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Violência no ônibus do Fortaleza

Eis a materialidade da violência desenfreada no futebol pernambucano. Imagem: reprodução.

Diante de 25 mil torcedores, Sport e Fortaleza empataram em 1 x 1 na Arena Pernambuco, num bom jogo pela 4ª rodada da Copa do Nordeste de 2024. Cercado de expectativa, o duelo marcou o reencontro dos finalistas da edição de 2022. Em campo, tudo normal. Fora dele, o caos corriqueiro na operação do estádio em São Lourenço da Mata, com estradas asfixiadas e transporte público escasso e com tempo limitado (como o metrô funcionando só até meia-noite, apesar do fim do jogo às 23h30). Já são onze anos assim, sem que nenhum gestor público mergulhe de fato na solução. Mas o pior ainda estava por vir.

No meio disso, o ônibus com a delegação do Fortaleza, com jogadores, membros da comissão técnica e dirigentes. Na saída pelas vias escuras que cercam o estádio, mas já a oito quilômetros de distância do campo, o veículo foi atacado com pedras e bombas nas janelas, gerando terror nos passageiros. Nem mesmo a presença de escolta policial evitou o ataque de dezenas de criminosos travestidos de torcedores.

Terror na saída do estádio

Ao todo, seis jogadores do laion ficaram feridos e foram socorridos no Hospital Português, com cortes e estilhaços. O lateral-esquerdo Escobar precisou de 13 pontos pelo corpo e ainda sofreu trauma cranioencefálico. Das testemunhas, como o CEO do clube, Marcelo Paz, o relato de “camisas amarelas” entre os autores.

Essas tais camisas amarelas remetem à maior torcida uniformizada do Sport, que até de CNPJ já mudou devido aos casos de violência. E a ficha corrida é mesmo enorme.

– Agressão a torcedores comuns do time visitante (Corinthians) num jogo Sub 17
– Pedra no ônibus do Náutico
– Pedra e bomba no ônibus do Fortaleza
– Brigas em estádios fora de Pernambuco (com várias perdas de mando de campo)
– Ataque em festa de torcedores comuns de clube rival (Santa Cruz)
– Invasão e agressão a uma bombeira dentro do campo da Ilha do Retiro
– Ataque a torcedores do visitante (Ceará) num restaurante antes da Copa do Nordeste
– Campo de batalha na Abdias de Carvalho antes de clássicos
– Roubos, brigas em estações de metrô e depredação de ônibus

Os exemplos do dia a dia

Eu poderia seguir listando, mas isso tudo são só lembranças de cabeça de atos nos últimos anos. Mas já são uns 20 anos de pista com parte dos integrantes agindo prioritariamente assim. É a cultura da violência tendo o futebol apenas como pretexto. E o que impressiona, depois de tanto tempo acompanhando, é a inércia no combate a isso. A escalada da violência no futebol pernambucano, a partir de um estado permissivo, baseado em notas de repúdio e lamentação de gestores, só fez aumentar. Exponencialmente. Já ocorreram até mortes envolvendo “supostos integrantes” de organizadas.

Durante a live do Podcast 45 Minutos, após o ataque sofrido pelos tricolores, dei o seguinte exemplo: Imagine um ônibus da companhia Princesa do Agreste levando 40 pessoas do Crato para o Recife. Aí, chegando no Terminal Integrado de Passageiros (TIP) ocorre um ataque igual. O que aconteceria com os infratores? Como o poder público agiria na investigação, repressão e punição? Na “vida normal” isso seria inaceitável, certo? Como seria um soco no meio da rua, uma pedra arremessada etc.

Notas de repúdio e pouca ação

Pois é, aí voltamos a olhar para o futebol e tudo parece ser mais lento e, sobretudo, mais brando do que na vida regular em sociedade. E assim aquela pedra “ontem” virou uma bomba “hoje”. Afinal, a pedra já não bastava para destilar o ódio. E isso tudo, lá atrás, era “só” a ofensa, com a liberdade para odiar sentado na arquibancada do estádio. O ato que saiu da arquibancada há bastante tempo e cresceu da pior forma possível.

Numa época tomada por notas de repúdio de todas as partes, como Sport, FPF, CBF e Governo de Pernambuco, a falta de respostas rápidas a mais um ato covarde, que já foi uma tragédia de fato (e que poderia ter sido ainda maior), passa só a impressão de que infelizmente não foi o último. E essa impressão não é de hoje. Já tem alguns anos que os casos vão sendo empilhados e o “Basta!” nunca soa algo definitivo.

Violência não pode ser vista como definitiva

Definitivo realmente é o poder de uma bomba, algo já dentro da realidade de grupos criminosos que usam clubes de futebol como escudo – não só em Pernambuco, sendo franco. Mas não é aceitável se resignar e simplesmente seguir. Seja no aumento do efetivo de segurança pública, seja no entendimento de que esses grupos são focados em violência, seja na aceleração da implantação do sistema de reconhecimento facial dos estádios, seja na melhora da educação, das condições estruturais, as ações existem. Não é pouca a coisa a se fazer. Entretanto, alguém precisa fazer.


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