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Já são 4 anos desde a última final em PE com clássico e 2 torcidas. Imagem: Globo/reprodução.

Em caráter experimental, numa decisão polêmica desde a concepção, a “torcida única” no futebol pernambucano durou de 30 janeiro até 6 de março. A medida imposta pelo governo do estado começou a ruir quando os clubes de outros estados começaram a entrar no STJD para ter o direito à sua torcida em PE. No caso, CRB e Bahia, que ganharam o direito. Com isso, para evitar sanções desportivas, a medida foi adaptada apenas aos clássicos locais. Ainda assim, seguiu a polêmica, com Náutico x Sport, pelo Nordestão, ficando ameaçado até o último instante. Ali, a direção rubro-negra acabou cedendo e a partida teve apenas a torcida alvirrubra. Na reunião seguinte após o fim do período experimental, o “Grupo de Trabalho Futebol”, integrado à Secretaria de Defesa Social, definiu pela extinção da medida.

Criado através da portaria 1.491, em 2019, o GT elaborado pela pasta que comanda a Polícia (militar e civil) e o Corpo de Bombeiros também conta com a participação do Ministério Público de Pernambuco, da FPF e dos três grandes clubes do Recife, que se mostraram contra. Na prática, a medida anterior foi aplicada duas vezes, ambas no Clássico dos Clássicos nos Aflitos, pelo PE e NE. Ou seja, só o Sport jogou sem a sua torcida, num ato, naquele momento, com a anuência do presidente do clube, Yuri Romão. Não consigo achar sequer razoável que um dirigente concorde com o impedimento de sua torcida num jogo, salvo, claro, punições esportivas ou vetos estruturais no estádio, por exemplo.

A redução quase infinita do público

De toda forma, o mandatário do Sport mudou de ideia e, com o apoio de Diógenes Braga (Náutico) e Antônio Luiz Neto (Santa Cruz), reforçou o pedido para voltar a ser como era. E neste ponto é preciso destacar que a divisão de torcidas já era ínfima, com apenas 10% para o time visitante. Até a década de 1990, a divisão era de 50%/50%, considerando os ingressos de arquibancada e geral. Apenas cadeiras e sociais eram dos mandantes, com a cessão do espaço se quisesse. A redução, a partir da violência, dentro e fora dos estádios, foi reduzindo o percentual dos visitantes para 30%, 20% e 10%, o atual. A violência em dia de clássico, sobretudo em confrontos entre membros de torcidas uniformizadas, segue existindo. Hoje, na maioria das vezes, ocorre fora dos estádios, por vezes até a quilômetros de distância.

Portanto, isso é, de fato, um trabalho de segurança pública, na investigação, no controle e na repressão, indo além do entorno do Arruda, da Ilha, dos Aflitos ou mesmo da Arena PE, que deverá receber os dois jogos da final do Estadual de 2023 – Sport x Náutico na Ilha, em 2019, foi o último clássico a decidir o título com as duas torcidas presentes. No ano passado, segundo dados do próprio governo, 130 pessoas foram detidas em casos de violência no futebol pernambucano, das quais 27 com antecedentes criminais. Ao todo, 66 foram indiciadas, por lesão corporal, furto e/ou roubo. Esse número parece até baixo perto do que vimos, mas na relação direta com o jogo, com a arquibancada, a situação é outra.

Sem criminalização coletiva

Na minha opinião, a medida de torcida única é preguiçosa e quase uma atestado de incompetência, até porque não combate o verdadeiro problema, que é, sim, grande, mas não é exclusivo no estado. Outros estados (SP e BA, por exemplo) já adotaram essa medida e em todos a violência não zerou. Porque não basta impedir uma torcida de apoiar o seu time no estádio. É uma falsa impressão de segurança. Na verdade, creio, acaba sendo apenas uma duríssima contrapartida à imensa maioria do povo, que realmente só quer ver o seu time do coração em campo. Lembrando que no Recife já foram registradas cenas de violência em clássicos sem torcida e até mesmo em dias sem jogo! Porque para esta parcela mínima, o futebol é apenas um meio de disseminar a violência. Não é difícil enxergar isso.

Complemento: O esquema de venda de ingressos para o Clássico das Multidões na Ilha do Retiro, em 11 de março, pelo Estadual, expõe o acordo feito para a liberação. A venda para a torcida visitante será exclusivamente pela internet, sem guichê no estádio. Fora o preço salgado, com R$ 100 na inteira e R$ 50 na meia. Imagino que isso será um padrão nos demais clássicos locais.

A capacidade máxima atual e a divisão entre mandantes (90%) e visitantes (10%)
Arruda (55.582 pessoas*): 50.024 e 5.558
Arena Pernambuco (45.500 pessoas): 40.950 e 4.550
Ilha do Retiro (25 mil pessoas**): 22,5 mil e 2,5 mil
Aflitos (16.948 pessoas): 15.254 e 1.694
* Sem restrição de segurança, a capacidade do Arruda é de 60.044
** Sem restrição de segurança, a capacidade da Ilha é de 34.032

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