O gráfico com a evolução das receitas e pendências do timbu do Recife na última década.
Após a “versão sintética” na temporada passada, faltando até mesmo a receita do clube, o Náutico lançou um demonstrativo contábil com mais informações em 2020. Embora tenha apenas duas páginas, é possível conferir quase todos os dados analisados no blog. Por sinal, a direção do timbu também relançou os balanços de 2018 e 2019, com revisões em todos os números – numa prática contábil legal. Ou seja, o quadro financeiro do clube de Rosa e Silva passou por um pente fino.
Começo pelo balanço realmente inédito, de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2020. Embora o calendário de jogos do alvirrubro tenha sido bem maior, com a disputa da Série B (38 partidas) em vez da Série C (entre 18 e 26), o faturamento foi quase o mesmo, numa consequência esperada devido à pandemia da Covid-19. Na verdade, a receita oscilou para baixo, de R$ 17,5 mi para R$ 17,0 mi. Os portões fechados nos Aflitos influenciaram, com queda na bilheteria. Porém, ao contrário de outros clubes do NE já examinados no blog, não é possível verificar este dado com exatidão, pois o Náutico lista o segmento como “renda com competição”, somando bilheteria, premiações e receitas de transmissão na tevê.
Ainda sobre o papel da torcida, vale observar o quadro de sócios, com alta de quase meio milhão, totalizando R$ 3,7 milhões – mesmo sem o benefício de assistir aos jogos no estádio. Por fim, entre as principais receitas, a venda de atletas. Em 2018 o clube faturou só R$ 150 mil, mas o dado subiu para R$ 4,0 mi em 2019 e terminou em R$ 3,6 mi em 2020 – com o timbu recebendo parte da venda do atacante Thiago, ao Flamengo. Apenas esses três pontos (renda de competição, mensalidades e negociações de direitos econômicos) geraram R$ 13,0 milhões. Como comparação, a receita absoluta do Santa, que segue na terceirona, foi de R$ 13,7 mi.
Em relação às despesas, a participação na Série B cobrou um preço maior – tanto pelo tempo de atividade quanto pelo nível técnico do elenco. O futebol profissional consumiu R$ 13,2 milhões, ou 77,6% da receita. Em 2019 consumiu R$ 9,6 mi, ou 55,2% da receita. Parece claro que o restante do clube (esportes amadores, operações, dívidas etc) demanda mais do que 22,3% da receita – levando em conta o valor divulgado agora. Tanto que a despesa acabou sendo elevada, em R$ 21,6 milhões, resultando no maior déficit em cinco anos: R$ 4,6 mi.
Assim, este foi o 10º ano consecutivo em que a despesa do Náutico superou a receita. Uma década no vermelho – a soma nominal, sem correção, dá R$ 40.270.326 negativos. E olhe que, friamente, esses três balanços são mais conservadores que o histórico do clube. Continuando sobre despesas, vale observar o gasto com o “Executivo”, na ordem de R$ 5,69 mi. Contudo, o dado também soma pendências na Justiça do Trabalho, acordos já firmados e despesas extraordinárias. Inclusive, o orçamento de 2021 estima um gasto R$ 4,8 mi neste ponto.
Refeito, o passivo volta a subir, mas sem instabilidade
Na divulgação original do balanço de 2018, chamou bastante a atenção o valor do passivo do Náutico, somando as pendências de curto prazo (circulante) e de longo prazo (não circulante). Afinal, a cifra de R$ 284 milhões era, naquele momento, a maior dívida do NE. O aumento se deveu ao fato do reconhecimento de todas as dívidas por parte clube, com renegociações (e amortizações) nos anos seguintes. Neste lançamento triplo de documentos em 29 de abril de 2021, o cenário acabou sendo “equalizado”. A redução do passivo aparece já em 2018, agora com R$ 154 milhões – e vez de um grande corte apenas em 2019, como havia sido.
