O gráfico com a evolução das receitas e das pendências do alvinegro cearense nos últimos 7 anos.
Pelo 5º ano consecutivo, o Ceará terminou com saldo positivo na relação entre receitas e despesas. Trata-se de um cenário raro no futebol brasileiro, ainda mais em clubes com patamar financeiro deste porte. Ao ampliar esta sequência em 2019, o clube registrou o maior superávit de sua história, com R$ 5,76 milhões.
Nos cinco exercícios, acumulado é de R$ 13.214.062, considerando valores nominais – ou seja, dinheiro para investir e para se estruturar, como o blog já havia comentado no texto do balanço anterior. E foi exatamente o que o vozão fez, com o valor sendo “investido quase que de maneira integral, ao longo do ano, nas categorias de base, aquisição de direitos econômicos de atletas, na infraestrutura do clube e, principalmente, na redução de passivos existentes”, como frisa a nota sobre o novo demonstrativo contábil.
O balanço foi aprovado em 28 de abril, numa reunião online dos conselheiros, com o relatório sendo publicado no dia seguinte. Indo além do saldo, é preciso pontuar que a captação de receitas de janeiro a dezembro resultou numa cifra recorde, de R$ 98,07 milhões. De 2017 para 2018 o aumento havia sido de R$ 32 milhões. De 2018 para 2019 a evolução manteve o porte, em R$ 33 milhões. Neste caso, o aumento de 51% chama atenção pelo fato de o clube ter disputado a mesma divisão nos dois anos – no primeiro comparativo subiu da B pra A.
Curiosamente, mesmo sendo a maior receita já contabilizada pelo Ceará, o dado acabou abaixo do arquirrival depois de muito tempo. O Fortaleza registrou R$ 120,4 milhões na temporada, ou R$ 22,4 mi a mais. E no campo o tricolor foi, de fato, bem melhor (campeão x vice no Estadual, campeão x quartas no Nordestão e 9º x 16º na Série A). Rivalidade à parte, a permanência do vozão significou muita coisa, mesmo com o aperreio de uma campanha de 39 pontos. Afinal, Série A = TV = $. E a verba de transmissão é, disparada, a maior fonte do clube. Em 2019 foram R$ 45,6 milhões, quase o dobro do ano anterior. Aumento bruto e proporcional, com a influência na receita total passando de 38,6% para 46,5%.
O impacto das vendas milionárias
Na sequência, num nível bem abaixo, vem a venda de atletas. Abaixo, frisando, em comparação à tevê. Ao todo, o clube faturou R$ 14,7 milhões na negociação de direitos econômicos – sobretudo via Felipe Jonantan (R$ 6 mi), Éverson (R$ 4 mi) e Valdo (R$ 3 mi). O clube enxerga isso como uma tendência, explicada pela aspa sobre a utilização do superávit. Só no CT Luís Campos o clube injetou R$ 7 milhões. Isso segue no futebol propriamente dito. No elenco profissional, segundo o balanço, o clube detém percentuais de 30% a 100% de 21 atletas – sendo 7 com 100%. Na base o nº de atletas é o mesmo, também com variação na fatia do clube, que tem 100% de 12 nomes.
A maior receita, a maior despesa
A despesa total do Ceará também foi recorde. Somando todos os custos, R$ 90,6 milhões. De fato, o elenco montado foi caro, com aquisições fortes no mercado (Wescley, Leandro Carvalho, Luiz Otávio e Richard), além dos investimentos internos já citados. Apesar do relatório bem produzido e entregue antes do prazo final, o gasto com o “futebol” carece de mais informações. Nos dois anos anteriores, o Ceará havia informado o valor gasto (sobretudo em salários), somando profissional e base. No caso, R$ 21,4 mi em 2017 e R$ 48,7 mi em 2018. Desta vez, o custo não foi destrinchado. Entre as despesas, cita R$ 36,4 milhões com pessoal e encargos (+9,1 mi) e R$ 42,6 milhões com custos gerais e administrativos (+16,1 mi). Por fim, o passivo. Dos clubes do G7 do NE, o Ceará tem o menor valor, de longe. Somando os passivos circulante e não circulante, são R$ 16 milhões, sendo R$ 26 mi a menos que o Fortaleza e R$ 249 mi (!) em relação ao Bahia. O valor é controlável.
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, considerando os últimos três balanços do Ceará – e as respectivas séries nacionais.
Direitos de transmissão na TV
2017 (B) – R$ 12.741.335
2018 (A) – R$ 25.050.959 (+96,6%; +12,30 mi)
2019 (A) – R$ 45.642.002 (+82,1%; +20,59 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2017 (B) – R$ 2.017.142
2018 (A) – R$ 7.081.923 (+251,0%; +5,06 mi)
2019 (A) – R$ 9.577.172 (+35,2%; +2,49 mi)
Renda nos jogos
2017 (B) – R$ 8.099.987
2018 (A) – R$ 10.826.541 (+33,6%; +2,72 mi)
2019 (A) – R$ 13.204.876 (+21,9%; +2,37 mi)
Patrocínio/Marketing
2017 (B) – R$ 4.390.802
2018 (A) – R$ 9.688.657 (+120,6%; + 5,29 mi)
2019 (A) – R$ 8.238.780 (-14,9%; -1,44 mi)
A seguir, o histórico de receitas do Ceará nos últimos sete anos, com um salto de R$ 80,9 milhões entre 2013 e 2019. Este foi o período em que encontrei dados oficiais do clube.
Faturamento do clube (receita total)
2013 (B) – R$ 17.112.683
2014 (B) – R$ 21.618.881 (+26,3%; +4,50 mi)
2015 (B) – R$ 29.590.400 (+36,8%; +7,97 mi)
2016 (B) – R$ 28.456.481 (-3,8%; -1,13 mi)
2017 (B) – R$ 31.901.433 (+12,1%; +3,44 mi)
2018 (A) – R$ 64.787.133 (+103,0%; +32,88 mi)
2019 (A) – R$ 98.077.486 (+51,3%; +33,29 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2013 (B): -680.349
2014 (B): -442.872
2015 (B): +738.102
2016 (B): +500.334
2017 (B): +3.193.659
2018 (A): +3.013.201
2019 (A): +5.768.766
Evolução do passivo do clube (circulante + não circulante)
2013 (B) – R$ 11.655.430
2014 (B) – R$ 12.250.718 (+5,1%; + 0,59 mi)
2015 (B) – R$ 10.851.789 (-11,4%; -1,39 mi)
2016 (B) – R$ 12.689.282 (+16,9%; +1,83 mi)
2017 (B) – R$ 10.145.773 (-20,0%; -2,54 mi)
2018 (A) – R$ 13.011.519 (+28,2%; +2,86 mi)
2019 (A) – R$ 16.803.756 (+29,1%; +3,79 mi)
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