O gráfico com a evolução das receitas e das pendências do leão do Recife nos últimos 7 anos.
Num ano com cinco presidentes diferentes, com o atual gestor, Yuri Romão, assumindo somente em 23 de julho, o resultado financeiro do Sport acabou sendo proporcionalmente caótico. Embora tenha registrado a sua maior receita total considerando as últimas três temporadas, com R$ 94,1 milhões, o clube terminou com um saldo negativo de R$ 70,2 milhões!
A subtração da receita líquida (de R$ 83,6 mi) pelas despesas entre 1º de janeiro e 31 de dezembro de 2021 teve o pior resultado do clube neste século. Digo isso, partindo de 2001, porque é o recorte minimamente possível de examinar, pois este déficit tende a ser o maior em muito mais tempo – ou mesmo em todos os tempos, necessitando até de uma conversão de moeda, claro.
Como se chegou a uma “despesa” absoluta de R$ 153,9 milhões num ano? Não foi só com o futebol. Por sinal, o gasto com as atividades esportivas foi de R$ 65,1 milhões, ou 42,3% do total, sendo R$ 49,1 milhões em salários, R$ 9,0 mi em despesas com competições e R$ 6,9 mi na base e em direitos contratuais. O valor, considerando a Série A, é até aceitável para o patamar do leão, mas o desfecho disso acabou sendo o rebaixamento à Série B – o que deverá comprometer bastante o próximo balanço, a ser divulgado até 30 de abril de 2023.
Juros perto de R$ 40 milhões
Voltando à enorme despesa em 2021, o problema está no estrangulamento financeiro ao qual o Sport foi submetido nos últimos anos, com a conta sobre a pouca responsabilidade enfim chegando. Um exemplo disso está no segmento “juros passivos”, autoexplicativo, que passou de R$ 177 mil em 2020 para R$ 36,8 milhões. Foi a maior fatia das “despesas financeiras”, incluindo comissões bancárias, variações cambiais, descontos etc. Ao todo, esse montante saltou de R$ 4,0 mi para R$ 42,1 mi. Também pesou bastante o reconhecimento de ações na justiça com provável derrota, somando R$ 29,6 milhões a esta conta toda. E aqui vale um alerta. Indo além do balanço de 2021, essas ações preocupam muito mais.
Ao contrário do último balanço do rubro-negro, este detalhou melhor a “provisão para contingências”, que são as ações contra o clube num estágio já avançado. De derrota, diga-se. Na esfera trabalhista, o departamento jurídico classificou 87 processos trabalhistas como “prováveis perdas”. Isso dá R$ 29,8 milhões. Esses casos foram integralmente “provisionados” na estrutura contábil do clube. Na prática, contabilizados como dívida – o Sport pode até pagar menos, mas depende da sentença. Os assessores jurídicos ainda identificaram outras 137 ações como “possíveis perdas”, que podem chegar até R$ 54,10 milhões – ações que devem demandar mais esforço nos tribunais. Ou seja, os 224 processos somam R$ 83.944.198.
Além disso, ainda existem 100 ações judiciais no âmbito cível, registradas por prestadores de serviço e fornecedores de materiais. E também consideradas como “prováveis perdas”. Isso dá R$ 16,3 mi. Portanto, as ações provisionadas, ou já “descartadas” em termos de sucesso na sentença, entre trabalhistas e cíveis, vão demandar um pagamento de R$ 46.171.965.
O 9º déficit seguido
Esse volume de problemas, que gerou esse déficit assustador, sendo o 9º saldo negativo anual consecutivo, acabou impactando, sem surpresa, no passivo do Sport. Com aumento de 28%, a soma do passivo circulante (com pendências de até 12 meses) com o passivo não circulante (com pendências acima de 12 meses) chegou a R$ 258 milhões, o maior da história. Além da “provisão para contingências”, que entrou no passivo não circulante, pesou demais o salto das obrigações tributárias, que passaram de R$ 63,5 milhões para R$ 98,9 milhões.
E o pior, neste caso, é que são obrigações de curto prazo. Essa dívida foi impulsionada pelo não pagamento de “imposto sobre a renda retido na fonte”, o IRRF, que no último exercício contábil passou de R$ 26,1 mi para R$ 56,8 milhões. Ainda foram reconhecidos R$ 8,4 mi em débitos previdenciários junto à Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, a PGFN.
Ao menos, mais clareza no relatório
Ainda que o cenário financeiro do Sport seja bem delicado, ao menos houve mais clareza sobre os problemas, entre dívidas, prováveis dívidas e parcelamentos. O balanço oficial foi divulgado na data-limite do prazo estabelecido pela lei, ao contrário do anterior, com 22 dias de atraso. Porém, o documento segue carecendo de melhorias, como a necessidade de ser auditado por alguma empresa renomada com envolvimento no futebol brasileiro. Também precisa de um maior cuidado na definição das receitas, algo ainda incomparável ao detalhamento feito recentemente pelos rivais regionais de Salvador e Fortaleza.