Em 2020 o montante terminou em R$ 160 milhões, sendo R$ 5 mi a mais sobre o quadro recalculado de 2019 e R$ 14 mi a mais sobre o quadro original de 2019. Outra consequência do ano difícil. Nos últimos três anos, o passivo a longo prazo (acima de doze meses) vem oscilando entre R$ 150 mi e R$ 151 mi, estável. Portanto, a diferença acaba sendo no passivo circulante. E aí o dado subiu de R$ 5,1 mi (2019) para R$ 9,7 mi (2020), com novas obrigações tributários e encargos sociais, além de empréstimos (R$ 156 mil). Considerando que não há previsão de torcida presente em 2021, novamente na segundona, o cenário no próximo balanço tende a ser semelhante.
Abaixo, um comparativo com quatro frentes importantes na composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos quatro balanços do Náutico – e as respectivas séries no BR.
Direitos de transmissão na TV
2017 (B) – R$ 834.124
2018 (C) – Não informado
2019 (C) – Não informado
2020 (B) – Não informado
Quadro de sócios-torcedores
2017 (B) – R$ 4.221.819
2018 (C) – R$ 2.497.245 (-40,8%; -1,72 mi)
2019 (C) – R$ 3.278.142 (+31,2%; +0,78 mi)
2020 (B) – R$ 3.715.582 (+13,3%; +0,43 mi)
Renda nos jogos
2017 (B) – R$ 11.033.037
2018 (C) – R$ 7.830.244 (-29,0%; -3,20 mi)*
2019 (C) – R$ 5.203.775 (-33,5%; -2,62 mi)*
2020 (B) – R$ 5.690.080 (+9,3%; +0,48 mi)*
* O dado do clube não separa bilheteria e cotas de transmissão
Patrocínio/Marketing
2017 (B) – R$ 2.076.484
2018 (C) – R$ 1.129.114 (-45,6%; -0,94 mi)
2019 (C) – R$ 1.923.520 (+70,3%; +0,79 mi)
2020 (B) – R$ 705.138 (-63,3%; – 1,21 mi)
A seguir, o histórico de receitas do Náutico nesta década, com valores entre R$ 15 mi e R$ 20 mi durante os anos fora da Série A. Na elite, receitas na casa de R$ 40 milhões.
Faturamento anual do clube (receita total)
2011 (B) – R$ 19.236.142
2012 (A) – R$ 41.089.423 (+113,6%; +21,85 mi)
2013 (A) – R$ 48.105.068 (+17,0%; +7,01 mi)
2014 (B) – R$ 15.959.176 (-66,8%; -32,14 mi)
2015 (B) – R$ 18.363.286 (+15,0%; +2,40 mi)
2016 (B) – R$ 16.723.513 (-8,9%; -1,63 mi)
2017 (B) – R$ 19.825.262 (+18,5%; +3,10 mi)
2018 (C) – R$ 14.325.243 (-27,7%; -5,50 mi)
2019 (C) – R$ 17.525.211 (+22,3%; +3,19 mi)
2020 (B) – R$ 17.047.629 (-2,7%; 0,47 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)*
2011 (B): -1.643.179
2012 (A): -392.993
2013 (A): -721.320
2014 (B): -13.346.684
2015 (B): -10.839.793
2016 (B): -4.608.166
2017 (B): -41.040
2018 (C): -2.302.666
2019 (C): -1.722.733
2020 (B): -4.651.752
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual
Evolução do passivo acumulado do clube (circulante + não circulante)
2011 (B) – R$ 62.442.207
2012 (A) – R$ 71.979.517 (+15,2%; +9,53 mi)
2013 (A) – R$ 87.816.127 (+22,0%; +15,83 mi)
2014 (B) – R$ 137.364.572 (+56,4%; +49,54 mi)
2015 (B) – R$ 149.267.447 (+8,6%; +11,90 mi)
2016 (B) – R$ 155.639.544 (+4,2%; +6,37 mi)
2017 (B) – R$ 165.936.253 (+6,6%; +10,29 mi)
2018 (C) – R$ 154.519.748 (-6,8%; -11,41 mi)
2019 (C) – R$ 155.868.532 (+0,8%; +1,34 mi)
2020 (B) – R$ 160.013.674 (+2,6%; +4,14 mi)
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