O gráfico com a evolução das receitas e das dívidas do leão cearense nos últimos 6 anos.
Em 2022, o Fortaleza viveu um ano impressionante. Ganhou dois títulos de forma invicta, o Estadual e a Copa do Nordeste, estreou na Libertadores chegando até as oitavas de final e na Série A, após um turno inteiro na lanterna, conseguiu a maior recuperação já vista nos pontos corridos e se classificou novamente ao maior torneio do continente. No Castelão, o time de Vojvoda teve o apoio de mais de 1 milhão de torcedores, somando os ingressos vendidos no ano. É bastante coisa e o resultado final, na contabilidade, também foi histórico.
Com folga, o laion estabeleceu a maior receita na história da região, mesmo sem a força de um investidor massivo numa SAF. Até então, só o Bahia havia conseguido ultrapassar a barreira de R$ 200 milhões. Em 2021, o tricolor baiano teve R$ 208,6 milhões – e mesmo assim caiu. Pois o tricolor cearense aumentou a marca em R$ 59,2 milhões, fechando o balanço de 1º de janeiro a 31 de dezembro de 2022 com R$ 267.851.201 de receita bruta.
O faturamento do Fortaleza foi impulsionado pelo crescimento em frentes como tevê (56 mi), mensalidade de sócios (35 mi), venda de produtos oficiais (33 mi!), patrocínios (22 mi), negociação de jogadores (19 mi), bilheteria (18 mi) e, sobretudo, performance. No futebol, as premiações e cotas de participação nas competições são geradas basicamente pelos recursos da televisão. Ainda não há um cenário uniforme nos clubes brasileiros sobre a “definição” das receitas. Em alguns casos, os clubes somam cota, participação e performance num só número. Já a direção do Fortaleza separa em três frentes. Sendo assim, a soma dos outros dois dados, participação e performance, passou de R$ 61 milhões.
Em 5 anos, a receita subiu 11 vezes
Considerando o cenário mais “comum” de divulgação desse recurso, o apurado com transmissão/campeonatos foi de R$ 118.119.801, ou 44% de toda a receita. Em 2017, quando enfim saiu da Série C, o Fortaleza teve uma receita total de R$ 24 milhões. Cinco depois, num patamar administrativo e esportivo completamente diferente, como protagonista no NE, o clube arrecadou 11 vezes mais. Como consequência, o segundo superávit milionário. Em 2021, o saldo entre receitas e despesas foi de R$ 15 mi. Em 2022 essa subtração deixou um saldo positivo de R$ 32 mi, dando lastro para negociações mais ousadas no mercado da bola.
Não por acaso, o clube presidido por Marcelo Paz gastou mais de R$ 20 milhões em reforços, qualificando um elenco já competitivo. Quanto custou esse rendimento nos gramados? Considerando salários e direitos de imagem, que na prática também faz parte do salário no futebol profissional, o investimento foi de R$ 85,4 milhões, além de R$ 16,6 mi em premiações, dado apresentado neste ano. No ano anterior foram R$ 76,1 mi em salários.
Ainda que o passivo tenha crescido no último ano, o número atual sobre as dívidas e compromissos firmados é menos da metade da receita anual. Pra citar um comparativo, o último balanço do Bahia antes do acerto com o Grupo City indicou uma receita anual de R$ 108 milhões e um endividamento quase três vezes maior, de R$ 296 mi. Portanto, observando o relatório do FEC, auditado pela Accord, o situação atual é de crescimento.
A permanência no patamar financeiro
Por sinal, vale lembrar que o clube havia lançado um orçamento de R$ 141 milhões para 2022. Então, a “receita realizada” superou a previsão em R$ 126 milhões. Ou +89%. O Fortaleza estimou uma receita de R$ 208,6 milhões em 2023, mas com alguns cenários bem conservadores. Para a campanha na Copa do Brasil, por exemplo, considerou apenas um avanço de fase – meta já alcançada. Há possibilidade de quebrar o recorde já em 2023? Creio que seja preciso repetir a performance na Série A e ir longe na Sula. De toda forma, a tendência é que o Fortaleza siga no patamar acima de R$ 200 milhões. É muita coisa…
No topo das maiores receitas do Nordeste
Até hoje, entre os balanços oficiais divulgados até 1º de maio de 2023, o Nordeste já registrou 17 faturamentos anuais acima de R$ 100 milhões. Isso aconteceu 16 vezes na Série A e 1 vez na Série B, com o Bahia de 2022. Eis o nº de receitas acima de R$ 100 mi: 6x Bahia, 4x Ceará, 3x Fortaleza, 3x Sport e 1x Vitória. Abaixo, confira o ranking agora liderada pelo Leão do Pici.
