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O clássico Bahia x Vitória

Em 2023 foram apenas dois clássicos, ambos na Fonte Nova e sem torcedores rubro-negros. A seguir, a reprodução da coluna do blog no site Click Esportivo. Foto: Felipe Oliveira/Bahia.

acesso do Vitória na Série B, como campeão, e a permanência do Bahia na Série A, dando tudo certo na última rodada, pavimentaram a volta do Ba-Vi ao Brasileirão após seis longos anos. Em 2024, o grande clássico do futebol baiano terá os dois clubes com os maiores orçamentos da história. Chegando ao segundo ano como SAF, através do Grupo City, o tricolor projeta uma receita de R$ 320 milhões para o futebol profissional, enquanto o rubro-negro, ainda gerido como associação, teve a aprovação por parte dos conselheiros de um orçamento de R$ 218 milhões. Ou seja, os arquirrivais deverão gerar mais de meio bilhão de reais na temporada. De forma precisa, a estimativa é de R$ 538 milhões.

Após este breve resumo sobre um ano que tende a ser marcante neste duelo, é preciso pontuar que os dois jogos pela primeira divisão nacional deverão ocorrer com torcida única. Além da Série A, ainda teremos Ba-Vi no Nordestão e no Baiano, com a possibilidade de oito partidas no ano, caso se encontrem nos mata-matas desses torneios. Ou seja, o duelo poderá atingir a expressiva marca de 500 jogos (até hoje foram 493). Contudo, o datado esquema com torcida da casa valerá em todos os clássicos. Isso porque o Ministério Público da Bahia recomendou a manutenção de medida de segurança, que vigora nos estádios de Salvador desde 2018. Desde então, neste clássico, apenas torcedores tricolores pode ir à Fonte Nova e apenas torcedores rubro-negros podem ir ao Barradão.

A dura exceção no clássico de Salvador

De acordo com a nota do MP-BA, publicada em 19 de dezembro, a “recomendação foi emitida pela promotora de Justiça do Consumidor Thelma Leal, após a manutenção da medida ter sido defendida por representantes da FBF, dos dois clubes e da Polícia Militar durante reunião realizada em novembro último”. Este trecho torna a medida ainda mais frustrante, pois mostra um comodismo além da conta das partes envolvidas na realização deste tradicional confronto, incluindo as próprias direções de Bahia e Vitória.

Hoje, nas capitais do Nordeste, apenas Salvador e Natal contam com clássicos de torcida única. No duelo potiguar, entre ABC e América, ao menos os dois clubes demonstram ser favoráveis à volta das partidas com duas torcidas, tanto no Frasqueirão, a casa abecedista, quanto na Arena das Dunas, o mando do Mecão. Lá no RN, a rígida medida de segurança ainda é recente, com aplicação desde 2022, mas discussão pode encerrar isso já em 2024.

No duelo baiano, este posicionamento mesmo após cinco temporadas de Ba-Vis descaracterizados liga o alerta sobre a real vontade de melhorar o ambiente no clássico. Considerando as maiores metrópoles do pais com rivalidades polarizadas, apenas Salvador segue assim. O Gre-Nal tem duas torcidas nas duas arenas gaúchas, idem em Belo Horizonte. Em Belém, o Re-Pa divide o novo Mangueirão, assim como o Clássico-Rei no Castelão. No Ceará, aliás, a imagem “50%/50%” na última final estadual, com 56 mil torcedores, impactou bastante e causou até um saudosismo. No público da Bahia, então, nem se fala.

O espelho de São Paulo, sem o mesmo reflexo

Logo, a medida ainda em vigor na capital baiana é, na prática, uma exceção no Brasil, e não a regra sobre a repressão à violência no futebol. Observando cidades com mais de dois clubes grandes, e que enfrentam problemas semelhantes neste tema, Recife e Rio de Janeiro seguem com torcidas divididas. Em Pernambuco, é verdade, já está no limite da regra, com apenas 10% da carga. No início de 2023 o governo do estado chegou a impor a torcida única, com o clássico entre Náutico e Sport, pelo Estadual, ocorrendo assim. No entanto, a medida caiu já em março, com os demais duelos ocorrendo como antes – e assim segue para 2024.

No Rio, com quatro clubes, a carga para visitante depende do adversário envolvido, não sendo um percentual uniforme entre Fla, Flu, Vasco e Botafogo. Porém, sendo 10% ou 30%, há a garantia da torcida visitante. Enfim, chegamos ao cenário de São Paulo, o mais tenso do país e que acaba servindo de espelho para Salvador – mas não deveria. Na maior cidade brasileira, os clássicos na Arena Corinthians, no Allianz Parque e no Morumbi só ocorrem com torcida única. Lá, antes desta recomendação, a carga foi diminuindo aos poucos, até que a redução chegou a ser de 5% para o time visitante em 2009.

Omissão ou excesso de zelo?

Perceba que a palavra recorrente no texto é “recomendação”, pois é o máximo que o Ministério Público pode fazer a partir dos planos traçados pelas partes – a palavra é utilizada pelo próprio órgão. Sem nada novo para mostrar, seja na conscientização do público, no reforço do policiamento, num novo esquema de segurança ou no rigor das sanções em caso de violência, fica mesmo difícil recomendar algo diferente. Cabe ao governo do estado, sobretudo, tomar as rédeas sobre a segurança de um dos símbolos do estado.

Até o momento, porém, vale destacar que essa omissão generalizada na Bahia deverá resultar num Ba-Vi longe daquela imagem que o elevou a grande clássico da região. Nem mesmo a retomada da disputa em alto estilo serviu para fazer diferença. Esperançoso que sou, de vez em quando, acho que ainda é possível rever isso. O 500º Ba-Vi, seja onde for, merece ter rubro-negros na Fonte Nova e tricolores no Barradão.


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