Dyogenes de Andrade consultando o VAR na Ilha, na 29ª rodada. Foto: Anderson Stevens/Sport.
Num mesmo minuto, já nos acréscimos, o Sport reclamou de dois pênaltis não marcados no jogo contra o Palmeiras, em 9 de janeiro. Um sobre o atacante Brocador, agarrado pelo braço, e outro de Rony, com a bola batendo no seu abraço, aberto após o corte de um companheiro. O relógio já marcava 49 minutos e o árbitro, mesmo consultando o VAR (no segundo lance), não confirmou. O jogo terminou 1 x 0 para o verdão, com os rubro-negros reclamando bastante.
Dois dias depois, o Sport protocolou um ofício na CBF com 4 pedidos acerca da arbitragem. Segundo a nota oficial do leão, não só pelo último jogo. Eis o trecho: “procedimentos tomados em relação aos fatos ocorridos em relação as arbitragens dos jogos do Sport, disputados no Campeonato Brasileiro de 2020/2021, em especial, no último jogo, diante do Palmeiras”.
Na minha opinião, o lance foi gritante e a reclamação faz parte. Todos os clubes já fizeram isso em algum momento, nesta ou em edições passadas. Seja pela busca por soluções ou por pura pressão, jogando luz em um problema. Mas até para isto parece haver um caminho a ser tomado, dentro do que realmente é possível mudar. Há uma semana o Bahia fez um vídeo de 3 minutos com todos os lances errôneos na visão do clube. A gota d’água foi um impedimento invisível mesmo no VAR – que anulou um gol de Gilberto contra o Grêmio, na 28ª rodada.
A gota d’água para o Sport, imerso na mesma disputa contra o rebaixamento, foi agora, num lance capital que poderia valer um ponto importantíssimo. Porém, a solução pedida pelos pernambucanos é descabida. Não funciona sequer como pressão. Na verdade, expõe o clube e tira a seriedade. Ou alguém acha que a CBF irá tirar o VAR dos jogos do Sport? Foi o pedido.
A seguir, os pedidos feitos pelo Sport, em negrito. Abaixo de cada tópico, observações do blog.
1) Oferecer denúncia ao quadro de árbitros e do VAR, de acordo com o artigo 259 do CBJD;
Blog: Sobre os nomes presentes na escala, é comum ver este tipo de denúncia, que por vezes resulta no afastamento do quadro nos jogos do time ou mesmo no afastamento geral das escalas, com a “geladeira”. O texto-base do artigo 259: “Deixar de observar as regras da modalidade”.
2) Requer a anulação da partida em razão do descumprimento das Regras e Disposições do IFAB, conforme fundamentação anexada ao pedido;
Blog: Seja qual for o lance, do Brocador ou de Rony, creio que tenha sido um “erro de fato”, e não um “erro de direito”, que poderia possibilitar a anulação. O segundo lance, por mais evidente que seja, foi de interpretação – até mesmo pelo texto da Fifa, cada vez mais confuso. Erro de direito seria interferência externa ou o desconhecimento da regra, à parte da subjetividade – embora seja a forma como o Sport observou, a partir do primeiro tópico (artigo 259). Não vai conseguir.
3) Requer a não utilização de arbitragem de vídeo (VAR) nos jogos a serem disputados pelo Sport na Série A 2020;
Blog: Aqui, o ponto no qual a nota saiu completamente da razoabilidade sobre uma reclamação justa. Solicitar a retirada do VAR, do recurso em si, já é inacreditável porque o clube sabe que não vai conseguir – a utilização do VAR foi definida no conselho arbitral, valendo em todos os 380 jogos. Esse pedido só expõe o Sport. Além disso, é enxergar o problema na tecnologia, e não no uso dela. O VAR, que é necessário, é utilizado tanto em lances subjetivos (casos desta partida) quanto em lances objetivos, com linhas de impedimento. Não fosse o VAR no jogo anterior, o Fortaleza teria empatado na Ilha. Ou seja, o Sport teria perdido 2 pontos, e o dano seria maior que o jogo do Palmeiras, onde poderia ter somado 1. Contra o Bahia, curiosamente também aos 49 do 2º tempo, o VAR anulou o gol de empate do tricolor e o Sport venceu por 2 x 1 em Salvador.
4) Requer perícia técnica de vídeo dos lances em questão, e áudio da comunicação entre árbitros de campo de do VAR, dando ciência ao clube de todo o conteúdo;
Blog: Pela transmissão do Premiere, a impressão é de que apenas o segundo lance foi avaliado, o que já seria um erro. Há algum áudio indicando que não aconteceu nada no primeiro (do Broca)? Seria importante saber disso, porque ignorar por completo poderia caracterizar a má utilização do VAR. Para o segundo lance foram cinco minutos de paralisação, com o diálogo entre Dyogenes de Andrade (árbitro) e Igor Benevenuto (árbitro de vídeo). Saber o que foi alegado ali faz parte e há “jurisprudência”, pois o Fortaleza já teve acesso a uma material do tipo neste mesmo Brasileirão.
A nota oficial do Sport foi assinada pelo atual presidente rubro-negro, Carlos Frederico, que assumiu após a licença de Milton Bivar. Obviamente, o tema foi amplamente discutido no clube, até porque desde sábado outros diretores reclamaram bastante sobre a partida. Justamente por isso, por ter certeza que várias pessoas conversaram sobre a nota, é inacreditável o requerimento sobre o VAR. Sabe onde não há o VAR? Na Série B. Ainda…
Leia a análise do jogo
VAR ignora pênalti aos 49 minutos e Sport perde do Palmeiras na Ilha do Retiro