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O gráfico com a evolução das receitas e das pendências do leão do Recife na última década.

Com 22 dias de atraso, o demonstrativo contábil do Sport foi, enfim, publicado. Além de ter sido o último clube da Série A de 2020 a apresentar o relatório obrigatório, foi o único após o prazo legal, encerrado em 30 de abril. O balanço rubro-negro só foi apreciado pelo Conselho Deliberativo em 19 de maio, com a publicação na Folha de Pernambuco ocorrendo no dia 22. Apesar da justificativa dos pernambucanos, os outros 19 clubes entregaram a tempo – e todos tiveram quatro meses.

Em relação às cifras, o cenário mostra o tamanho do “milagre” do leão com a permanência na primeira divisão. Considerando as receitas captadas de 1º de janeiro a 31 de dezembro, o Sport faturou R$ 54,5 milhões, com aumento na tevê (apesar do pagamento de R$ 16,5 mi à Globo; sim, o clube devia) e no número de patrocínios (algo esperado após sair da B) e redução no quadro de sócios (quase geral, devido à pandemia da Covid-19). Para se ter ideia do quão baixa foi esta receita, as três temporadas anteriores na Série A passaram de R$ 100 milhões. Em 2020 o valor do Sport representou 1% do faturamento dos 20 times da Série A.

O último ano com um valor abaixo disso, na elite, havia sido em 2009, com R$ 37,7 milhões. Contudo, a correção daquele valor para dezembro de 2020, via IGP-M, resulta em R$ 86,9 mi. De forma prática, o Sport teve a 2º menor receita do Brasileirão de 2020, ficando à frente só do Atlético Goianiense, com R$ 3 milhões a menos. E ambos se salvaram. No Sport, o futebol consumiu cerca de R$ 39,7 milhões – curiosamente, menos que em 2019, com R$ 43,2 mi. Porém, não é possível ir muito além, pois o balanço, apesar de ter ocupado uma página no jornal, não destrincha esses dados – um erro recorrente do clube, na minha visão.

Ainda vale um adendo sobre a receita leonina, que também se aplica aos demais clubes do país no último ano: o balanço não considera os valores capitados no Brasileiro em janeiro e fevereiro de 2021, com a 38ª rodada ocorrendo em 25/02. Ao ficar na primeira divisão, o Sport teve direito a uma receita pela performance em 2020, já utilizada para pagar salários atrasados e a dívida junto ao Sporting de Lisboa pela aquisição de André, pendente desde 2017. Esses números, entre receitas e despesas, só serão contabilizados no balanço de 2021.

O maior passivo da história rubro-negra
O 15º lugar no BR, sob o comando de Jair Ventura, não exime o restante do balanço auditado pela Gaplan Auditoria. Embora tenha reduzido o rombo de 2019, quando também surpreendeu ao obter o acesso, o leão registrou déficit pelo 8º ano seguido. Ou seja, já são oito anos com mais despesas do que receitas a cada balanço. Seja qual for a gestão, o mesmo perfil. Em 2019/2020, com Milton Bivar à frente, os dados foram de -22 mi e -2 mi, resultando em R$ 25,3 milhões negativos (com o rebaixamento, claro, teria sido pior). Com esta sequência, o buraco só aumenta. O passivo ultrapassou a barreira de R$ 200 milhões. Mesmo considerando o reconhecimento de dívidas no período, o passivo dobrou em seis anos. Essa cifra, lembrando, se refere à soma de obrigações (contratos firmados com jogadores, por exemplo) e dívidas (atrasos de pagamentos, por exemplo).

Mais de R$ 100 milhões em tributos abertos, até dezembro (?)
Para completar o cenário sobre o passivo, a maior parte das dívidas são de curto prazo, dentro do “passivo circulante”. As pendências até doze meses passaram de R$ 150 mi para R$ 162 mi, ou 80,7% do total! Aí, as obrigações tributárias passaram de R$ 56 mi para R$ 63 mi (+11%) e as obrigações sociais e trabalhistas passaram de R$ 32 mi para R$ 38 mi (+18%). Ao todo, o saldo pendente de tributos é de R$ 102 milhões, e nenhum centavo parcelado a longo prazo, como visto em outras agremiações de porte semelhante. Em tese, o clube precisa pagar até dezembro de 2021. Caso não pague (ou renegocie), mais juros. Fora o risco de execução das dívidas.

