As receitas e pendências do leão nos últimos 5 anos, da saída da C até a sequência na A.
Os números do Fortaleza em 2021 foram excepcionais. Em campo, o time terminou o Brasileirão em 4º lugar, na melhor colocação nordestina na era dos pontos corridos, rendendo uma inédita classificação à Libertadores, e também chegou à semifinal da Copa do Brasil, no melhor desempenho do tricolor nesta competição. Como consequência deste ciclo esportivo-administrativo, o ponto alto de uma sequência virtuosa em vigor desde 2018, as finanças foram turbinadas, com o Leão do Pici registrando o maior faturamento da história do futebol cearense e o 3º maior de toda a região – só atrás do Bahia, que seque com os dois maiores.
Ao todo, o Fortaleza arrecadou R$ 175,0 milhões, valor muito acima da previsão feita pelo clube para a temporada, considerando todas as cifras de 1º de janeiro a 31 de dezembro. A direção comandada por Marcelo Paz havia estimado uma renda bruta de R$ 94,6 mi. Ou seja, superou a expectativa em R$ 80,4 milhões, com 84% de aumento. Antes de explicar os motivos, vale destacar logo o resultado desta diferença. Originalmente, ainda com reflexos da pandemia, que impactaram as contas de 2020, o clube havia projetado um saldo negativo entre receitas e despesas. E seria um buraco grande, de -14,6 milhões. Porém, acabou sendo o oposto, com +15,3 milhões, no maior superávit (saldo positivo) já divulgado pelo clube.
Para isso, os tricolores cresceram bem nas principais fontes, como direitos de transmissão (+30,4 mi), bilheteria no Castelão (+3,6 mi), patrocínios (+3,0 mi) e mensalidades de sócios (+2,8 mi) – abaixo, você confere a evolução desses quadros. Só que o crescimento veio, sobretudo, através da performance esportiva, voltando ao primeiro parágrafo. Os resultados nos dois torneios nacionais, entre participação e premiações, subiram de R$ 6,4 mi para 53,6 milhões!
Esse montante de cotas “extras” pagas da TV inclui a permanência na Série A de 2020, cuja edição acabou apenas em fevereiro de 2021, com o clube ficando no limite, em 16º lugar, e o G4 em 2021. Embora o clube não tenha destrinchado, vale, como comparativo, usar a tabela-base oficial de premiações para a competição – que sofre algumas mutações a partir dos contratos individuais de tevê. Ou seja, R$ 11 mi pelo 16º lugar e R$ 28 mi pelo 4º lugar. Além disso, o Fortaleza apurou R$ 17,2 milhões na Copa do Brasil, recorde da região em disputas de “copas”, uma marca que pode ser quebrada em 2022 com a campanha na Liberta.
No pódio das maiores receitas do NE
A partir dos demonstrativos contábeis divulgados pelos clubes do NE, esta foi a 14ª vez que um time da região faturou mais de R$ 100 milhões numa temporada. Curiosamente, mas sem surpresa, todos estavam na Série A na ocasião – mas, claro, nem todas as participações na 1ª divisão resultaram neste valor. Eis o nº de vezes acima de R$ 100 mi: 5x Bahia, 3x Ceará e Sport, 2x Fortaleza e 1x Vitória. Observando o ranking abaixo, nota-se a diferença sobre a aplicação dos recursos, em termos de resultados nacionais, pois o Fortaleza foi bem melhor que o Bahia tanto em 2019 quanto em 2021, ficando no G10 do BR nos dois anos.
Os maiores faturamentos anuais dos clubes do Nordeste (+100 mi)*
1º) R$ 208,64 mi – Bahia (2021)
2º) R$ 189,48 mi – Bahia (2019)
3º) R$ 175,05 mi – Fortaleza (2021)
4º) R$ 159,28 mi – Ceará (2021)
5º) R$ 136,10 mi – Bahia (2018)
6º) R$ 130,61 mi – Bahia (2020)
7º) R$ 129,59 mi – Sport (2016)
8º) R$ 120,49 mi – Fortaleza (2019)
9º) R$ 111,97 mi – Vitória (2016)
10º) R$ 105,47 mi – Sport (2017)
11º) R$ 104,89 mi – Bahia (2017)
12º) R$ 104,86 mi – Ceará (2019)
13º) R$ 104,09 mi – Sport (2018)
14º) R$ 103,16 mi – Ceará (2020)
* Em valores nominais
Passivo tricolor subiu pelo 7º ano
Paralelamente ao salto nas receitas, é preciso frisar que as despesas do Fortaleza, a curto e longo prazos, também cresceram. Inclusive, o passivo subiu pela 7ª vez consecutiva, chegando a R$ 74 milhões – menos da metade da última receita. O passivo, somando o circulante (com pendências até 12 meses) e não circulante (acima de 12 meses), engordou em R$ 16,7 mi.
