O trecho do ofício do governo estadual declarando a inviabilidade do pleito coral.
A eleição do Santa Cruz para o triênio 2021-2023 deveria ter acontecido em dezembro de 2020, mas acabou adiada após uma resolução do Conselho Deliberativo (CD), devido às incertezas sobre a pandemia da Covid-19, dificultando a realização do pleito presencial, e ao prolongamento do Brasileiro até o ano seguinte. Então, foi remarcada para o dia 10 de fevereiro, dez dias após o prazo de conclusão da Série C. Na véspera deste novo prazo, um novo e surpreendente adiamento.
No caso, atendendo a um comunicado do Governo do Pernambuco, assinado pelo secretário de saúde, André Longo. O documento, por sua vez, foi uma resposta ao ofício enviado pelo Santa, através do CD, Paulo Borba. O estado vetou a eleição presidencial por exceder o limite de 150 pessoas em eventos corporativos e institucionais neste período de restrição sanitária (via decreto 50.052). É curioso notar que o texto cita que o dado excede o público esperado pelo próprio clube, de 2 mil pessoas. Na minha opinião, há uma ficção neste dado. Vamos lá.
1) Até hoje, na história do Santa, a eleição com mais eleitores foi a de 2012, com 1.787 votos computados. Considerando os organizadores e os representantes das chapas, possivelmente circularam 2 mil pessoas naquele dia. Porém, isso certamente ocorreu ao longo de sete horas, das 10h às 17h, o período da votação. Não simultaneamente. Chama a atenção que o Santa Cruz tenha estimado um dado historicamente inédito, e que no cenário atual, com o quadro adimplente baixíssimo, seja ainda mais distante da realidade.
2) O clube, caso tivesse interesse, já poderia ter se preparado para organizar uma votação respeitando essa limitação simultânea, seja por ordem alfabética, por categoria ou mesmo ampliando o horário e o espaço de votação no Arruda – em vez de concentrar as urnas apenas na sede social. Há, por exemplo, o ginásio Arrudinha, no lado oposto ao local tradicional de votação.
3) A resolução do CD sobre o adiamento da eleição na data original, publicado em 20 de novembro de 2020, considerou vários pontos para a medida, um deles já sobre a presença do público devido à pandemia, tratando como “impossível”. Na ocasião, a liberação estadual era de 300 pessoas, o dobro da atual (ali, via decreto 49.055). De lá pra cá o decreto não decreto de fato ampliou a restrição, mas o clube não buscou alternativas práticas, ficando escorado nisso.
4) E daí vem mais um ponto. Ainda que se aceite a incapacidade do Santa em realizar a eleição presencial nestas circunstâncias (e eu discordo disso), havia a possibilidade de adaptação em caráter excepcional, vista em clubes de massa no país no mesmo período e pelo mesmo motivo. Com exemplo até na região, com o Bahia fazendo um pleito online de forma inédita. O Baêa testou o sistema em votações no Conselho, com 100 votos, e depois conseguiu massificar a ideia, chegando a 11 mil votos na eleiçãoexecutiva, um recorde no Nordeste. Isso foi em 12 de dezembro, já depois do primeiro adiamento coral. O Bahia, que serviu de modelo para alguns pontos da reforma estatuária, ainda não votada, poderia ser, novamente, observado no caso. O Santa alega falta de recursos para uma eleição remota. Custaria cerca de R$ 100 mil, segundo Borba. Apurei o valor do Bahia: R$ 16.250, somando votação e auditoria. Logo, parece mais falta de vontade do que recurso.
5) Por fim, o cenário no Arruda pode dar sequência a uma lógica política no futebol dos grandes clubes pernambucanos. No fim do último ano, pelo mesmo motivo, Santa e Sport adiaram as suas eleições presidenciais. Agora, em fevereiro, o Santa adia mais uma vez. Difícil não enxergar isso como um “spoiler” do Sport, cujo pleito foi pra março. Afinal, em termos organizacionais, visando a esta eleição, ambos caminharam do mesmo jeito, sem tanto interesse nas urnas.
Atualização – Uma reunião de última hora entre o atual presidente tricolor, Constantino Júnior, e os três candidatos (Roberto Freire, Joaquim Bezerra e Josenildo Dody) acordou uma vistoria no Arruda em 10/02, através da Secretaria de Saúde de PE, visando a realização da eleição em 11/02.
Em cinco décadas, o Santa teve apenas sete eleições com mais de um candidato a presidente. As demais foram por consenso, com votações simbólicas, tendo até registro de 1 voto.
Os maiores bate-chapas no Arruda
1º) 2.781 votos – 1982 (Vanildo Aires; 75%, situação)
2º) 1.787 votos – 2012 (Antônio Luiz Neto; 91%, situação)
3º) 1.435 votos – 2010 (Antônio Luiz Neto; 79%, situação)
4º) 1.405 votos – 2006 (Edson Nogueira; 52%, oposição)
5º) 1.387 votos – 1975 (José Nivaldo; 86%, situação)
6º) 1.337 votos – 2004 (Romerito Jatobá; 66%, situação)
7º) 1.252 votos – 2017 (Constantino Júnior; 64%, situação)
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