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O Arruda sendo preparado para o último jogo na terceirona de 2020. Foto: Rafael Melo/Santa Cruz.

Ao contrário dos últimos anos, o Santa Cruz conseguiu montar um time competitivo para o seu calendário em 2020, e que conseguiu render na maioria dos jogos. Tanto que o desempenho em todas as competições oficiais subiu de 50% para 63%, com apenas 8 derrotas. Na Série C, mesmo sem o acesso, teve uma pontuação acima do G4, com 62% de aproveitamento. Entretanto, nenhum objetivo no futebol foi alcançado. Zero.

No Estadual acabou como vice-campeão invicto, vendo o primeiro título da história do interior. Na Copa do Brasil caiu logo, reduzindo a projeção de receitas no ano. Na Copa do Nordeste foi eliminado por um clube de menor porte, embora numa divisão acima – Confiança, na Série B. E na terceira divisão, com o acesso sendo a maior meta do clube, a queda de produção de um time experiente logo na reta decisiva, com o 3º lugar num quadrangular no qual os dois primeiros subiram. Da terra arrasada em 2019 ao “quase” em 2020, cujo desfecho termina numa avalanche de problemas para o tricolor.

Pra começar, será o 4º ano consecutivo sem cota de tevê no Campeonato Brasileiro, como é comum na A (cerca de R$ 40 milhões) e na B (R$ 6 milhões). Na C, a receita de transmissão é revertida em custeio da competição, com o pagamento de viagens, hospedagens, traslado e arbitragem. Não sobra nada. Isso numa pandemia, com estádios de portões fechados devido à necessidade de distanciamento social. Ou seja, sem renda com torcida – que no clube havia peso. E o quadro de sócios que já era pequeno, inferior ao do Náutico, cuja torcida é bem menor, acaba não sendo um escape esperado. Além da frustração recorrente no futebol, a frustração com a própria instituição, com a reforma do estatuto travada e uma eleição adiada.

As divisões nacionais do Santa Cruz entre 1971 e 2021
Série A – 21x (41,1%)
Série B – 20x (39,2%)
Série C – 7x (13,7%)
Série D – 3x (5,8%)

Nos últimos 10 anos: 1x na A, 3x na B e 6x na C.

Observações sobre a próxima temporada:

1) A vida política do Santa será agitada em 2021 e pode ser até o início de uma reorganização. A gestão de Constantino Júnior deveria ter acabado em dezembro/2020, mas foi esticada até o fim da Série C. Particularmente, entendi como uma solução excepcional num ano excepcional, fato visto também no Sport. Porém, não pegou bem em nenhum dos clubes, pois o objetivo dos caciques parece ser o de perpetuar o poder – possivelmente a partir do sucesso nos respectivos campeonatos. O desfecho do BR no Arruda deixa o quadro imprevisível visando o comando no triênio 2021-2023, embora a situação, historicamente, tenha bastante peso nas votações.

2) Paralelamente à eleição executiva segue o debate sobre a modernização do estatuto do clube, cuja votação foi arrastada, adiada e judicializada. Por quê o conselho tenta impor uma barreira tão grande sobre uma reforma tão necessária? E com resultados práticos em clubes de porte massivo semelhante, com o Bahia sendo um exemplo. A forma como a eleição será realizada e a condução do estatuto podem pautar o abraço ou o distanciamento da torcida coral.

3) A Copa do Nordeste e as “receitas garantidas”. O elenco recém-eliminado da Série C tem uma missão imediata, antes mesmo da articulação de uma nova equipe. Nos dias 26 de janeiro e 2 fevereiro, na véspera do 107º aniversário tricolor, o time enfrentará a Itabaiana pela fase preliminar da Copa do Nordeste. Num ano sem grandes receitas, a eliminação significa R$ 100 mil. Já a classificação vale cerca de R$ 1,7 milhão, considerando o valor pago em 2020 – as cotas oficiais da Lampions 2021 ainda não foram divulgadas. Tal receita pode sustentar o 1º semestre, somada ainda à venda do restante dos direitos econômicos de João Paulo (R$ 2 mi) e à rescisão pelo CT Waldomiro Silva, em Dois Unidos (a Prefeitura do Recife poderá pagar cerca de R$ 10 mi).

4) A Copa do Brasil. No ano passado, o Santa Cruz só disputou duas fases, acumulando R$ 1,1 milhão em cotas – passou pelo Operário-MT e parou no Atlético-GO. A participação foi antes da pandemia. Ou seja, a visão, hoje, é de uma valorização ainda maior sobre as cotas do torneio, uma vez que o tricolor deve seguir sem bilheteria no Arruda por meses, até a vacinação em massa da população. A falta de dinheiro, lembrando, terminou em salários atrasados na Série C. Este mata-mata é o maior vetor esportivo de receitas.

5) A definição do perfil do técnico para 2021. Em 2020, o clube começou com Itamar Schulle, um organizador de sistemas defensivos, e terminou com Marcelo Martelotte, que a muito custo abriu mão dos 3 atacantes, a sua vocação como treinador. Ou seja, não houve um “padrão”. E o padrão para este início de temporada já deve ser focado, de forma absoluta, no nome para o Brasileiro. Portanto, é preciso avaliar o grupo e o modelo de jogo desejado.

6) Mais uma vez, o Campeonato Pernambucano deve ser tratado como laboratório, ainda mais num calendário tão apertado. Porém, considerando a provável classificação da equipe à fase decisiva, é preciso que o time mostre, desde já, um perfil diferente ao de 2020, competitivo nos turnos e empacado na “Hora H”. Foi assim em todas as eliminações/frustrações. A construção de uma imagem vencedora importa.

7) Continuidade da estruturação do do centro de treinamento. Havia uma expectativa de que o segundo campo do Ninho das Cobras fosse finalizado ainda em 2020. Não aconteceu, mas, com o trabalho em andamento, deve ser no início de 2021. A cada ano vai ficando evidente o hiato estrutural do Santa em relação aos adversários, mesmo aqueles bem menores – caso do Floresta (CE), estreante na próxima Série C. A correção disso é imprescindível, tanto para o time profissional quanto para uma condição melhor para a revelação de talentos, outro possível desafogo a médio/longo prazo.

O desempenho do Santa Cruz em “2020”
47 jogos (66 GP e 35; +31 SG)
25 vitórias (53,1%)
14 empates (29,7%)
8 derrotas (17,0%)
63,1% de aproveitamento

Por torneio
Estadual (12 jogos; 8V, 4E e 0D) – Vice
Nordestão (9 jogos; 4V, 2E e 3D) – Quartas (5º)
Copa do Brasil (2 jogos; 0V, 2E e 0D) – 2ª fase (50º)
Série C (24 jogos; 13V, 6E e 5D) – 2ª fase (5º)

Leia mais sobre o assunto
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A íntegra do texto sobre a reforma do estatuto do Santa Cruz. Tem 29 páginas

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