O gráfico com a evolução das receitas e das pendências do leão do Recife nesta década.
Em campo, o Sport foi campeão pernambucano e obteve o acesso na Série B do Campeonato Brasileiro, o fato mais importante. Comparando o desempenho com as finanças do clube, é algo que beira o inacreditável, pois o rubro-negro teve a sua menor receita nesta década. Cifra alguns níveis abaixo do histórico, diga-se.
A passagem na segunda divisão nacional ocorreu no primeiro ano sem a “cláusula para-quedas” da TV e custou muito caro ao leão, que viu a receita de transmissão sumir – durante 20 anos, o clube teve a (extinta) benesse, como integrante do Clube dos 13. Caiu de R$ 43 milhões para cerca de R$ 6 mi (a cota regular da B), valor informado pelo presidente Milton Bivar ao longo do ano. A falta de lastro econômico para esta situação provocou um efeito dominó na Ilha. À parte dos acordos firmados com alguns atletas de 2018, o clube viu o surgimento (e aumento) de outras dívidas, quase sempre pesadas.
Porém, voltemos à receita. O faturamento caiu de R$ 104,0 milhões, patamar mantido por três anos, para R$ 39,2 milhões (-64%). O último dado abaixo disso havia sido em 2010, com R$ 28.834.249, com o Sport também presente na segundona. Corrigindo aquele valor de 12/2010 para 12/2019 via IPCA, através da calculadora do Banco Central, o dado ficaria atualizado em R$ 48.303.358. Ou seja, o resultado recente é ainda menor na prática.
Outras fontes importantes também registraram valores menores, como quadro de sócios (menos da metade) e marketing. O único aumento visível foi no departamento patrimonial, subindo de R$ 4,7 mi para R$ 5,2 mi. Diferença irrisória se comparada às reduções citadas.
O custo elevado para o acesso
Somando tudo e tirando as deduções, como INSS e taxas da federação (R$ 478.244), a receita líquida foi de R$ 37.822.550. Dividindo por “13,3”, considerando 13º salário e férias, cerca de R$ 2,84 milhões para operar o clube a cada mês – em 2018, numa gestão catastrófica, essa média foi de R$ 7,45 mi. Lembra do início do texto, sobre a relação desempenho/finanças? Pois é. A operação do clube custou bem mais que a receita em 2019, com a despesa totalizando R$ 60.466.910. Assim como ocorreu na divulgação das receitas (sem distinção entre TV e bilheteria), o balanço publicado pelo clube na Folha de Pernambuco, em 29 de abril, não é claro em relação ao gasto com o futebol, citando R$ 43,2 milhões em “custo das atividades” – por sinal, já passou da hora de expor o demonstrativo de maneira mais detalhada. De todo modo, o dado absoluto gerou um número preocupante, para 2020 inclusive: déficit de R$ 22,6 milhões. Neste século, desde 2001 mesmo, só não foi pior que o exercício de 2015 (R$ 26,5 mi).
Dívidas, empréstimos, ações na justiça
O resultado negativo é agravado pelo fato de ter sido o 7º déficit consecutivo. São sete anos com o Sport tendo uma despesa maior que a receita – na soma nominal, um negativo de R$ 96.027.643 (!). Algo que vai inviabilizando o clube a médio (ou curto?) prazo. Por exemplo, o passivo. Até diminuiu, em quase R$ 4 milhões. Contudo, o passivo circulante, com pendências de até 12 meses, aumentou novamente, agora de R$ 138 mi para R$ 150 mi. Como por exemplo as obrigações trabalhistas, que passaram de R$ 22,3 mi para R$ 32,4 mi (+45%). E as obrigações tributárias seguem pesadíssimas, em R$ 56 milhões, com a direção tentando convertê-las, de novo, para o passivo não circulante, de longo prazo. Em 2019 não conseguiu. O clube segue devendo até a dirigentes e ex-dirigentes, algo que sempre funcionou como alternativa (antiga/antiquada) de receita. Somando os 8 nomes, R$ 5,7 milhões. Ah, também deve R$ 1,5 milhão à FPF, numa antecipação para pagar parte da folha do futebol. E o acesso, que garantiu a volta de uma enorme cota, pode amenizar o próximo quadro contábil, mas é preciso destacar que o Sport devia R$ 16,5 milhões à Globo, numa pendência arrastada de 2019 para 2020, onde enfim pôde trabalhar a quitação. A vida do leão não está fácil.
