Os dois novos uniformes foram apresentados no mesmo dia. Fotos: Ceará e Fortaleza/divulgação.
Antes da novidade, um pouco de história. No futebol, algumas relações comerciais duram anos, com a marca ficando realmente atrelada ao uniforme na mente do torcedor. No Brasil, o caso mais emblemático foi o do Flamengo com a Petrobrás, numa parceria de 25 anos – o clube estampava o produto “Lubrax” na camisa.
Recentemente, a Caixa Econômica Federal patrocinou 35 clubes entre 2012 e 2018, com o Athletico-PR presente nas sete temporadas. No Nordeste, o Vitória teve o patrocínio máster mais duradouro, com seis anos. Porém, eram renovações anuais. E aí entra a curiosidade sobre os acordos anunciados por Ceará e Fortaleza em 14 de maio, com cada clube tratando como a “maior parceria da história do futebol cearense”.
Alvinegros e tricolores assinaram um acordo com a rede varejista Zenir com duração de cinco anos, até 2026 – começando já no Clássico-Rei em 15/05. Apesar da alcunha, os clubes não revelam valores do novo patrocinador máster, resguardados na cláusula de confidencialidade entre associações privadas, o que não era o caso da Caixa, uma empresa pública – veja as cifras da região abaixo. Por sinal, considerando o maior valor já pago no estado, com o Ceará recebendo R$ 4 milhões da Caixa em 2018, o novo acordo seria, de fato, considerável.
À parte disso, foi possível obter mais algumas informações sobre o modelo de negócio proposto, que tende a ser observado por outros clubes de peso da região, como aconteceu com as marcas próprias de uniforme, hoje já estabelecidas. Ou seja, uma aposta local que pode remodelar o mercado de forma realmente coletiva – confira na entrevista abaixo.
Ainda vale destacar que esta não é a primeira vez que os rivais cearenses fecham um acordo em conjunto. Em janeiro de 2019, os dois clubes, com os mesmos presidentes (Robinson de Castro no vozão e Marcelo Paz no leão) fecharam com a Alubar por um ano, valendo para barra traseira. Desta vez, foi para a parte frontal, a área mais nobre. Contextualizando para o Recife, o último patrocínio triplo foi em 2008, com a Minasgás, mas em espaços menores nos padrões de Náutico, Santa Cruz e Sport. Já o último patrocinador máster em conjunto no trio foi em 1999, com a Excelsior Seguros. Ou seja, 22 anos separam as realidades de CE e PE.
As receitas do Ceará com patrocínio/marketing
2017 (Série B) – R$ 4,39 mi
2018 (Série A) – R$ 9,68 mi (+5,2 mi)
2019 (Série A) – R$ 9,50 mi (-0,1 mi)
2020 (Série A) – R$ 8,04 mi (-1,4 mi)
2021 (Série A) – R$ 22,20 mi (+14,1 mi), previsão do clube
As receitas do Fortaleza com patrocínio/marketing
2017 (Série C) – R$ 1,41 mi
2018 (Série B) – R$ 7,69 mi (+6,2 mi)
2019 (Série A) – R$ 7,51 mi (-0,1 mi)
2020 (Série A) – R$ 6,33 mi (-1,1 mi)
2021 (Série A) – R$ 9,84 mi (+3,5 mi), previsão do clube
A seguir, uma breve entrevista do blog com o diretor de marketing do Ceará, Lavor Neto.
Qual o valor do contrato? Ou a diferença em relação ao anterior…
“Por questões de confidencialidade não podemos divulgar. Mas posso assegurar que é um valor que corresponde ao tamanho e crescimento do Ceará. A Zenir ficou muito impressionada com a repercussão, não só entre clientes, mas também junto as marcas de eletrodomésticos parceiras da Zenir, do patrocínio deles que fizemos na final da Copa do Nordeste, e a oportunidade de ter a marca dela na Sul-Americana. A grandiosidade se dá não só pelas cifras, mas pelo tempo de contrato.”
Considerando que são 5 anos, há alguma cláusula de ajuste financeiro no ano dependendo da divisão no Brasileiro?
“Sim, existe um ajuste financeiro pela performance esportiva.”
Qual foi a estratégia para firmar um acordo a longo prazo?
“O clube demonstrou ter uma estabilidade, segurança e profissionalismo para o mercado que despertou, além do interesse, a confiança da empresa investir no clube. A empresa percebeu a oportunidade e o potencial de exposição que clube gera ao longo do ano. Uma frequência e impactos enormes não só no ambiente digital, como nas mídias tradicionais.”
Abaixo, os maiores patrocínios do NE na última década, entre aqueles divulgados. O recorde obtido pelo Bahia, em 2017, aconteceu a partir de “gatilhos” contratuais na Caixa. No caso, o clube, que ganhava o mesmo valor-base de Sport e Vitória, recebeu R$ 300 mil pelo título do Nordestão. Em todos os casos, jogar nas Séries A, B e C influenciava diretamente no valor, além do próprio tamanho do clube – havia valores distintos numa mesma divisão. E o escalonamento divisional está previsto no contrato Ceará/Zenir. Indo para o 4º ano seguido na 1ª divisão, o vozão terá o maior aporte caso se mantenha na elite. Ou seja, à parte da estreia, os quatro próximos anos estão em aberto. E o mesmo tende a se aplicar no Fortaleza.
Os dez maiores patrocínios anuais do Nordeste (entre os divulgados*)
1º) R$ 6,3 milhões – Bahia (2017)
2º) R$ 6,0 milhões – Vitória (2013-2018; 6 anos)
2º) R$ 6,0 milhões – Sport (2014-2017; 4 anos)
2º) R$ 6,0 milhões – Bahia (2018)
5º) R$ 4,0 milhões – Ceará (2018)
6º) R$ 3,2 milhões – Fortaleza (2018)
7º) R$ 2,8 milhões – Sport (2018)
8º) R$ 2,4 milhões – Ceará (2017)
8º) R$ 2,4 milhões – Náutico (2017)
8º) R$ 2,4 milhões – Sampaio Corrêa (2018)
* Todos os acordos foram firmados com a Caixa Econômica Federal
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