Abaixo, um comparativo com quatro frentes importantes na composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos quatro balanços do Sport – e as respectivas séries no BR.

Direitos de transmissão na TV
2017 (A) – R$ 41.257.138
2018 (A) – R$ 43.113.030 (+4,4%; +1,85 mi)
2019 (B) – R$ 22.423.579 (-47,9%; -20,68 mi)*
2020 (A) – R$ 40.901.349 (+82,4%; +18,47 mi)*

* Ao contrário de outros clubes, o Sport não destrinchou a “receita de futebol” nos últimos dois demonstrativos, somando bilheteria (quase inexistente em 2020), cotas de TV e outras fontes.

Quadro de sócios-torcedores
2017 (A) – R$ 12.912.158
2018 (A) – R$ 13.865.621 (+7,3%; +0,95 mi)
2019 (B) – R$ 6.416.249 (-53,7%; -7,44 mi)
2020 (A) – R$ 4.476.553 (-30,2%; -1,93 mi)

Renda nos jogos
2017 (A) – R$ 19.517.910
2018 (A) – R$ 8.065.506 (-58,6%; -11,45 mi)
2019 (B) – Indefinido*
2020 (A) – Indefinido*

Patrocínio/Marketing
2017 (A) – R$ 14.943.190
2018 (A) – R$ 5.656.479 (-62,1%; -9,28 mi)
2019 (B) – R$ 4.588.752 (-18,8%; -1,06 mi)
2020 (A) – R$ 7.665.675 (+67,0%; +3,07 mi)

A seguir, o histórico de receitas do Sport nesta década. Após três anos acima de R$ 100 milhões, o clube regrediu bastante de patamar, se distanciando financeiramente de Bahia, Fortaleza e Ceará.

Faturamento anual do clube (receita total)
2011 (B) – R$ 46.875.544
2012 (A) – R$ 79.807.538 (+70,2%; +32,93 mi)
2013 (B) – R$ 51.428.086 (-35,5%; -28,37 mi)
2014 (A) – R$ 60.797.294 (+18,2%; +9,36 mi)
2015 (A) – R$ 87.649.465 (+44,1%; +26,85 mi)
2016 (A) – R$ 129.596.886 (+47,8%; +41,94 mi)
2017 (A) – R$ 105.471.746 (-18,6%; -24,12 mi)
2018 (A) – R$ 104.098.716 (-1,3%; -1,37 mi)
2019 (B) – R$ 39.208.327 (-62,3%; -64,89 mi)
2020 (A) – R$ 54.527.382 (+39,0%; +15,31 mi)

Resultado do exercício (superávit/déficit)*
2011 (B): +321.305
2012 (A): +22.541.556
2013 (B): -4.963.656
2014 (A): -8.627.606
2015 (A): -26.528.983
2016 (A): -566.411
2017 (A): -18.313.641
2018 (A): -14.382.986
2019 (B): -22.644.360
2020 (A): -2.586.638
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual

Evolução do passivo acumulado do clube (circulante + não circulante)
2011 (B) – R$ 45.278.851
2012 (A) – R$ 27.381.926 (-39,5%; -17,89 mi)
2013 (B) – R$ 22.751.467 (-16,9%; -4,63 mi)
2014 (A) – R$ 73.396.626 (+222,6%; +50,64 mi)
2015 (A) – R$ 121.167.577 (+65,0%; +47,77 mi)
2016 (A) – R$ 125.080.279 (+3,2%; +3,91 mi)
2017 (A) – R$ 183.562.095 (+46,7%; +58,48 mi)
2018 (A) – R$ 193.439.749 (+5,3%; +9,87 mi)
2019 (B) – R$ 189.540.801 (-2,0%; -3,89 mi)
2020 (A) – R$ 200.535.111 (+5,8%; +10,99 mi)

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