O primeiro campo oficial no mês de inauguração. Foto: Tricolores do CT/divulgação.
O Santa Cruz já investiu mais de R$ 1 milhão em obras no centro de treinamento na Guabiraba, inaugurado em 30 de dezembro de 2018. De lá pra cá, o CT Ninho das Cobras recebeu melhorias estruturais, possibilitando a atividade regular do elenco profissional, algo vital para a evolução do clube – tendo a manutenção do campo do Arruda como consequência direta, por exemplo. Entretanto, quase dois anos depois, o local segue com apenas um gramado – o plantio do segundo segue em crescimento. Neste cenário, então, como achar razoável que o principal local de trabalho do clube tricolor, à parte do seu estádio, seja regularmente ocupado por peladas?
Apesar da nota da comissão patrimonial, tratando como “um jogo recreativo, sem esforço e nem resistência física”, trata-se do óbvio. O diretor João Caixero enviou uma nota à repórter Camila Sousa, do Diario de Pernambucano, confirmando a situação, que – sem surpresa – chateou boa parte da torcida coral. Pelo acordo, o clube cedeu o campo em dois horários no fim de semana, das 15h às 17h30 no sábado e das 8h às 12h no domingo. Com pagamento antecipado de R$ 8 mil por mês. Considerando as 6h30 de atividade no fim de semana, o uso do campo sai por R$ 307,69/hora. Este é o valor que faz com que o Santa Cruz Futebol Clube libere o único (único!) campo do seu CT. E olhe que em caso de choque na agenda, o time profissional precisa utilizar outro espaço – não por acaso, já realizou alguns treinos no Arruda.
Esta não é a primeira vez em que o empreendimento chama a atenção pelo pitoresco. Pouco antes antes da inauguração circulou a foto de uma criação de galinhas, para a venda de ovos. Era algo completamente amador – eram dez galinhas. Na ocasião, houve o recuo. Mesmo agora, com organização de quem aluga e de quem contrata o espaço, trata-se de uma relação que não cabe ao Santa. Talvez na conclusão do projeto, quando o Ninho das Cobras tiver ter três campos de 105m x 68m. Nesta condição, haveria uma brecha – e olhe lá – para aluguéis.
No momento em que há apenas um, o valor é irrisório em relação aos benefícios para o clube. Num cálculo rápido, o aluguel por 12 meses (suposição apenas) renderia R$ 96 mil. Isso representa 0,44% do faturamento tricolor na última temporada, quando teve R$ 21,5 milhões mesmo na Série C. Na minha opinião, a contrapartida, com o dano contínuo na imagem, é muito maior. Incomparável até. A nota ainda trata o aluguel como uma “política moderna do mercado, de se ter um equipamento autossustentável”. A frase se aplica, sim, mas não nestes moldes. O esforço dos abnegados pode ser revisto (mais uma vez). O Santa não precisa disso.
Atualização em 14/09
Após a repercussão do caso, com contatos até de conselheiros, a comissão ponderou e cancelou o contrato de aluguel. O dinheiro antecipado será devolvido. Foi a melhor decisão, até pela falta de anuência às atividades liberadas pelo governo do estado – até aqui, apenas a atletas federados.
Sobre o Centro de Treinamento do Santa Cruz
Nome oficial: CT Rodolfo Aguiar (Ninho das Cobras)
Localização: Recife (Guabiraba), a 17,2 km do Arruda
Área total: 10,5 hectares
Início da operação: 2018
Nº de campos: 3 (1 em atividade e 2 em construção)
Alojamento: 55 quatros (planejado)
O Santa adquiriu o terreno em julho de 2011, por R$ 1 milhão, a partir da venda do atacante Gilberto. Porém, a torcida esperou sete anos até a conclusão do primeiro campo, em dezembro de 2018 – custou R$ 104 mil. Nesse período, o projeto foi refeito, remanejando a estrutura física para acomodar três campos oficiais (seriam dois). A execução do projeto prevê um gasto de R$ 5 milhões.
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