliação da Justiça (em 2021): R$ 240.000.000
M² pelo valor de custo: R$ 1.098
M² pela reavaliação do clube: R$ 4.226
M² pela avaliação da Justiça: R$ 4.137
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