Seguindo a divulgação do estudo sobre as finanças dos clubes brasileiros nos últimos dez anos, a Pluri Consultoria apresentou mais quatro cenários específicos sobre o faturamento. Em todos os casos, quando foi possível pinçar os dados nos relatórios fiscais de 35 clubes tradicionais. Lembrando que o blog já havia publicado o quadro sobre as cotas de televisão de 2008 a 2017, cuja importância para o debate merece uma atenção à parte.
A seguir, os rankings divulgados pelo diretor da Pluri, Fernando Ferreira. Fiz uma breve análise sobre cada um, iniciando o texto com o viés nacional e em seguida com o viés regional.
Bilheteria
O Allianz Parque foi inaugurado em 2014, com a vitória do Sport sobre o Palmeiras por 2 x 0. De lá para cá, o alviverde paulista somou dois títulos expressivos por lá, a Copa do Brasil (2015) e a Série A (2016), com ótima ocupação em sua arena – com seguidas rendas milionárias. Além da liderança na bilheteria, tem uma considerável vantagem de R$ 52 mi sobre o 2º lugar, o Flamengo, clube mais popular do país – lembrando que Grêmio e Corinthians ficaram com dados até 2014 devido aos modelos de contrato firmados com as construtoras de suas arenas.
Entre os nordestinos, o Bahia aparece à frente em renda líquida, mesmo sem liderar o público no período. Trata-se da óbvia diferença no tíquete médio, acima do valor subsidiado pelo ‘Todos com a Nota’, a campanha estatal que vigorou em Pernambuco durante sete temporadas neste recorde. De acordo com o levantamento da Pluri, o Bahia estabeleceu uma vantagem de R$ 43 milhões sobre o Sport – é muita coisa. Na região, o clube menos ‘dependente’ desta receita foi o Vitória, com 9%.
Sócio-torcedor
A liderança gaúcha é descomunal, com Inter e Grêmio sendo os únicos acima de R$ 400 milhões. O patamar seguinte já cai bastante, para a casa de R$ 200 milhões, com o Palmeiras. Essa vantagem é baseada na introdução do modelo “sócio-torcedor” nos primeiros anos da década passada. A rápida aceitação e a tradicional ‘gangorra’ da rivalidade elevaram os times a dezenas de milhares de associados adimplentes, ajudando a equilibrar as disputas com os maiores clubes do eixo Rio-SP – turbinados pelas cotas de tevê. Não por acaso, neste recorte, os dois ganharam a Libertadores – enquanto isso, Vasco e Botafogo aparecem em 19º e 20º, respectivamente.
No Nordeste, os três pernambucanos aparecem à frente dos baianos. Neste quesito, o Sport lidera, justificando o maior número de sócios. Entretanto, chama a atenção a força dos catarinenses, de centros (municípios) bem menores. Quatro deles estão na frente do leão, com o quinto catarinense, o Joinville, logo depois do rubro-negro pernambucano (47 mi x 46 mi).
Venda de jogadores
O São Paulo arrecadou R$ 2,85 bilhões nos últimos dez anos, considerando todas as suas receitas. Cerca de 1/4 deste montante foi resultado do balcão de negócios do tricolor do Morumbi, com vendas de jogadores acima da média nacional. Em 2012, por exemplo, o clube recebeu R$ 81 milhões por 75% dos direitos econômicos do meia Lucas, cedido ao PSG da França. Neste cenário, a diferença sobre o rival Corinthians foi R$ 154 milhões – sendo o alvinegro também um bom vendedor, com R$ 30 mi nas saídas de Renato Augusto e Jádson, em 2016.
No Nordeste, a primeira colocação pertence, sem surpresa, ao Vitória – até hoje, é o clube com mais vendas milionárias na região. Assim como a da dupla cearense, ausente em todos quadros detalhados por falta de informações nos balanços, o Náutico também ficou de fora neste estudo. Obviamente, não quer dizer que o dado alvirrubro tenha sido ruim, até porque, segundo com o levantamento blog, o clube de Rosa e Silva teve nove vendas milionárias entre 2008 e 2017.
Marketing
O último quadro é o único cujo nome não é uma tradução precisa. Considerando o modelo europeu, chamado de “comércio e marketing”, o ranking contempla receitas com patrocínios, produtos licenciados e merchandising. Aqui a força popular de Corinthians e Flamengo finalmente coloca os dois no topo. E a vantagem é corintiana, que tem mais torcida no Sudeste, um centro econômico mais forte, embora o Fla detenha a maior torcida nacional.
Na análise regional, considero surpreendente a primeira colocação do Vitória, devido às informações sobre vendas de uniformes de Sport e Bahia, à frente – até porque, na questão dos patrocínios, os três recebem o mesmo valor, da Caixa, desde 2014. Com participações na Série A no período, o Náutico usufruiu do período para ficar à frente do Santa, com uma presença na elite.