Como exemplo, o dinheiro oriundo das transmissões na tevê, que não foi detalhado, tendo enorme possibilidade de classificação até errônea, pois o marketing “gerou” R$ 68 milhões, ou 10 vezes mais que o esperado. Outro “indício” disso é o valor do próprio marketing em 2020 (no balanço de 2021), justamente o mesmo da receita do futebol no demonstrativo passado.
Abaixo, um comparativo com quatro frentes importantes na composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos cinco balanços do Sport – e as respectivas séries no BR.
Direitos de transmissão na TV
2017 (A) – R$ 41.257.138
2018 (A) – R$ 43.113.030 (+4%; +1,8 mi)
2019 (B) – R$ 22.423.579 (-47%; -20,6 mi)*
2020 (A) – R$ 40.901.349 (+82%; +18,4 mi)*
2021 (A) – R$ 68.968.734 (+68%; +29,0 mi)*
* Ao contrário de outros clubes, o Sport não destrinchou a “receita de futebol” nos últimos demonstrativos, somando renda, cotas de TV e outras fontes.
Quadro de sócios-torcedores
2017 (A) – R$ 12.912.158
2018 (A) – R$ 13.865.621 (+7%; +0,9 mi)
2019 (B) – R$ 6.416.249 (-53%; -7,4 mi)
2020 (A) – R$ 4.476.553 (-30%; -1,9 mi)
2021 (A) – R$ 3.244.856 (-27%; -1,2 mi)
Renda nos jogos
2017 (A) – R$ 19.517.910
2018 (A) – R$ 8.065.506 (-58%; -11,4 mi)
2019 (B) – Indefinido*
2020 (A) – R$ 4.282.081
2021 (A) – R$ 17.088.133 (+299%; +12,8 mi)
Patrocínio/Marketing
2017 (A) – R$ 14.943.190
2018 (A) – R$ 5.656.479 (-62%; -9,2 mi)
2019 (B) – R$ 4.588.752 (-18%; -1,0 mi)
2020 (A) – R$ 7.665.675 (+67%; +3,0 mi)
2021 (A) – Indefinido*
A seguir, o histórico de receitas do Sport, com três faturamentos acima de R$ 100 milhões nos últimos onze anos. Lembrando que o leão lançou um orçamento de R$ 59 milhões para 2022.
Faturamento anual do Sport (receita total)
2011 (B) – R$ 46.875.544
2012 (A) – R$ 79.807.538 (+70%; +32,9 mi)
2013 (B) – R$ 51.428.086 (-35%; -28,3 mi)
2014 (A) – R$ 60.797.294 (+18%; +9,3 mi)
2015 (A) – R$ 87.649.465 (+44%; +26,8 mi)
2016 (A) – R$ 129.596.886 (+47%; +41,9 mi)
2017 (A) – R$ 105.471.746 (-18%; -24,1 mi)
2018 (A) – R$ 104.098.716 (-1%; -1,3 mi)
2019 (B) – R$ 39.208.327 (-62%; -64,8 mi)
2020 (A) – R$ 54.527.382 (+39%; +15,3 mi)
2021 (A) – R$ 94.131.145 (+72% +39,6 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)*
2011 (B): +321.305
2012 (A): +22.541.556
2013 (B): -4.963.656
2014 (A): -8.627.606
2015 (A): -26.528.983
2016 (A): -566.411
2017 (A): -18.313.641
2018 (A): -14.382.986
2019 (B): -22.644.360
2020 (A): -2.586.638
2021 (A): -70.284.816
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual
Evolução do passivo acumulado do clube (circulante + não circulante)
2011 (B) – R$ 45.278.851
2012 (A) – R$ 27.381.926 (-39%; -17,8 mi)
2013 (B) – R$ 22.751.467 (-16%; -4,6 mi)
2014 (A) – R$ 73.396.626 (+222%; +50,6 mi)
2015 (A) – R$ 121.167.577 (+65%; +47,7 mi)
2016 (A) – R$ 125.080.279 (+3%; +3,9 mi)
2017 (A) – R$ 183.562.095 (+46%; +58,4 mi)
2018 (A) – R$ 193.439.749 (+5%; +9,8 mi)
2019 (B) – R$ 189.540.801 (-2%; -3,8 mi)
2020 (A) – R$ 200.535.111 (+5%; +10,9 mi)
2021 (A) – R$ 258.049.760 (+28%; +57,5 mi)
Leia mais sobre o assunto
O balanço oficial do Sport sobre as contas de 2021, com publicação na Folha de Pernambuco