As novas carteiras de sócios de alvirrubros e tricolores para esta temporada.
Em 7 de abril, celebrando 121 anos, o Náutico lançou a campanha de sócios intitulada “Mais Fiel do Nordeste”. Composta por nove categorias, a nova versão chamou a atenção pela existência de um plano gratuito, inédito em Pernambuco. Ali, o objetivo foi alavancar com rapidez o quadro, que cresceu em 2018, de 2 mil para 10 mil sócios, mas que desde então vinha estagnado. Com a nova modalidade à disposição, dando 10% de desconto no ingresso e possibilitando a compra digital, o alvirrubro passou de 10.544 para 22.548 sócios ativos em apenas dois meses.
Boa parte disso vem da categoria “Todo Mundo é Náutico”, de graça. O que fez o tema ser bastante discutido, analisando a viabilidade de uma fatia de sócios adultos que não rendem recursos diretos. E este ponto, com “recursos diretos”, é quase irrefutável. Porém, também me parece raso. Desde o anúncio eu achei a ideia interessante, não enxergando o movimento de sócios que pagariam mensalidade para sócios que não pagarão mais, mas sim de gente distante do clube que viu uma oportunidade de “fazer parte” daquilo que tanto ama.
A reaproximação de uma parcela específica
Portanto, a categoria pode ser, na verdade, uma porta de entrada na vida ativa nos Aflitos. Encurtando o distanciamento, tanto motivacional quanto financeiro. No primeiro ponto, a aproximação pode gerar um efeito inverso ao temor, com a migração futura para planos pagos, visando mais vantagens na aquisição de ingressos e produtos do Náutico. Sendo assim, apesar da rapidez no aumento do quadro, não é um ganho a curto prazo – tirando a confecção da carteirinha individual, de R$ 25, que é o único ganho direto (daí o “quase” escrito há pouco). Sobre o segundo ponto, consciente ou não, é uma ação do clube para uma parcela da torcida que não poderia fazer parte do quadro associativo de outra forma.
Num momento econômico difícil no país, a população mais afastada do futebol é justamente a mais pobre, com outras prioridades na vida – pela própria vida, diga-se. Considerando a faixa com renda de até 1 salário mínimo, 51,1% da população pernambucana não torce por clube algum, seja local ou de fora. É o único recorte com mais da metade de “não torcedores”. E é também aquele em que o Náutico tem a sua menor influência, com apenas 3%. É o que aponta a pesquisa de torcida do Instituto Múltipla, a última do tipo em PE.
Cópia no Arruda e primeira resposta
Na faixa seguinte, de 1 a 2 salários mínimos, o timbu sobe para 6,7%. Ainda assim, pouco. Mas é um número que não pode ser desprezado sob hipótese alguma pela direção – a atual ou qualquer outra. Nem esse nem a gama de “não torcedores”, talvez afastados pela falta de acolhimento, de pertencimento a algo que (quem sabe?) já pode ter feito parte de sua vida.
Em junho foi a vez do Santa Cruz apresentar uma campanha de sócios, a “Santa Paixão”. Com seis planos, o tricolor também resolveu adotar uma categoria gratuita, a “Time do Povo”, com 25% de desconto nos ingressos e desconto na rede de parceiros do clube. Com uma semana no ar, o quadro coral, de longe e há bastante o mais descolado da capacidade, passou de 4,5 mil para 6,0 mil sócios. A cópia, neste caso, foi algo bem preciso – e sem rejeição por ser cópia.
Distância enorme do pódio do NE
O Santa já chegou a ter 27 mil sócios em dia em 1999, numa campanha com plano bem barato, e 16 mil em 2016, com valores mais robustos, mas no embalo do título da Copa do Nordeste e da presença na Série A. à parte disso, o tricolor simplesmente não consegue trazer o seu público para o clube, a não ser nos jogos – o que não é suficiente, como já ficou claro.
No Nordeste, três clubes deslancharam no segmento de receita com sócios e, também por isso, detêm hoje as maiores receitas totais. Combinados, Ceará, Fortaleza e Bahia já têm 123 mil sócios adimplentes, sendo 45 mil, 44 mil e 34 mil, respectivamente. Todos eles pagando mensalidade e gerando milhões de reais. Em 2021 este trio faturou R$ 50 milhões com mensalidades, com previsão semelhante para 2022.
Barateamento na Ilha, sem gratuidade
Naturalmente, os recifenses se espelham nesse desempenho, considerando as semelhanças dos clubes, destoando “apenas” o péssimo momento em campo. Por isso, a paciência necessária para seguir ao estágio desejado, o da real capitalização dos sócios. Antes, contudo, é preciso fidelizá-los. E a categoria gratuita é um “convite”, passando a bola ao torcedor, àquele público que não tocaria na bola tão cedo. E onde fica o Sport nisso? O rubro-negro também lançou a sua campanha em 2022. Na verdade, relançou.
Após uma ideia mal executada, o clube elaborou uma divulgação bem melhor e criou o “O Maior Torcedor do Mundo”. Mais enxuto em relação aos rivais locais, o modelo tem apenas três categorias. Apesar de a direção do leão ter elogiado a ideia do timbu, a categoria sem cobrança não foi implantada. Considerando o levantamento da Múltipla, possivelmente o Sport seria capaz de uma adesão em massa. Afinal, o clube é, disparado, o de maior torcida entre aquelas pessoas que ganham até 1 salário mínimo em PE.
Antes do futuro, ganhos indiretos agora
Não chega a ser um erro do Sport se manter no caminho mais “tradicional”, mas pode ter sido uma oportunidade momentaneamente desperdiçada sobre um quadro associativo que também já vive em crise. Embora o clube não atualize o nº sócios no site oficial da campanha, como faz Náutico e Santa, o faturamento dos últimos anos deixa o cenário evidente.
Na Ilha, são 3 quedas seguidas no segmento: de R$ 13,8 milhões em 2021, passou a R$ 6,4 mi em 2019, R$ 4,4 mi em 2020 e R$ 3,2 mi em 2021. Mudaria tanto assim um modelo gratuito neste ano? No mínimo, seria um passo a mais no conhecimento do próprio público, com cadastros completos, possibilitando ações mais personalizadas, algo que Náutico e Santa devem fazer – terão planilhas para tal. Enfim, ainda não há uma resposta definitiva sobre este novo modelo, mas vejo como um teste bastante válido. Dos três grandes, dois encararam.
Ranking de torcida em Pernambuco até 1 salário mínimo (Múltipla 2021)
13,8% – Sport
3,7% – Santa Cruz
3,0% – Náutico
28,4% – Outros times
51,1% – Sem clube
Ranking de torcida em Pernambuco de 1 a 2 salários mínimos (Múltipla 2021)
22,4% – Sport
11,8%- Santa Cruz
6,7% – Náutico
14,3% – Outros times
44,8% – Sem clube
Os clubes do NE com as maiores receitas de sócios em 2021 (e a previsão para 2022)
1º) 22.893.000 – Bahia (R$ 14,0 mi)
2º) 14.080.081 – Fortaleza (R$ 18,7 mi)
3º) 13.072.936 – Ceará (R$ 16,0 mi)
Abaixo, a nova carteirinha do Sport, válida para planos de R$ 19 a R$ 129.