O projeto do troféu da edição de 2020. A versão oficial não chegou nem a ser mostrada.
O Campeonato Pernambucano de 2020 está suspenso por tempo indeterminado. Como todos os outros torneios estaduais do país, foi paralisado devido à crise do Coronavírus, numa tentativa de evitar o rápido contágio da doença – que poderá atingir milhões de brasileiros. Com a população sob quarentena, a indefinição pode durar meses, embora a FPF siga firme na decisão de retomar a competição independentemente do período de “alta”.
Na prática, porém, será difícil manter todos os times em condição de jogo – sobretudo os menores, com elencos já liberados por falta de receita pagar mais de 4 meses de salários. Dos 27 campeonatos estaduais, 1 já foi encerrado oficialmente por conta da crise: o Amazonense, que estava no 2º turno – o Manaus, atual vice-campeão brasileiro da Série D, havia vencido o 1º turno. Porém, não houve unanimidade em relação à definição da palavra específica: encerramento ou cancelamento. E uma das diferenças desta escolha está, por exemplo, na definição do campeão estadual. Se teve (encerramento) ou não (cancelamento). Além disso, segue a dúvida sobre a distribuição das vagas locais na Série D e na Copa do Brasil.
A partir disso, então, retomo o debate para o futebol pernambucano, com as possíveis consequências em caso de encerramento/cancelamento – do contrário, mesmo espremido, o torneio seguiria no campo, claro. Vamos lá.
Em caso de encerramento/cancelamento do Pernambucano 2020, por qual motivo o Santa Cruz deveria ser declarado campeão?
Único invicto na competição, o Santa Cruz tem 7 vitórias e 1 empate, com 22 pontos conquistados em 24 disputados. A uma rodada do fim do turno classificatório, o clube já tem a liderança geral assegurada, com 6 pontos à frente do segundo colocado. Em vias normais, seria o mandante na semifinal e, caso alcançasse a decisão, também disputaria o jogo de volta no Arruda. Tem 10 pontos a mais que o Náutico e 11 a mais que o Sport, os principais rivais. Embora o torneio tenha a previsão de uma fase final, envolvendo 6 clubes, a paralisação deveria considerar casos omissos do passado, incluindo a própria história do futebol local. Em 1930, o Estadual foi encerrado de forma precoce por causa da Revolução de 1930, que depôs o presidente da república, Washington Luís, e impediu a posse do presidente eleito, Júlio Prestes. Com o clima tenso no país, a Liga Pernambucana de Desportos Terrestres (LPDT), a precursora da FPF, deu por encerrado e proclamou o Torre como campeão. Aquela edição teve 8 times e previa pontos corridos em turno e returno. Parou após a 9ª rodada (de um total de 14), com 3 pontos separando o Torre do América, que aceitou a decisão. Assim como agora, a competição disputada há 90 anos parou por motivo de força maior. Caso os clubes entendam que a edição deste ano tenha que ter, necessariamente, um vencedor em caso de encerramento forçado, é difícil não enxergar méritos no Santa Cruz.
Em caso de encerramento/cancelamento do Pernambucano 2020, por qual motivo o Santa Cruz não deveria ser declarado campeão?
De acordo com o regulamento oficial, votado e aprovado previamente, 6 dos 10 participantes avançam à fase final do Estadual, com os dois primeiros indo direto para a semifinal. Neste momento, dois clubes já estão assegurados no mata-mata. E assim como o Santa, o Salgueiro também já está classificado à semifinal – com os demais brigando por vagas nas quartas de final, etapa reservada do 3º ao 6º. Portanto, dar o título ao Santa seria negar as mesmas vantagens obtidas pelo clube sertanejo na fase seguinte, com a única diferença sendo o mando na finalíssima – sendo diferente do exemplo de 1930, uma edição (paralisada) por pontos corridos. Lembrando que o debate parte do encerramento direto da competição, sem a possibilidade de um jogo extra – cabendo isso, faria mais sentido a disputa entre Santa e Salgueiro. Num conselho arbitral extraordinário, que demanda unanimidade, dificilmente o Salgueiro abriria mão do título em favor do Santa, até porque o clube também tem calendário no segundo semestre, com a disputa da Série D (logo, poderia jogar, caso fosse possível). Além dos méritos de um concorrente direto, o fato é que outros seis times, ainda na disputa pela classificação, poderiam pleitear o mesmo direito – nem que fosse apenas para evitar o título coral. Com o impasse, então, seria a primeira vez, em 106 anos, que o campeonato local terminaria sem efeito, sem campeão.
Na sua opinião, considerando este cenário mais drástico, qual deveria ser a medida tomada pela FPF e/ou conselho arbitral extraordionário? Com ou sem campeão?
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