As receitas e pendências do vozão nos últimos 5 anos, com o acesso na B e a sequência na A.
A receita total do Ceará em 2021 foi, com sobras, a maior da história do clube. Ao todo, de 1º de janeiro a 31 de dezembro, o vozão arrecadou R$ 159,2 milhões, superando bem a previsão orçamentária, que foi de R$ 151,9 mi. Sobre a receita anterior, o acréscimo foi de 54%! Um ponto determinante foi o ajuste no calendário do futebol nacional, com o Brasileirão 2020 acabando só em fevereiro e com o Brasileirão 2021 começando pouco depois e terminando em dezembro.
Assim, o clube, como os demais participantes da 1ª divisão, recebeu o restante dos direitos de transmissão de 2020 e o valor integral de 2021 no mesmo período contábil. Além dos jogos exibidos, a colocação final no BR também pesa neste repasse da tevê. E o alvinegro ficou em 11º lugar nas duas edições. Desta forma, somando também a valiosa participação na Copa Sul-Americana e o vice na Copa do Nordeste, o Ceará ganhou R$ 90,5 milhões neste quesito.
Os direitos de transmissão representaram 56% da receita bruta. Em 2020, quando obteve R$ 52,7 milhões com a tevê, este percentual foi de 51%. Ou seja, aumento absoluto e aumento proporcional. A segunda maior fonte foi com a negociação de atletas, com R$ 30,2 milhões em direitos econômicos, somando Saulo Mineiro (7,1 mi), Rick (4,8 mi), Charles (3,0 mi) e Mateus Gonçalves (2,2 mi), entre outros. Curiosidade: na ordem inversa, gastou R$ 12 mi em reforços.
Mais sócios e quase o dobro de patrocínios
Ainda sobre o faturamento do Ceará, também vale destacar outros dois quesitos costumeiramente abordados no blog, as mensalidades de sócios e o apurado com patrocínios e ações de marketing. Ambos os casos com recorde. O quadro de sócios – que hoje, em abril de 2022, já passa de 40 mil adimplentes – levou R$ 13 milhões ao caixa, com aumento de quase R$ 3 mi sobre o ano anterior, completamente afetado pela pandemia da Covid-19.
Em relação ao patrocínio/marketing, pela primeira vez o departamento arrecadou mais de R$ 10 milhões num ano. Na verdade, foi bem além, chegando a R$ 15 mi, quase o dobro do balanço anterior. A bilheteria também cresceu, quadruplicando o número. Entretanto, neste caso, a renda de R$ 3 milhões obtida no Castelão ainda é bem abaixo do montante pré-2020. Para esta temporada, lembrando, a flexibilização já chegou a 100% da capacidade da arena, o que indica um valor bem maior no próximo demonstrativo contábil do Ceará.
Gasto milionário com o futebol
Partindo para as despesas, as cifras também são recordes. O futebol consumiu o maior valor já visto em Porangabuçu. Somando pessoal e encargos (62,6 mi), custos com jogos (17,5 mi), serviços terceirizados (13,4 mi) e materiais (4,7 mi), entre outros pontos, o futebol profissional despendeu um total de R$ 122.006.213. Isso representou 86% de todos os gastos do vozão – no exercício anterior, esse percentual foi de 82%. O clube ainda direcionou R$ 20,6 milhões para tocar outros setores, o administrativo, clube social e esportes amadores.
Portanto, ao todo, gastou R$ 142,6 milhões, com 53% de aumento sobre 2020. É bastante coisa, ficando o alerta sobre o valor correspondente em 2022, quando as receitas devem voltar ao patamar regular. Apesar do gasto excessivo, num ano no qual o arquirrival fez muito mais em campo com menos receita, o Ceará terminou no azul mais uma vez. É o 7º ano consecutivo tendo mais receitas que despesas. O saldo positivo do clube, desta vez, foi de R$ 327.488, evitando uma inflada maior no passivo do clube.
