O parecer do conselho fiscal foi enfim votado e aprovado pelo conselho deliberativo.
O Santa Cruz concluiu a revisão de suas contas, num trabalho que durou mais de um ano, contando com uma frente de trabalho dentro do Arruda, inclusive em questões tributárias e trabalhistas. Todos os números divulgados pelo tricolor nos últimos três anos, incluindo análises aqui no blog, precisam ser revistos, pois a atualização foi enorme. O clube reapresentou os balanços de 2017 e 2018 e, finalmente, lançou o relatório contábil de 2019. Até então, apenas números em ordem de grandeza, e ainda assim diferentes do documento oficial, que tem 22 páginas.
Foi um verdadeiro “pente fino” no clube, cuja dívida há tempos soava irreal para as dificuldades enfrentadas pelo Santa. E de fato era mesmo. A projeção chegou a passar de R$ 200 milhões, mas, no fim, a soma dos passivos circulante (pendências de curto prazo) e não circulante (pendências acima de 12 meses) chegou a R$ 172 milhões – ainda recorde. Em 2018, no último quadro sem esta revisão, o passivo era de R$ 53 milhões. Haja diferença.
Ocorre que o clube também revisou as suas receitas, com o faturamento total subindo no triênio examinado. Originalmente, a soma das receitas de 2017, 2018 e 2019 dava R$ 43,0 milhões. Pois o montante passou a ser de R$ 51,9 milhões, com aumento nominal de R$ 8,8 mi (ou +20,6%). Uma diferença foi a adição da Timemania. No último ano o valor total foi de R$ 21,5 mi, o maior faturamento da história coral, à parte da participação na Série A em 2016.
Em relação à divisão das receitas em categorias como direitos de transmissão, renda de jogos, patrocínios e quadro de sócios, as mudanças também foram consideráveis, em alguns casos por correção do departamento e em outros devido à nova classificação das receitas, numa orientação da própria CBF sobre a composição dos balanços – por sinal, facilitaria bastante a aplicação imediata desta uniformidade, pois cada clube ainda segue numa ótica distante sobre a tabulação. Nos quadro abaixo, numa tabela comparativa feita pelo blog, é possível ver a variação nos direitos de TV e na renda dos jogos – havia um ruído de interpretação entre as duas frentes sobre a origem das receitas (ocorreu o mesmo no balanço do Bahia em 2019).
A mutação no valor do Arruda
Um outro ponto bem relevante no novo balanço coral, o mais detalhado desde que passei a acompanhar o assunto, é o valor do patrimônio do clube. O valor bruto saltou de R$ 63,7 milhões para R$ 285,8 milhões (+222 mi!). Para isso, foi considerada a análise encomendada pela comissão patrimonial em 2012 (sim, 2012). Já naquele ano houve a atualização de um valor bem defasado – o mesmo ocorre nos balanços de Náutico e Sport em relação aos Aflitos e Ilha, respectivamente.
Levando em conta só o clube no Arruda, sem maquinário e móveis, por exemplo, a reavaliação aponta R$ 274,6 milhões. Isso inclui o terreno de 58 mil metros quadrados e o estádio de futebol. Considerando a depreciação anual do “imobilizado”, um mecanismo contábil normal, o balanço de 2019 citou o patrimônio total de R$ 247,7 milhões. Isso faz com que o ativo do Santa seja mais seguro em relação a cenários contábeis complicados junto ao mercado. Ou seja, mesmo tendo um déficit acumulado de impressionantes R$ 229 milhões, hoje o Santa ainda é um clube no “azul”. Descontando o “imobilizado” (Arruda, terreno etc), fica um patrimônio líquido de R$ 79 mi.
A seguir, os dados definitivos dos últimos três anos. Entre parênteses, a diferença para as cifras divulgadas anteriormente, considerando os balanços de 2017 e 2018 e a entrevista da comissão sobre 2019. Dos 21 cenários, só 1 teve o mesmo valor de antes do pente fino.
Direitos de transmissão na TV
2017 (B) – R$ 747.000 (-2,73 mi; -78,5%)
2018 (C) – R$ 3.675.572 (+2,94 mi; +405,1%)
2019 (C) – R$ 8.349.488 (+1,11 mi; +15,3%)
Quadro de sócios-torcedores
2017 (B) – R$ 3.289.661 (-0,19 mi; -5,6%)
2018 (C) – R$ 1.013.716 (+0,01 mi; +1,6%)
2019 (C) – R$ 1.597.038 (-0,98 mi; -38,0%)
Renda nos jogos
2017 (B) – R$ 7.194.726 (+4,65 mi; +183,7%)
2018 (C) – R$ 4.462.034 (igual)
2019 (C) – R$ 5.811.738 (+2,92 mi; +101,4%)
Patrocínio/Marketing
2017 (B) – R$ 3.050.965 (+0,67 mi; +28,3%)
2018 (C) – R$ 2.892.150 (+0,64 mi; +28,7%)
2019 (C) – R$ 3.690.214 (+1,93 mi; +110,1%)
Faturamento do clube (receita total)
2017 (B) – R$ 17.971.188 (+2,12 mi; +13,3%)
2018 (C) – R$ 12.401.650 (+3,63 mi; +41,4%)
2019 (C) – R$ 21.594.461 (+3,11 mi; +16,8%)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2017 (B): -32.795.861 (-28,19 mi)
2018 (C): -18.804.746 (-16,85 mi)
2019 (C): -2.573.353 (-5,27 mi)
Evolução do passivo do clube (circulante + não circulante)
2017 (B) – R$ 155.530.004 (+89,61 mi; +135,9%)
2018 (C) – R$ 173.150.141 (+119,60 mi; +223,3%)
2019 (C) – R$ 172.399.861 (-49,60 mi; -22,3%)
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