Também com déficit no patrimônio líquido
Mesmo considerando o enorme patrimônio social do clube, avaliado na nota em R$ 149 milhões (Ilha do Retiro, sede, terrenos, ativos etc), o Sport passou a ter, na última temporada, um déficit patrimonial, uma vez que o acumulado negativo é de R$ 155 milhões. Ou seja, um saldo negativo de R$ 5.967.547. Aqui, o único ponto “a favor” é o valor congelado dos bens. Na prática, valem muito mais que o apresentado no relatório – ocorre o mesmo com Náutico (Aflitos) e Santa Cruz (Arruda).
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, considerando os últimos três balanços do Sport – e as respectivas séries nacionais.
Direitos de transmissão na TV
2017 (A) – R$ 41.257.138
2018 (A) – R$ 43.113.030 (+4,4%; +1,85 mi)
2019 (B) – Indefinido*
Quadro de sócios-torcedores
2017 (A) – R$ 12.912.158
2018 (A) – R$ 13.865.621 (+7,3%; +0,95 mi)
2019 (B) – R$ 6.416.249 (-53,7%; -7,44 mi)
Renda nos jogos
2017 (A) – R$ 19.517.910
2018 (A) – R$ 8.065.506 (-58,6%; -11,45 mi)
2019 (B) – Indefinido*
Patrocínio/Marketing
2017 (A) – R$ 14.943.190
2018 (A) – R$ 5.656.479 (-62,1%; -9,28 mi)
2019 (B) – R$ 4.588.752 (-18,8%; -1,06 mi)
* O clube informou a “receita de futebol” em R$ 22.423.579, sem dividir entre bilheteria, TV e outras fontes. No balanço anterior esta somava foi de R$ 79.242.134
A seguir, o histórico de receitas do Sport nesta década. Após três anos acima de R$ 100 milhões, o clube regrediu bastante de patamar, se distanciando financeiramente de Bahia, Fortaleza e Ceará.
Faturamento do clube (receita total)
2011 (B) – R$ 46.875.544
2012 (A) – R$ 79.807.538 (+70,2%; +32,93 mi)
2013 (B) – R$ 51.428.086 (-35,5%; -28,37 mi)
2014 (A) – R$ 60.797.294 (+18,2%; +9,36 mi)
2015 (A) – R$ 87.649.465 (+44,1%; +26,85 mi)
2016 (A) – R$ 129.596.886 (+47,8%; +41,94 mi)
2017 (A) – R$ 105.471.746 (-18,6%; -24,12 mi)
2018 (A) – R$ 104.098.716 (-1,3%; -1,37 mi)
2019 (B) – R$ 39.208.327 (-62,3%; -64,89 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2011 (B): +321.305
2012 (A): +22.541.556
2013 (B): -4.963.656
2014 (A): -8.627.606
2015 (A): -26.528.983
2016 (A): -566.411
2017 (A): -18.313.641
2018 (A): -14.382.986
2019 (B): -22.644.360
Evolução do passivo do clube (circulante + não circulante)
2011 (B) – R$ 45.278.851
2012 (A) – R$ 27.381.926 (-39,5%; -17,89 mi)
2013 (B) – R$ 22.751.467 (-16,9%; -4,63 mi)
2014 (A) – R$ 73.396.626 (+222,6%; +50,64 mi)
2015 (A) – R$ 121.167.577 (+65,0%; +47,77 mi)
2016 (A) – R$ 125.080.279 (+3,2%; +3,91 mi)
2017 (A) – R$ 183.562.095 (+46,7%; +58,48 mi)
2018 (A) – R$ 193.439.749 (+5,3%; +9,87 mi)
2019 (B) – R$ 189.540.801 (-2,0%; -3,89 mi)
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