Segundo o relatório do clube, presente no site oficial, parte do “passivo circulante”, o mais preocupante, é representado por “antecipações e receitas a apropriar oriundos de contratos de patrocínio”. O passivo, é sempre bom pontuar, se refere à soma de obrigações (contratos firmados com jogadores, por exemplo) e dívidas (atrasos de pagamentos, por exemplo).
Por fim, ainda neste neste viés sobre a saída de recursos, ainda sob controle, o balanço tricolor indica que o custo das atividades esportivas, com salários dos atletas, direitos de imagem, custeio, comissões etc, subiu de R$ 60,2 mi em 2020 para R$ 106,7 milhões em 2021.
Abaixo, um comparativo sobre quatro frentes importantes para a composição da receita no futebol profissional, presentes nos últimos cinco balanços do Fortaleza – e as respectivas séries.
Direitos de transmissão na TV
2017 (C) – R$ 669.915
2018 (B) – R$ 6.366.829 (+850%; +5,6 mi)
2019 (A) – R$ 31.110.382 (+388%; +24,7 mi)
2020 (A) – R$ 24.108.650 (-22%; -7,0 mi)
2021 (A) – R$ 54.533.112 (+126%; +30,4 mi)
Quadro de sócios-torcedores
2017 (C) – R$ 5.770.297
2018 (B) – R$ 12.255.570 (+112%; +6,4 mi)
2019 (A) – R$ 18.614.682 (+51%; +6,3 mi)
2020 (A) – R$ 11.213.353 (-39%; -7,4 mi)
2021 (A) – R$ 14.080.081 (+25%; +2,8 mi)
Renda nos jogos
2017 (C) – R$ 5.134.102
2018 (B) – R$ 9.114.655 (+77%; +3,9 mi)
2019 (A) – R$ 11.891.514 (+30%; +2,7 mi)
2020 (A) – R$ 2.027.631 (-82%; -9,8 mi)
2021 (A) – R$ 5.689.516 (+180%; +3,6 mi)
Patrocínio/Marketing
2017 (C) – R$ 1.411.996
2018 (B) – R$ 7.693.695 (+444%; +6,2 mi)
2019 (A) – R$ 7.517.773 (-2%; -0,1 mi)
2020 (A) – R$ 6.331.412 (-15%; -1,1 mi)
2021 (A) – R$ 9.380.785 (+48%; +3,0 mi)
A seguir, o histórico de receitas do Fortaleza, com um salto de R$ 162 milhões entre 2014 e 2021. No último ano, o tricolor apurou R$ 15,7 milhões a mais que o rival alvinegro. Lembrando que o leão lançou um orçamento de R$ 141 milhões para 2022. Será que foi novamente conservador?
Faturamento anual do Fortaleza (receita total)
2014 (C) – R$ 12.386.495
2015 (C) – R$ 19.281.315 (+55%; +6,8 mi)
2016 (C) – R$ 23.383.609 (+21%; +4,1 mi)
2017 (C) – R$ 24.456.997 (+4%; +1,0 mi)
2018 (B) – R$ 51.621.897 (+111%; +27,1 mi)
2019 (A) – R$ 120.490.995 (+133%; +68,8 mi)
2020 (A) – R$ 86.069.940 (-28%; -34,4 mi)
2021 (A) – R$ 175.053.214 (+103%; +88,9 mi)
Resultado do exercício (superávit/déficit)*
2014 (C): -1.920.459
2015 (C): -1.667.300
2016 (C): +325.844
2017 (C): -1.192.688
2018 (B): -1.503.071
2019 (A): +3.444.392
2020 (A): -9.787.635
2021 (A): +15.300.604
* O saldo da subtração da receita líquida pela despesa anual
Evolução do passivo acumulado do clube (circulante + não circulante)
2014 (C) – R$ 16.396.649
2015 (C) – R$ 22.303.258 (+36%; +5,9 mi)
2016 (C) – R$ 22.360.449 (+0,2%; +0,05 mi)
2017 (C) – R$ 28.112.178 (+25%; +5,7 mi)
2018 (B) – R$ 32.335.928 (+15%; +4,2 mi)
2019 (A) – R$ 43.485.850 (+34%; +11,1 mi)
2020 (A) – R$ 57.885.088 (+33%; +14,3 mi)
2021 (A) – R$ 74.612.038 (+28%; +16,7 mi)
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O relatório financeiro do Fortaleza sobre 2021, com auditoria independente da Accord