Aclamado, o presidente tricolor precisará gerir várias frentes. Foto: Bruno Reis/Santa Cruz.
Com o voto simbólico do ex-presidente Rodolfo Aguiar, a chapa encabeçada por Bruno Rodrigues foi aclamada para comandar o Santa Cruz de 2024 a 2026, embora o início do trabalho já seja agora. Numa eleição bastante conturbada, na qual o consenso não convencia ninguém, a possibilidade de bate-chapa permaneceu até a véspera do pleito, marcado para 12 de novembro. A impugnação da chapa da oposição, de Wagner Lima, devido à presença de 113 pessoas inaptas, segundo a comissão eleitoral, já definiu a eleição.
Ainda assim, a própria chapa restante, e agora vencedora, chegou a ficar ameaçada, o que mostra o quanto esse processo político foi dos mais espinhosos nos corredores corais. E estamos falando de uma batalha para assumir o comando de um clube com receita anual de apenas R$ 13 milhões, com quatro meses de calendário esportivo na próxima temporada e com a maior dívida de sua história, de R$ 292 milhões, já vivendo o duro processo de Recuperação Judicial, numa cartada final para tentar equacionar os débitos.
Primeiro jogo em 7 de janeiro
Quem assume este cenário caótico no Arruda é o ex-deputado federal Bruno Rodrigues, de 53 anos, que hoje é, também, o presidente do Centro de Abastecimento e Logística de Pernambuco, a Ceasa. Mesmo sem cargo, colaborou na última (e desastrosa) gestão de Antônio Luiz Neto, o que acabou gerando uma insatisfação por parte da torcida. Afinal, seria a continuidade do trabalho que deixou o Santa sem série no Brasileirão? Acredito que essa dissociação deva ser uma das primeiras tarefas de Bruno, ainda que na prática os primeiros atos sejam os anúncios de um diretor de futebol e do novo treinador, ainda em novembro.
Até porque o time entrará em campo no primeiro jogo oficial do país em 2024, no dia 7 de janeiro. Enfrenta o Altos no Piauí, em jogo único pela primeira fase da Pré-Copa do Nordeste. Já vale bastante, tanto em relação à premiação como na quantidade de jogos. O enxuto calendário do Santa poderá ir de 10 jogos, com eliminações nas primeiras fases, até 27 jogos, com duas finais, somando Pernambucano e Nordestão. No pior cenário, o último jogo pode ser em 3 de março. Avançando no Estadual, pode chegar até abril. E estamos falando de um clube competiu no Brasileirão, nas quatro divisões, durante 55 anos seguidos. Surreal.
Folhada ousada pensando já em 2025
Para esse período, a nova gestão tricolor estima uma folha de R$ 500 mil, somando elenco e comissão técnica. É o dobro do PE deste ano, sendo bem acima da média desde que o clube caiu da Série B, em 2017. Em termos nominais, é o maior valor dos últimos sete anos, com o levantamento abaixo. Utilizando a calculadora online do Banco Central, atualizei os valores da folha coral no Estadual – esses dados estão entre parênteses. E a folha continua sendo surpreendente, sendo a segunda maior, só abaixo de 2020, quando estava na Série C.
Qual é a explicação? Sem arrodeio, é basicamente um “all in” já na largada para viabilizar o calendário de 2025, com a volta à Série D. Na última edição do Estadual, o Santa Cruz ficou atrás de Retrô e Petrolina na corrida pelas duas vagas da FPF na 4ª divisão nacional.
Folha mensal do Santa Cruz no Pernambucano
2018 – R$ 250 mil (R$ 341 mil), 6º lugar
2019 – R$ 330 mil (R$ 434 mil), 5º lugar
2020 – R$ 450 mil (R$ 568 mil), vice
2021 – R$ 400 mil (R$ 483 mil), 4º lugar
2022 – R$ 350 mil (R$ 384 mil), 3º lugar
2023 – R$ 250 mil (R$ 274 mil), 6º lugar
2024 – R$ 500 mil, estimativa
Retomada da força popular e SAF em 2024
Vencedora, a chapa “Reconstrução Coral” conta ainda com Marcos Benevides (vice executivo), Victor Pessoa Tavares (presidente do Conselho Deliberativo) e Adriano Lucena (presidente Comissão Patrimonial). O grupo assume um clube que tinha apenas 1.745 sócios aptos à votação, muito abaixo dos rivais Náutico (4 mil) e Sport (14 mil). É um tanto óbvio que o potencial do verdadeiro patrimônio do Santa não é bem explorado há tempos.
O clube chegou a ter 27 mil sócios adimplentes em 1999, numa época em que todos os outros não chegavam a 10 mil. Hoje, no Nordeste, é o contrário, com Bahia (50 mil) Fortaleza (43 mil), Ceará (32 mil), Vitória (27 mil) e Sport (20 mil) tendo quadros relevantes. Essa força popular adormecida, por sinal, é o que mantém o Santa Cruz atrativo politicamente mesmo no fundo do poço nos gramados. Ainda mais com a mudança recente no futebol brasileiro, com a proliferação do modelo de Sociedade Anônima do Futebol (SAF), com a venda de até 90% das ações dos clubes a investidores, numa captação de centenas de milhões de reais.
E o Santa irá seguir o caminho da SAF, mas com a agremiação na “baixa”. Uma das metas de Bruno Rodrigues é, portanto, valorizar o clube para esta negociação, tornando mais vantajosa. Isso significaria uma maior capacidade de modernização da estrutura no Arruda e de pagamento do passivo. O novo presidente comentou os planos numa entrevista ao repórter Yago Mendes, do site NE45, com destaque para a SAF. Destaco o tema a seguir:
Visão de Bruno Rodrigues sobre a SAF do Santa Cruz:
“Não tenho dúvida alguma que o Santa Cruz passa pelo pior momento sua história centenária, mas ao mesmo tempo, com essa possibilidade da SAF, eu acho que também chega uma grande oportunidade para o Santa Cruz dar uma virada de chave, de sair do buraco que se encontra, pagar seus débitos, ou seja, fazer um um clube com gestão.”
“A gente vai montar primeiro uma estrutura profissional em termos jurídicos e técnicos para avaliar todos as propostas. (…) E logicamente isso tem vários modelos, a gente vai analisar com muita calma e eu não vou discutir sozinho até porque a única solução para o Santa Cruz no momento é trabalhar em conjuntos”.
“O nosso problema, nesse momento, será justamente essa transição, que eu costumo chamar de deserto. Temos vários desafios e vamos precisar um pouco mais da paciência e da unidade de todos para irmos buscar recursos, que podem ajudar o Santa Cruz, inclusive nas áreas públicas e também no ambiente privado”.
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