1º) R$ 267,85 mi – Fortaleza (2022)
2º) R$ 208,64 mi – Bahia (2021)
3º) R$ 189,48 mi – Bahia (2019)
4º) R$ 175,05 mi – Fortaleza (2021)
5º) R$ 173,21 mi – Ceará (2022)
6º) R$ 159,28 mi – Ceará (2021)
7º) R$ 136,10 mi – Bahia (2018)
8º) R$ 130,61 mi – Bahia (2020)
9º) R$ 129,59 mi – Sport (2016)
10º) R$ 120,49 mi – Fortaleza (2019)
11º) R$ 111,97 mi – Vitória (2016)
12º) R$ 108,34 mi – Bahia 2022
13º) R$ 105,47 mi – Sport (2017)
14º) R$ 104,89 mi – Bahia (2017)
15º) R$ 104,86 mi – Ceará (2019)
16º) R$ 104,09 mi – Sport (2018)
17º) R$ 103,16 mi – Ceará (2020)
* Em valores nominais
A seguir, o histórico de receitas do Fortaleza, com um salto de R$ 255 milhões entre 2014 e 2022. De longe, o maior crescimento da região e um dos maiores do país no período.
Receita total do Fortaleza
2017 (C): R$ 24.456.997 (+4%; +1 mi)
2018 (B): R$ 51.621.897 (+111%; +27 mi)
2019 (A): R$ 120.490.995 (+133%; +68 mi)
2020 (A): R$ 86.069.940 (-28%; -34 mi)
2021 (A): R$ 175.053.214 (+103%; +88 mi)
2022 (A): R$ 267.851.201 (+53%; +92 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)
2017 (C): -1.192.688
2018 (B): -1.503.071
2019 (A): +3.444.392
2020 (A): -9.787.635
2021 (A): +15.300.604
2022 (A): +32.280.844*
* O saldo da subtração da receita líquida (243,1 mi) pelo custo operacional (208,3 mi) e pelas despesas financeiras (2,5 mi)
Evolução do passivo acumulado do clube
2017 (C): R$ 28.112.178 (+25%; +5 mi)
2018 (B): R$ 32.335.928 (+15%; +4 mi)
2019 (A): R$ 43.485.850 (+34%; +11 mi)
2020 (A): R$ 57.885.088 (+33%; +14 mi)
2021 (A): R$ 74.612.038 (+28%; +167 mi)
2022 (A): R$ 96.749.895 (+29%; +22 mi)
* A soma das pendências de curto prazo (circulante) e longo prazo (não circulante)
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos cinco balanços do Fortaleza – e as respectivas séries.
Direitos de transmissão na TV
2017 (C): R$ 669 mil
2018 (B): R$ 6,36 milhões (+850%; +5 mi)
2019 (A): R$ 31,11 milhões (+388%; +24 mi)
2020 (A): R$ 24,10 milhões (-22%; -7 mi)
2021 (A): R$ 54,53 milhões (+126%; +30 mi)
2022 (A): R$ 56,48 milhões (+3%; +2 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2017 (C): R$ 5,77 milhões
2018 (B): R$ 12,25 milhões (+112%; +6 mi)
2019 (A): R$ 18,61 milhões (+51%; +6 mi)
2020 (A): R$ 11,21 milhões (-39%; -7 mi)
2021 (A): R$ 14,08 milhões (+25%; +2 mi)
2022 (A): R$ 35,30 milhões (+150%; +21 mi)
Renda nos jogos
2017 (C): R$ 5,13 milhões
2018 (B): R$ 9,11 milhões (+77%; +3 mi)
2019 (A): R$ 11,89 milhões (+30%; +2 mi)
2020 (A): R$ 2,02 milhões (-82%; -9 mi)
2021 (A): R$ 5,68 milhões (+180%; +3 mi)
2022 (A): R$ 18,52 milhões (+226%; +12 mi)
Patrocínio/Marketing
2017 (C): R$ 1,41 milhão
2018 (B): R$ 7,69 milhões (+444%; +6 mi)
2019 (A): R$ 7,51 milhões (-2%; -0,1 mi)
2020 (A): R$ 6,33 milhões (-15%; -1 mi)
2021 (A): R$ 9,38 milhões (+48%; +3 mi)
2022 (A): R$ 22,22 milhões (+136%; +12 mi)
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