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Ônibus do Bahia

Para o Datafolha, o Bahia tem a 12ª torcida do país, ou “público consumidor”. Foto: Bahia/Twitter.

Atual campeão da Premier League, o Manchester City foi o clube de futebol de maior arrecadação no mundo na temporada passada, com 644,9 milhões de euros, ou R$ 3,4 bilhões. O time comandado por Guardiola encabeça o “City Football Group”, uma holding dos Emirados Árabes que vem comprando ações de clubes mundo afora e assumindo o comando majoritário. Agora, a empresa do sheik Mansour bin Zayed acertou a aquisição do 12º nome, o Esporte Clube Bahia.

Bahia City? Antes de qualquer discussão sobre o “futuro nome”, e logo adiantando que não haverá mudança de fato, vale apontar a provável guinada que o tricolor de Salvador acaba de dar em sua história. A negociação parecia mais boato do que outra coisa. Partindo de setembro de 2021, a história evoluiu para as tratativas, com viagens do presidente do Baêa, Guilherme Bellintani, à Inglaterra e da comitiva do City Group à capital baiana.

Apesar do silêncio do executivo, a negociação seguiu avançando, com a proposta tida como vantajosa e aprovada pela direção. Resta, então, o aval do conselho deliberativo, que recebeu a convocação em 20 de setembro, um ano após a costura. Assim como ocorreu nas mudanças de Cruzeiro, Botafogo e Vasco, os sócios precisam aprovar a venda da maior parte das ações da recém-criada Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do Bahia. Na verdade, será quase a totalidade, com 90% das ações, numa informação adiantada por Rodrigo Capelo, da Globo.

Acesso encaminhado e aporte milionário

Ao Bahia, que oscila entre 2,73 milhões de torcedores, segundo a última pesquisa do Datafolha, e 3,62 milhões, segundo o Ipec, esta parece ser uma chance imediata de equalizar as dívidas e de alavancar investimentos diretos no futebol. Não por acaso, fala-se em R$ 50 milhões de cara para abater dívidas de curto prazo, o que daria fôlego ao orçamento de 2022, estimado inicialmente em R$ 95,6 milhões, com a queda quase pela metade devido ao rebaixamento à Série B. Ao todo, o endividamento líquido do clube é de R$ 235 milhões. Apesar do novo CNPJ, as dívidas da “associação”, como passa a ser chamado o que era o clube de fato, serão amortizadas, a longo prazo, de acordo com a lei federal da SAF.

Tendo como primeiro objetivo esportivo a presença na 1ª divisão de 2023, cuja meta já está em 96%, segundo os matemáticos, o Bahia visa o acesso junto ao orçamento acima de R$ 200 milhões, como ocorreu em 2021. Receita que, com menos despesas, poderá conduzir o clube a objetivos não alcançados há bastante tempo, apesar da democratização (e reconstrução) iniciada em 2013. No caso, além do protagonismo nordestino, quer figurar na parte de cima da tabela do Brasileirão, ao menos no G10, e brigar por uma vaga na Libertadores, cuja última participação aconteceu em 1989, na condição de campeão brasileiro. Por sinal, a luta pela 3ª estrela dourada acima do escudo deverá ser o ponto alto desta negociação milionária. E assim deve partir o ônibus do Bahia, após uma longa revisão na oficina. Veremos onde vai chegar…

Atualização em 23/09: A apresentação oficial confirmou a proposta de R$ 1 bilhão na SAF, com “b” de Bahia mesmo, em até 15 anos. O aporte será dividido em R$ 500 mi na compra de jogadores, R$ 300 mi para a quitação de dívidas e R$ 200 mi em infraestrutura. Além disso, teria uma receita mínima só para a folha do futebol de R$ 120 milhões por ano. É mesmo pra mudar a história.

Evolução da receita anual do Bahia (e a série)
2016 (B) – R$ 80.709.000
2017 (A) – R$ 104.897.000 (+29%; +24,1 mi)
2018 (A) – R$ 136.107.000 (+29%; +31,2 mi)
2019 (A) – R$ 189.485.000 (+39%; +53,3 mi)
2020 (A) – R$ 130.619.000 (-31%; -58,8 mi)
2021 (A) – R$ 208.649.000 (+59%; +78,0 mi)

Evolução do endividamento do Bahia (e a série)
2016 (B) – R$ 214.258.000
2017 (A) – R$ 194.905.000 (-9%; -19,3 mi)
2018 (A) – R$ 184.398.000 (-5%; -10,4 mi)
2019 (A) – R$ 209.948.000 (+13%; +25,5 mi)
2020 (A) – R$ 255.223.000 (+21%; +45,2 mi)
2021 (A) – R$ 235.088.000 (-7%; -20,1 mi)

Os novos coirmãos do Bahia

Esta aquisição marca a entrada do City Group no Brasil. Além de Bahia e Manchester City, cujo sheik detém 78% das ações, o portfólio também tem Girona (Espanha), Lommel SK (Bélgica), New York City (EUA), Melbourne City (Austrália), Montevideo City Torque (Uruguai), Mumbai City (Índia), Palermo (Itália), Sichuan Jiuniu (China), Troyes (França) e Yokohama Marinos (Japão). Pela lista, o Bahia deve brigar com New York e Yokohama pelo 2º (ou 3º) lugar entre os maiores da holding. E isso significa a ordem de prioridade nos investimentos.

Ba-Vi já passou pela S/A. Sem saudade

Em Salvador, Bahia e Vitória já tiveram experiências com “S/A”, ambas as versões criadas em 1998. Na ocasião, os rivais cederam mais de 50% de suas ações para a gestão do futebol, mas acabaram voltando atrás anos depois, após problemas com investidores e choque de ideias. No caso do Bahia S/A, o clube readquiriu parte das ações junto à Ligafutebol, empresa do Grupo Opportunity, tendo hoje 65% das 18 mil ações. Há 6 anos a antiga S/A do tricolor não tem qualquer atividade gerencial, mas uma disputa na justiça comum poderia custar R$ 100 milhões ao clube – e este imbróglio precisou ser solucionado para andar a SAF com o City.

Sobre a SAF, o “F” adicional na S/A faz enorme diferença, pois é um modelo elaborado para os clubes de futebol com um regime fiscal diferenciado e proteção sobre as dívidas – 20% da receita da SAF, de acordo com regra brasileira, precisa ir para as pendências da “associação”, o clube pré-SAF. Portanto, esta é a primeira grande inserção do Nordeste neste novo modelo de gestão, com outros times populares, incluindo os três recifenses (em ritmos distintos), já articulando caminhos internos para a apresentação de outros investidores aos seus sócios.

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Abaixo, veja o vídeo de apresentação da Cidade Tricolor, ou “Tricolor City” numa nova leitura.


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