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A camisa de Bruno Campos

As manchas de sangue que cobrem mais uma vez o futebol. Foto: Bruno Campos/Twitter.

O alvirrubro Bruno Campos estava na arquibancada central dos Aflitos, assistindo ao jogo entre Náutico e CSA, pela Série B, quando foi atingido por uma pedra. O objeto foi arremessado de fora do estádio, por membros da torcida organizada do clube adversário na noite. Foi, na verdade, uma chuva de pedras. Uma delas acertou a cabeça do estudante de 20 anos, que precisou ser socorrido. Levou cinco pontos na cabeça, ficando em choque com o episódio.

“Era pra ser uma noite especial pra mim, de reencontro com meu pai e realizar a coisa que nos sempre uniu muito: ver jogos do Náutico. Por pouco não foi uma tragédia!”

Durante a transmissão da partida, pelo canal Premiere, já era possível ouvir o barulho das bombas nas imediações do Eládio de Barros, em algo que simplesmente não se mistura com o futebol. O fato está relacionado às coligações entre as facções, com uma parte significativa usando o futebol como pano de fundo para disseminar a violência, os “3 pontos” que contam.

A principal organizada do clube alagoano é parceria da maior do Santa Cruz, e, por este motivo, potencializa o cenário com a organizada do Náutico, que por sua vez tem apoio da uniformizada do CRB em Maceió. Isso acontece em todos os clubes de massa do Recife, com cada jogo tendo uma conexão diferente. Como a violência sofrida por corintianos, que sequer eram da organizada, por membros da facção do Sport num jogo da Copa do Brasil Sub 17, há uma semana. Na partida seguinte do torneio juvenil, reforço policial na Ilha do Retiro e nenhum caso. Por causa da polícia? Neste caso específico, a explicação mais óbvia é porque as organizadas de Sport e Cruzeiro são “coligadas”.

Essa situação já beira duas décadas, com o embate extracampo nos Aflitos sendo esperado porque qualquer pessoa que acompanhe o futebol pernambucano com o mínimo de atenção. O que se aplica, acredito, à Secretaria de Defesa Social do governo do estado. Tão preocupada em impedir a entrada de instrumentos musicais, não só dessas organizadas como de qualquer outro grupo sem histórico de violência, de bandeiras e apitos, não consegue evitar um confronto óbvio e a história ainda termina com a entrada de todos os envolvidos. Afinal, os membros “infiltrados” da organizada entraram em peso com o cessar das pedras e bombas – assim como os membros da própria uniformizada alvirrubra. A revolta de Bruno se justifica.

“Depois das pedradas a organizada ainda entrou escoltada”.

A impunidade é a marca maior disso tudo, como se no futebol a tolerância fosse diferente. Numa rápida reflexão: Imagine os casos de violência já registrados nos estádios e considere como palco uma praia, a praça da esquina, uma escola ou um shopping. É possível cogitar que ninguém jamais seria punido? Que ninguém nunca seria investigado de fato? Que esses atos violentos não resultariam numa ação efetiva de combate dali em diante? No futebol pernambucano, sabe-se lá o motivo, sai governo e entra governo, essa pedra que atingiu Bruno vira mais um capítulo da violência sem qualquer sinal de que será o último. Aqui, já vimos o registro de um assassinato com o arremesso de uma privada, pra deixar claro o nível abissal. Dito isso, é preciso reforçar que, nos Aflitos, a proibição estava focada num apito.

Por fim, vale destacar a beleza rara da primeira estrofe do hino do Náutico, com os tons de vermelho e branco infelizmente bem além da descrição no jogo em 19 de maio de 2022.

Da união de duas cores mágicas
Nasceu a força e a raça
Vermelho de luta
Branco de paz
Quem olha não esquece jamais
Da união de sete letras mágicas
N-A-U-T-I-C-O

Abaixo, o relato de Bruno Campos no Twitter pouco depois de ser socorrido.

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