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Durante o Campeonato Pernambucano de 2018, a pesquisadora Soraya Barreto Januário entrevistou 500 torcedoras no Recife, entre alvirrubras, tricolores e rubro-negras.

O questionário tinha o objetivo de traçar um perfil atualizado sobre o público feminino mais presente no futebol local. E os dados processados e detalhados no livro “Mulheres no campo: o ethos da torcedora pernambucana” trazem, de fato, um cenário interessante sobre o aumento da representatividade e, sobretudo, independência das mulheres.

No caso, a independência de escolha. Cerca de 1/3 das entrevistadas escolheram o time do coração baseado no desempenho da equipe em campeonatos. Antes que alguém pense no termo “modinha”, eis o outro lado disso, abordado pela escritora: o dado mostra que a mulher passou a ter mais autonomia na escolha, historicamente baseada na influência familiar, sobretudo paterna.

Alguns dados presentes no livro “Mulheres no Campo” e observações de Soraya

A divisão das torcidas na pesquisa*
49,3% – Sport
28,3% – Santa Cruz
22,2% – Náutico
* Amostragem aleatória durante as entrevistas (à parte dos estádios)

33,5% das mulheres escolheram o clube do coração baseados nos resultados do time

Considerando a influência da família na escolha
51,0% das mulheres torcem pelos times dos pais
16,0% pelos times das mães
10,0% pelos times dos avôs
6,0% pelos times das avós

“Esse número de 22% de meninas incentivadas pelas mães ou avós já é uma representação das conquistas dos movimentos de mulheres femininas nas décadas de 1970 e 1980, quando até então as mulheres eram proibidas da prática esportiva de contato, incluindo o futebol.”

Entre as mulheres que vão aos jogos de Náutico, Santa e Sport
35,0% vão acompanhadas de amigos/amigas e familiares
21,5% vão acompanhadas de amigas mulheres
16,0% vão acompanhadas de namorados

Faixa etária das torcedoras (que vão aos jogos)
18,1% – Entre 18 e 20 anos
16,7% – Entre 21 e 25 anos
32,4% – Entre 26 e 30 anos
20,7% – Entre 31 e 40 anos
12,1% – Acima de 41 anos

“Esses dados (67,2% entre 18 e 30 anos) implicam uma possível construção de uma nova cultura e participação feminina na prática e no consumo do futebol de modo geral.”

Das 500 entrevistas entre janeiro e abril de 2018, realizadas numa pesquisa-piloto não financiada, 60% ocorreram nos jogos de Náutico, Santa Cruz e Sport na Arena Pernambuco, Arruda e Ilha do Retiro, respectivamente – ou seja, com mulheres efetivamente presentes nas arquibancadas. Alguns grupos independentes também responderam ao questionário, como Coralinas, Timbuzeiras e Elas e o Sport. Com 92 páginas, o livro, com lançamento em maio de 2019, foi produzido no observatório de mídia da UFPE.

“Os dados encontrados apontam para o descortinar de um novo cenário no que diz respeito à participação das mulheres enquanto consumidoras de futebol. As falas das torcedoras, bem como as análises, ajudaram a demonstrar o quão essa relação é enviesada por questões que dialogam com a resistência, quebra de padrões naturalizados e tensionamentos.”


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