Em 22 de junho de 2014, no Maracanã, a Bélgica venceu a Rússia por 1 x 0, gol de Origi. Na bancada de imprensa, saí dali com a impressão de ter visto o pior time daquela Copa – ao todo, vi oito jogos in loco. A seleção russa era horrorosa, com qualidade técnica baixíssima e pouca organização tática, mesmo comandada pelo italiano Fabio Capello, que admitia a limitação. Passados quatro anos e agora treinada pelo russo Cherchesov, a seleção surge com um nível de combatividade impressionante, fazendo ótimo papel como país-sede. Um resultado entregue em cima da hora, pois a Rússia não ganhava um jogo desde outubro.
No Mundial de 2018, obteve logo resultados expressivos, com uma classificação antecipada às oitavas com duas vitórias. O choque de realidade veio diante do Uruguai, com um 0 x 3 categórico. Dali, um confronto eliminatório contra a Espanha, quase protocolar devido ao nível técnico do adversário. No Luzhniki, tomado por 78 mil torcedores, o anfitrião jogou como podia, mais precavido na defesa, e não deu espaço a um time com dificuldade para fazer infiltrações. Nesta Copa, a Espanha foi uma decepção. Manteve a sua característica de posse de bola e troca de passes, mas acabou deixando arranhada a imagem desse jogo (‘tiki-taka’).
A partida nas oitavas de final resume isso: 1.029 passes completados, recorde desde 1966, segundo dados do departamento de análise da ESPN, que levantou todos os jogos do Mundial desde então. Reflexo dos 74% de posse. Até finalizou, com 25 x 6 entre tentativas certas e erradas, mas este dado não leva em consideração o perigo dos lances, com chutes de longe e arremates travados pela defesa, com o mandante com muita disposição (percorreu 146 km em 120 min!). No gol de Akinfeev, apenas uma bola, num gol contra.
O lance aconteceu aos 12 minutos e poderia ter sido uma sentença, mas a Rússia empatou ainda no 1T, num pênalti claro de Piqué, que cortou com o braço. Dzyuba converteu e o jogo seguiu de maneira entendiante, com a campeã de 2010 sem qualquer aptidão para conduzir um ataque decente. Foi assim no 2T e na prorrogação, com a definição nos pênaltis. Com Igor Akinfeev como herói, defendendo dois pênaltis. O mesmo goleiro criticado em 2014, símbolo de um time pouco promissor. Mas o tempo passou… para a Rússia e para a Espanha.
Rússia* nas quaras de final (5 vezes, com 1 classificação)
1958 – Eliminada, 0 x 2 Suécia
1962 – Eliminada, 1 x 2 Chile
1966 – Passou, 2 x 1 Hungria
1970 – Eliminada, 0 x 1 Uruguai
2018 – A conferir
* Como União Soviética até 1990
Campanha da Espanha em 2018: 1V, 2E e 1D, com 7 GP e 6 GC