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Pedido de recuperação judicial do Santa Cruz em 2022

O documento protocolado pelos advogados do Santa, protegendo o Arruda e visando outro passo.

Para suspender um leilão do Arruda, devido às dívidas incessantes, o Santa Cruz recorreu a um mecanismo inédito entre os grandes clubes do Nordeste. No caso, o ineditismo vem da drástica ação de defesa, beirando o limite. O clube tricolor entrou com um pedido de recuperação judicial, ato que possibilita a negociação coletiva das dívidas – acima, o documento divulgado pelo repórter Antônio Gabriel, da Rádio Jornal.

Ou seja, não vale só para a pendência que gerou este leilão, que nem ocorreu. É a forma que o clube tratará os casos agora. Além disso, o pedido visa a suspensão de prazos de pagamentos, resultando na elaboração, via justiça, de um plano de pagamento escalonado do passivo. Em caso de descumprimento, este acordo pode gerar penas até mais severas. No mercado, a recuperação judicial é, por vezes, a tentativa derradeira antes da falência. Fosse uma empresa em vez de uma associação esportiva sem fins lucrativos, o Santa fatalmente estaria neste caminho. Afinal, o passivo de R$ 222 milhões é 16 vezes maior que o último faturamento anual conhecido, o de 2021, com R$ 14 milhões.

Infelizmente, aquela receita não foi fora da curva. Na última década, o Santa teve 8 receitas anuais abaixo de R$ 20 milhões. Para este ano, a projeção é ainda pior, de R$ 13,3 mi. Esse valor beira o irrisório considerando a capacidade do clube, que tem mais de 1 milhão de torcedores. Por sinal, essa força popular é o motivo determinante para que o Santa Cruz jamais feche, com ou sem recuperação judicial no futebol, pois nunca deixará de ter o público consumidor mais fiel possível. Pode mudar o endereço, o CNPJ, o que for.

Baixa geração de receitas

Voltando aos números do balanço financeiro, a relação receita/passivo é o que estabelece o tamanho da crise no Santa. Como exemplo de comparação, o rival Sport, que deve até mais, com R$ 258 milhões, numero que evitaria a surpresa sobre uma decisão semelhante. Só que o leão também tem receitas muito maiores, e de forma contínua. Comparando a mesma década, o rubro-negro faturou mais de R$ 100 milhões num ano em três oportunidades – e o recorde coral é de apenas R$ 36 milhões, em 2016. Para deixar ainda mais claro: o Flamengo deve o dobro do Santa, mas a sua receita anual é, atualmente, 50 vezes maior (1 bi x 20 mi). Ou seja, tem liquidez, tem capacidade abatimento de dívidas e de negociações mais longas, com quitação regular dos parcelamentos, gerando confiança nos credores.

Esta necessária confiança é o que a direção tricolor tentará estabelecer a partir de agora, mesmo com o cenário nebuloso de 2023, novamente na Série D e sem previsão de mudanças no fluxo de caixa. Sobre as dívidas do clube pernambucano, são R$ 29 milhões de pendências no curto prazo e R$ 193 milhões no longo prazo, incluindo R$ 2,2 mi junto à FPF. Lembrando que o atraso nessas dívidas acima de 12 meses podem convertê-las em curto prazo. A maior parte das dívidas está concentrada em ações na justiça, com casos trabalhistas (109 mi), cíveis (28 mi) e tributários (45 mi). Abaixo, você a evolução do passivo de 2011 a 2021.

Arruda ainda garante “saldo positivo”

Por qual motivo os credores miram diretamente a “aquisição” do Estádio do Arruda? Porque, no papel, o patrimônio tricolor foi reavaliado em R$ 241 milhões. Em tese, a venda do imobilizado quitaria todas as dívidas e ainda restariam alguns milhões de reais – o saldo positivo do patrimônio líquido, segundo o demonstrativo contábil, é de R$ 17,8 mi. Porém, o Arruda é o Santa e o Santa é o Arruda, com a movimentação do estádio sendo essencial para a vivência do clube, fato alegado no pedido para evitar o leilão do José do Rego Maciel.

A confirmação da recuperação judicial

Após a notícia sobre o pedido de recuperação judicial, o Santa publicou uma nota oficial em seu perfil no Twitter, que não era atualizado há 6 dias. Confirmando a história, eis um trecho da justificativa: “Diante das dificuldades dos últimos anos, agravada pelo rebaixamento para a Série D (…), o Santa Cruz ajuizou a presente recuperação judicial como forma de tratar o seu passivo, acumulado nos últimos anos. A medida não será isolada e está em conjunto com diversas outras ações que estão sendo estudadas e adotadas para profissionalizar o clube e viabilizar a sua retomada para a elite do futebol nacional. A diretoria reafirma o seu compromisso de tratar com todos os seus credores, agora no ambiente de recuperação judicial, de forma a permitir a negociação coletiva e adimplemento de todo o seu passivo”.

Atualização: O pedido de recuperação judicial do Santa foi deferido pelo juiz Arnóbio Amorim Araújo, da 9ª Vara Cível do Recife. Assim, todas as dívidas do clube estão suspensas por 180 dias. Agora é aguardar para o plano do clube em relação ao pagamento a partir de março de 2023.

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Evolução do passivo acumulado do Santa Cruz

2011 (Série D) – R$ 69,7 milhões
2012 (Série C) – R$ 71,5 milhões (+2%; +1,7 mi)
2013 (Série C) – R$ 71,3 milhões (-0,2%; -0,1 mi)
2014 (Série B) – R$ 72,7 milhões (+1%; +1,3 mi)
2015 (Série B) – R$ 77,7 milhões (+6%; +5,0 mi)
2016 (Série A) – R$ 62,6 milhões (-19%; -15,1 mi)
2017 (Série B) – R$ 155,5 milhões (+148%; +92,9 mi)
2018 (Série C) – R$ 219,7 milhões (+41%; +64,2 mi)
2019 (Série C) – R$ 219,0 milhões (-0,3%; -0,7 mi)
2020 (Série C) – R$ 218,7 milhões (-0,1%; -0,2 mi)
2021 (Série C) – R$ 222,7 milhões (+1,8%; +4,0 mi)
* Somando os passivos circulante (pendências até 12 meses) e não circulante (acima de 12 meses)

Abaixo, a íntegra da nota oficial do Santa Cruz confirmando e justificando a decisão tomada.


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