Esvaziada, a votação aconteceu numa sexta-feira, em 4 de outubro. Fotos: Sandy James/Sport.
Numa convocação às pressas, com apenas oito dias do anúncio no site oficial até a votação na Ilha do Retiro, os sócios do Sport aprovaram a proposta de reforma no estatuto do clube. Nesta Assembleia Geral Extraordinária (AGE), a cédula apresentava as opções “sim” e “não”, com o rubro-negro escolhendo todas as opções de uma vez. Ou seja, ou aprovava tudo ou reprovava tudo. Sem tanta divulgação, apenas 749 sócios compareceram nas 18 urnas montadas na sede. Isso corresponde a menos da metade dos votos computados na última eleição, que elegeu Yuri Romão como presidente – naquela ocasião foram 1.516. Apesar deste cenário, em tese favorável à situação, o resultado final foi bastante apertado.
Por 53,0% x 46,9%, ou 397 x 352 na contagem de votos, foi confirmada a mudança, que possibilita inclusive a constituição da Sociedade Anônima do Futebol (SAF) no futuro. De fato, a SAF era o carro-chefe da AGE, mas havia outros tópicos importantes. O novo estatuto do Sport entrará em vigor em 1º de janeiro de 2025. Ou seja, uma possível SAF só poderá ser implantada ano que vem. Antes, o clube precisará contratar um consórcio com duas empresas especializadas, sendo uma auditoria e uma instituição financeira, para avaliar todos os ativos do clube. É um trâmite também presente na reforma recém-aprovada.
A partir desta avaliação, e da criação do modelo econômico, o Sport irá “convocar” potenciais investidores para a participação na SAF. A proposta vencedora será escolhida pelo Conselho Administração, outra novidade aprovada na assembleia, e ainda precisará da aprovação do Conselho Deliberativo. O sócio do clube, a partir da categoria contribuinte, só voltará a ter uma participação direta neste tema na convocação de uma nova assembleia geral para a votação sobre a criação definitiva da SAF, o que vai incluir até um estatuto do “Sport SAF”.
Abaixo, a cédula aplicada durante a assembleia extraordinária do Sport. Deu “sim”.
A possibilidade de criação da SAF não significa, necessariamente, a aceleração deste processo. E aí realmente caberá à articulação da direção e do interesse do mercado – considerando as propostas mais robustas. No Recife, o primeiro clube a aprovar a mudança estatutária para a SAF foi o Santa Cruz, em 8 de maio de 2022. Na ocasião, numa AGE com 765 votos, o “sim” venceu com 66,4%. Mais de dois anos depois, o rival tricolor ainda não comunicou sequer uma proposta de investimentos. Veremos se na Ilha do Retiro o ritmo será diferente. Possivelmente sim. Basta ver a pressa para a realização da assembleia, paralela ao bom momento do time, e longe de ser coincidência, na minha visão.
Já sobre o tal “Conselho de Administração”, trata-se da futura forma de comando do “clube associação”. Ou seja, o Sport pré-SAF. A eleição passará a ser de três anos, mas somente a partir de 2027 – no fim do mandato executivo de 2025/2026, o último no modelo aplicado há décadas. O Conselho de Administração será formado por um presidente, um vice e três conselheiros, numa escolha regular a cada pleito. Paralelamente a isso, acabam os cargos abnegados de vice-presidente no Leão, algo presente nos departamentos de Marketing, Comunicação e Administração, por exemplo. As funções serão todas contratadas.
A modernização administrativa do Sport era, sim, necessária. Só que o Sport tem 8 mil sócios aptos a votar, de um total de 19.900 titulares adimplentes, e nem disso 10% compareceu. Independentemente do resultado, “sim” ou “não”, a AGE deveria ter alcançado mais gente.
Algumas escolhas no novo estatuto do Sport
– Extinção do cargo de presidente executivo (em 2027)
– Criação do Conselho de Administração, que passa a gerir o clube (eleito a cada 3 anos)
– CEO será indicado pelo Conselho Administração (remuneração a definir)
– Sócio-torcedor, cuja mensalidade é de R$ 34,90, segue sem direito a voto
– Conselho Deliberativo segue sem formação proporcional aos votos das chapas executivas
– Artigo que possibilita a criação da SAF, mas com necessidade de aprovação dos sócios
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