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Arena Pernambuco em 2023

Em 10 anos a ideia era ter 5 jogos da Seleção na Arena PE. Foram só 2. Foto: Rafael Vieira/FPF.

A Arena Pernambuco foi concebida com o objetivo de colocar o estado na Copa do Mundo de 2014, o que eventualmente aconteceu, ao lado de outros onze palcos. Entretanto, desde a sua apresentação, a viabilidade econômica foi colocada em xeque, uma vez que o Grande Recife já contava com três estádios tradicionais, com Arruda, Ilha do Retiro e Aflitos se confundindo com as identidades de Santa Cruz, Sport e Náutico. Para que a arena multiuso a 19 quilômetros do Marco Zero fizesse sentido, após o Mundial, os três grandes clubes locais precisariam fazer parte. E aí começa o problema ainda vigente, sobretudo da arena.

A largada, há exatamente dez anos, foi com uma renda milionária. Em 22 de maio de 2013, no evento-teste antes da Copa das Confederações, Náutico e Sporting de Lisboa empataram em 1 x 1, apurando R$ 1.040.104 a partir dos 26.803 espectadores. A capacidade foi limitada naquela noite, mas, mesmo com 58,9% de ocupação entre os 45,5 mil assentos vermelhos, a bilheteria pareceu um belo cartão de apresentação. Mas não foi o que aconteceu. Idealizada pelo Governo de Pernambuco, a arena foi lançada considerando a realização de 60 jogos anuais, com os 20 principais jogos de cada grande clube. Nenhuma temporada foi assim.

O estudo quase secreto da arena

Em agosto de 2010, ainda no Diario de Pernambuco, tive acesso ao estudo de viabilidade encomendado pelo governo do estado junto à consultoria inglesa Comperio Research. A empresa considerou oito cenários de receita, com o melhor sendo a ideia original do Palácio do Campo das Princesas. No início imaginado para a operação, que seria em 2014, o estádio faturaria R$ 86,2 milhões tendo o trio. A Comperio ainda considerou que a cada dois anos o palco em São Lourenço receberia cinco grandes shows e um jogo da Seleção Brasileira.

Na prática, o único clube a assinar um contrato foi o Náutico, mas o acordo de 30 anos durou apenas 3, com o distrato em 2016. Na verdade, o estado rescindiu com o consórcio liderado pela Odebrecht, que acabou fazendo o mesmo com o timbu. Naqueles três anos, então, o estádio foi operado com o 7º cenário. De um total de 8. Voltando ao presente, é justamente o último cenário que vigora na Arena Pernambuco. No estudo original, o faturamento anual desta composição, sem a garantia de grandes partidas, seria de apenas R$ 5,7 milhões.

Prejuízo mensal de R$ 400 mil no presente

Corrigindo o valor mínimo através da calculadora online do Banco Central, o cenário atual seria de R$ 9,7 mi/ano. Segundo a pesquisa, o valor mínimo não deixaria a arena inviável. Na prática, a receita sem clubes de massa é bem menor, deixando, sim, inviável. Atualmente, o custo mensal de manutenção é de R$ 650 mil, um dado apurado por José Matheus Santos, da Folha de S. Paulo, junto à Secretaria de Turismo e Lazer de PE. Tendo só o Retrô como mandante e uma receita de cerca de R$ 200 mil, o prejuízo vem sendo superior a R$ 400 mil.

Esse dado é ainda mais alarmante porque há público consumidor para este equipamento, ao contrário das arenas de Manaus, Brasília e Cuiabá, por exemplo. Contudo, o trio de ferro jamais foi convencido a manter uma agenda regular, além da justa pressão das torcidas devido aos problemas de mobilidade – recaindo sobre o governo, que falha até hoje. Tendo só passagens pontuais de alvirrubros, rubro-negros e tricolores, a Arena PE contabilizou 7 rendas acima de R$ 1 milhão na primeira década. Como comparação, o Castelão e a Fonte Nova registraram 35 e 32 rendas milionárias no período. Ocorre que lá as arenas seguiram abraçadas como eram as suas versões anteriores. Em PE não chegou nem perto disso.

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Abaixo, confira as cifras no estudo da Comperio, cujo relatório de 66 páginas foi incluído no edital de licitação de 02/2009. Em seguida, os possíveis cenários de receita dez anos após a inauguração da arena. Os dados são de janeiro 2014 e janeiro de 2023, com a correção através do índice IPCA.

Previsão de receita anual da Arena PE em 2014

Cenário 1) R$ 86,2 milhões – Sport, Santa Cruz e Náutico (60 jogos)
Cenário 2) R$ 64,4 milhões – Sport e Santa Cruz (40 jogos)
Cenário 3) R$ 60,4 milhões – Santa Cruz e Náutico (40 jogos)
Cenário 4) R$ 60,1 milhões – Sport e Náutico (40 jogos)
Cenário 5) R$ 31,6 milhões – Sport (20 jogos)
Cenário 6) R$ 30,1 milhões – Santa Cruz (20 jogos)
Cenário 7) R$ 27,3 milhões – Náutico (20 jogos)
Cenário 8) R$ 5,7 milhões – Nenhum clube grande (jogos pontuais)
* Os valores originais presentes no estudo de viabilidade de 2009

Previsão de receita anual da Arena PE em 2023

Cenário 1) R$ 147,0, milhões – Sport, Santa Cruz e Náutico (60 jogos)
Cenário 2) R$ 109,8 milhões – Sport e Santa Cruz (40 jogos)
Cenário 3) R$ 103,0 milhões – Santa Cruz e Náutico (40 jogos)
Cenário 4) R$ 102,5 milhões – Sport e Náutico (40 jogos)
Cenário 5) R$ 53,9, milhões – Sport (20 jogos)
Cenário 6) R$ 51,3 milhões – Santa Cruz (20 jogos)
Cenário 7) R$ 46,5, milhões – Náutico (20 jogos)
Cenário 8) R$ 9,7 milhões – Nenhum clube grande (jogos pontuais)
* A correção monetária dos valores presentes no estudo de viabilidade de 2009

Estádios do Nordeste com mais rendas milionárias nos últimos 10 anos:
1º) 35 vezes – Castelão-CE (Ceará 18 e Fortaleza 17)
2º) 32 vezes – Fonte Nova (Bahia 30 e Vitória 2)
3º) 7 vezes – Arena Pernambuco (Sport 6 e Náutico 1)
4º) 4 vezes – Arruda (Santa Cruz 4)
5º) 2 vezes – Albertão (River 1 e Altos 1), Castelão-MA (Sampaio Corrêa 2) e Ilha do Retiro (Sport 2)
8º) 1 vez – Arena das Dunas (América-RN 1), Batistão (Confiança 1) e Aflitos (Náutico 1)
* Dados de 22/05/2013 a 22/05/2023, considerando jogos de clubes


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