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Antônio Luiz Neto

ALN foi o 54º presidente do Santa, mas entregou uma carta de renúncia e antecipou o 55º.

Eleito por aclamação para um mandato tampão, Antônio Luiz Neto ficaria à frente do Santa Cruz de março de 2022 até dezembro de 2023. Cumpriria os meses restantes de Joaquim Bezerra. Entretanto, assim como o anterior, o dirigente renunciou à presidência executiva. Em ambos os casos, pela absoluta falta de resultados no futebol, esfarelamento do apoio político e pressão da torcida tricolor. Mesmo assim, demorou desta vez. Afinal, a carta de renúncia, entregue ao Conselho Deliberativo, foi feita faltando pouco mais de dois meses para o fim do triênio original (2021-2023). Essa saída acabou sendo, na verdade, um movimento de ALN para evitar o afastamento pelos trâmites internos do Santa.

Uma carta para não ficar inelegível

Tanto que a renúncia aconteceu no dia seguinte à marcação da reunião dos conselheiros para a definição ou não do afastamento, no embalo das contas reprovadas no último demonstrativo financeiro do clube. Caso ocorresse a punição, o agora ex-presidente ficaria inelegível por dez anos. Ao antecipar essa retirada, Antônio Luiz Neto pode, em tese, fazer parte até mesmo do próximo processo sucessório, que visa o triênio 2024-2026, período no qual deverá ser implantada a Sociedade Anônima do Futebol (SAF) do tricolor.

Além da carta, ALN ainda disse o seguinte ao site Globo Esporte: “Renunciei para Jairo (Rocha) assumir e tentar conciliar com as pessoas, já que eu não consegui evoluir com essas conversas. Estou entregando o clube com o coração batendo forte, e com uma proposta para SAF feita. Fiz isso para evitar mais crise. Para não se judicializar o Santa Cruz”.

Renúncia, a saída recorrente no Recife

A temporada de 2023 foi a pior do estado em termos de representatividade no Brasileirão, com 1 clube na Série B, 1 a Série C e 2 na Série D. É a escalada do enfraquecimento. Entre 2016 e 2017, por exemplo, o Náutico registrou duas renúncias e quatro presidentes. Foi parar na Série C. Quase idêntico ao que aconteceu com o Sport entre 2020 e 2021, com cinco mandatários e outro rebaixamento à Série B – não consigo imaginar outro clube deste porte superando esse número. Agora, portanto, o Santa se juntou ao recorte com renúncias em sequência, não por acaso indo da Série C a um cenário sem divisão nacional.

Ao todo, esta foi a 9ª renúncia de um presidente executivo no trio de ferro no Século XXI, com as duas últimas no Arruda – veja abaixo. Neste seu terceiro mandato, ALN ficou à frente do clube coral por 18 meses, sendo um dos períodos mais curtos do Santa em 40 anos. Maior apenas que Aristófanes de Andrade (12 meses) e Joaquim Bezerra (14 meses). Consumada a saída do principal cacique coral na última década, que viu o seu capital político minguar, o Santa Cruz deve partir para uma necessária, mas já tardia, eleição presidencial.

Nova gestão deve mensurar o valor da SAF

Paralelamente à sucessão, a tendência é que a decisão sobre a SAF do Santa, que seria exclusiva do mandatário, volte a contar com a escolha dos sócios, como na maioria dos clubes de massa – o candidato que não for por esse caminho dificilmente ganhará nas urnas. Sobre a SAF, que no fim das contas parecia ser o centro de tudo, a negociação ocorrerá no pior período possível, a partir de um passivo de R$ 292 milhões, com a negociação coletiva via Recuperação Judicial, da receita limitadíssima e da falta de jogos do time principal.

Em 2024, o Santa Cruz deverá atuar por apenas quatro meses, no Pernambucano e na Pré-Copa do Nordeste. A partir de abril, caso não ocorra uma reviravolta, serão oito meses de inatividade no futebol profissional, num limbo que ganhou forma sob a gestão de Antônio Luiz Neto. Em março do ano passado ele havia chegado respaldado pela liderança no tricampeonato estadual em 2011, 2012, 2013, além dos acessos às Séries C (2011) e B (2013).

O “alento” que vem do rival

Uma década depois, Antônio Luiz Neto fez o inverso, numa mistura de incompetência na gestão do futebol, centralizando decisões numa receita já datada, e fora de dele. Um alento neste momento é o fato de que o Náutico conseguiu articular, mesmo sem sair da Série C, uma proposta de R$ 970 milhões de investimentos em dez anos. Então, pensando no longo prazo, o Santa Cruz ainda pode ser visto no mercado como um clube economicamente viável, apesar de extremamente desafiador. Até aqui, não há um valor apurado sobre o clube, embora o ex-presidente tenha dito que já conseguiu uma proposta.

A crise segundo a carta de Antônio Luiz Neto:
“Ressalto que aceitei assumir novamente à presidência, em momento de extrema criticidade, convocado por diversos tricolores, ex-presidentes, beneméritos e conselheiros com o objetivo maior de salvar o clube da crise financeira que ameaçava o seu patrimônio e a própria existência da instituição, juntamente com o direcionamento do clube para a constituição de uma Sociedade Anônima de Futebol (SAF) e revitalização do seu patrimônio imobiliário, caminhos que se mostram necessários ao soerguimento da instituição, e que persegui incansavelmente, juntamente com o corpo de dirigentes, funcionários e profissionais contratados para tanto.”

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A seguir, relembre as nove renúncias de presidentes do trio de ferro no Século XXI.

2001 (Sport) – Luciano Bivar, presidente nos quatro anos anteriores, acabou renunciando no início do terceiro mandato, durante a má campanha no Brasileirão. Assumiu Fernando Pessoa.

2003 (Náutico) – Sérgio Aquino só comandou o clube no primeiro ano do mandato para 2002/2003. Num acordo político, ficou acertado que Eduardo Araújo presidiria no segundo ano.

2013 (Sport) – Luciano Bivar, novamente. Desta vez, ao pé da letra, foi “licença”, saindo novamente no primeiro ano. O vice, João Humberto Martorelli, assumiu até o fim e depois se reelegeu.

2016 (Náutico) – Eleito por uma diferença de 10 votos, Marcos Freitas deixou o clube no primeiro ano, alegando problemas de saúde. Assumiu o então vice-presidente, Ivan Brondi.

2017 (Náutico) – Após assumir o comando já por um afastamento, Ivan Brondi acabou renunciando após sofrer tentativas de agressão, em agosto, com o time mal na Série B.

2021 (Sport) – Renúncia dupla. Em junho, apenas dois meses após a eleição, o presidente Milton Bivar e o vice Carlos Frederico saíram. Com isso, foi preciso fazer uma eleição suplementar na Ilha.

2021 (Sport) – Após vencer a eleição suplementar do Sport, em julho, Leonardo Lopes pediu licença outubro. A saída acabou se estendendo até o fim do mandato, com Yuri Romão à frente.

2022 (Santa Cruz) – Após a saída de toda a cúpula, Joaquim Bezerra abdicou do mandato de três anos. Já sem vice, o processo político acaba resultando numa nova eleição no Arruda.

2023 (Santa Cruz) – Pressionado pela situação sem precedentes no futebol, que ficou sem calendário nacional, Antônio Luiz Neto renunciou ao mandato-tampão.


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