Balanço aponta passivo recorde também
As contas do clube foram aprovadas pelo Conselho Deliberativo numa reunião virtual em 6 de abril, com publicação imediata do relatório no site oficial, mas sem o passivo. Porém, consegui esses dados e a cifra seguiu a ordem crescente do ano. A soma dos passivos circulante (pendências de curto prazo) e não circulante (pendências acima de 12 meses) subiu 41%.
Assim, o passivo saltou de R$ 35 mi para R$ 49 mi, o maior desde que comecei a observar o alvinegro. Segundo o clube, “a necessidade de caixa provocada pela situação da pandemia que iniciou em 2020 e a necessidade de realização de investimentos contínuos com o futebol em 2020 e 2021 acarretou em um aumento imprescindível em empréstimos e financiamentos, que tornou-se a maior dívida do clube”, com R$ 22,3 milhões.
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos cinco balanços do Ceará – e as respectivas séries.
Direitos de transmissão na TV
2017 (B) – R$ 12.741.335
2018 (A) – R$ 25.050.959 (+96%; +12,3 mi)
2019 (A) – R$ 54.770.484 (+118%; +29,7 mi)
2020 (A) – R$ 52.737.740 (-3%; -2,0 mi)
2021 (A) – R$ 90.500.097 (+71%; +37,7 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2017 (B) – R$ 2.017.142
2018 (A) – R$ 7.081.923 (+251%; +5,0 mi)
2019 (A) – R$ 9.577.172 (+35%; +2,4 mi)
2020 (A) – R$ 10.104.837 (+5%; +0,5 mi)
2021 (A) – R$ 13.072.936 (+29%; +2,9 mi)
Renda nos jogos
2017 (B) – R$ 8.099.987
2018 (A) – R$ 10.826.541 (+33%; +2,7 mi)
2019 (A) – R$ 13.204.876 (+21%; +2,3 mi)
2020 (A) – R$ 698.008 (-94%; -12,5 mi)
2021 (A) – R$ 3.101.652 (+344%; +2,4 mi)
Patrocínio/Marketing
2017 (B) – R$ 4.390.802
2018 (A) – R$ 9.688.657 (+120%; +5,2 mi)
2019 (A) – R$ 9.502.315 (-1%; -0,1 mi)
2020 (A) – R$ 8.047.670 (-15%; -1,4 mi)
2021 (A) – R$ 15.705.764 (+95%; +7,6 mi)
A seguir, o histórico de receitas, saldos e dívidas do Ceará nos últimos anos, com salto econômico a partir da participação na 1ª divisão nacional, com o 5º ano garantido em 2022.
Faturamento anual do Ceará (receita total)
2013 (B) – R$ 17.112.683
2014 (B) – R$ 21.618.881 (+26%; +4,5 mi)
2015 (B) – R$ 29.590.400 (+36%; +7,9 mi)
2016 (B) – R$ 28.456.481 (-3%; -1,1 mi)
2017 (B) – R$ 31.901.433 (+12%; +3,4 mi)
2018 (A) – R$ 64.787.133 (+103%; +32,8 mi)
2019 (A) – R$ 104.866.088 (+61%; +40,0 mi)
2020 (A) – R$ 103.163.458 (-1%; -1,7 mi)
2021 (A) – R$ 159.287.735 (+54%; +56 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)*
2013 (B): -680.349
2014 (B): -442.872
2015 (B): +738.102
2016 (B): +500.334
2017 (B): +3.193.659
2018 (A): +3.013.201
2019 (A): +5.768.766
2020 (A): +377.762
2021 (A): +327.488
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual
Evolução do passivo acumulado do clube (circulante + não circulante)
2013 (B) – R$ 11.655.430
2014 (B) – R$ 12.250.718 (+5%; + 0,5 mi)
2015 (B) – R$ 10.851.789 (-11%; -1,3 mi)
2016 (B) – R$ 12.689.282 (+16%; +1,8 mi)
2017 (B) – R$ 10.145.773 (-20%; -2,5 mi)
2018 (A) – R$ 13.011.519 (+28%; +2,8 mi)
2019 (A) – R$ 16.803.756 (+29%; +3,7 mi)
2020 (A) – R$ 35.263.673 (+109%; +18,4 mi)
2021 (A) – R$ 49.948.270 (+41%; +14,6 mi)
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