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Troféu do Brasileirão

Não seriam dois torneios paralelos, mas dois contratos paralelos. Foto: Lucas Figueiredo/CBF.

Com nove meses desde a criação da primeira liga, a disputa sobre o controle do Campeonato Brasileiro evoluiu para duas ligas nacionais com 44 clubes envolvidos, sendo 10 do Nordeste, e dois fundos bilionários interessados em investir na competição a partir de 2025, quando acaba o atual contrato de transmissão junto à Rede Globo. Cruzando informações, entre posicionamentos oficiais e reportagens do globoesporte (Rodrigo Capelo e Martín Fernandez) e UOL (Rodrigo Mattos), é possível observar um claro cenário de cisão e de que as duas cifras apresentadas, apesar de somarem quase R$ 10 bilhões, não podem coexistir. Tem mais. Em caso de “racha” a grana ainda pode ser menor que o previsto. Vamos então ao roteiro disso.

Embora a Libra (Liga do Futebol Brasileiro) tenha sido criada três meses antes, em maio de 2022, a LFF (Liga Forte Futebol) chegou primeiro a um entendimento oficial com investidores, já como resposta à presença dos cinco clubes de maior torcida na associação concorrente. E é deste modelo que é possível deduzir alguns pontos importantes. Em novembro, a Libra já havia comunicado a “concessão de um período de exclusividade” para negociar com a Mubadala, do Oriente Médio, com a possibilidade de obter até US$ 900 milhões, ou cerca de R$ 5 bilhões. Essa verba seria destinada à compra de 1/5 da “empresa” que será constituída para gerir o bloco. Em 6 de fevereiro, contudo, a LFF divulgou o pré-acordo com a Serengeti, dos EUA, por uma fatia igual, restando apenas a aprovação dos conselhos dos clubes filiados.

Atenção às prováveis cláusulas

Neste segundo caso, o ato saiu com valores concretos e cláusulas sobre cenários distintos. A principal é a redução do montante de R$ 4,85 bilhões para R$ 2,30 bi caso a adesão ao futuro contrato de gestão do BR seja limitada aos times do Forte Futebol, que hoje conta com 9 dos 20 times da elite. Segundo Capelo, o valor máximo seria pago a partir de 36 clubes, somando as Séries A e B, enquanto o valor inferior seria por um pacote de 22 a 35 clubes – abaixo disso, então, nem sai. Portanto, o valor pode ficar restrito a 47,42% da proposta.

Na verdade, hoje, esta é a tendência. No anúncio da negociação entre Libra e Mubadala não foi citada a redução, mas o GE trouxe a apuração de bastidores de que haveria, sim, uma exigência do fundo árabe de ter os 20 clubes do Brasileirão. Ou seja, de que todos os participantes da Série A estejam no contrato – abaixo, veja os perfis de cada liga. Sendo assim, como mera curiosidade, vamos tratar o percentual da LFF/Serengeti como o mesmo para Libra/Mubadala. Essa possibilidade de redução deixaria o “piso” em R$ 2,371 bilhões.

1 campeonato e 2 contratos de TV

No desenho do cenário atual, a CBF manteria a plena organização do Brasileirão, sem risco de uma “Copa União” da vida, creio, enquanto as ligas ficariam à frente apenas dos contratos de transmissão, valendo a partir da Lei do Mandante, implantada em 2021, com os direitos de exibição na TV exclusivos ao time da casa. Como exemplo, Fortaleza x Flamengo, com o jogo no Castelão sendo da LFF e o jogo no Maracanã sendo da Libra. No hipotético cenário com os valores reduzidos, o que significa a ausência de unanimidade dos participantes em cada acordo, a soma dos contratos cairia de R$ 9,85 bi para R$ 4,671 bilhões. Este seria o valor de fato pela presença de todos os clubes nas duas principais divisões, com 40 nomes.

Seguindo o exercício matemático, o comparativo deste dado com o valor máximo corresponderia a 93,4% da Libra e a 96,3% da LFF. Portanto, abaixo do aporte previsto em caso de presença integral, seja qual for a liga, com queda de R$ 329 milhões e R$ 179 milhões, respectivamente. Num desfecho assim, imagino que alguém deva sair ganhando, mas, a longo prazo, talvez não sejam exatamente os personagens de maior interesse para os torcedores, os seus clubes. Com reuniões regulares nas ligas, essa turma toda ainda têm tempo, mas não muito, para chegar ao entendimento realmente necessário…

Abaixo, confira um resumo sobre as duas ligas nacionais em 7 de fevereiro de 2023:

Liga do Futebol Brasileiro (Libra)

Fundação: 3 de maio de 2022
Nº de filiados: 18 clubes (11 da Série A de 2023)
Captação de receita: até R$ 5 bilhões por 20%
Fundo investidor: Mubadala Capital, dos Emirados Árabes (em negociação)
Assessorias envolvidas: Banco BTG Pactual e Codajas Sports Kapital (CSK)
Distribuição: 45% de forma igualitária, 30% por performance esportiva e 25% em apelo comercial (divisão original: 40%, 30% e 30%)

SITUAÇÃO ATUAL:
Criada com 6 clubes, mas já contando com as maiores massas, com Flamengo, Corinthians, São Paulo e Palmeiras, a Libra sugeriu uma divisão em três frentes, como nas principais ligas, mas com o percentual igualitário menor. Com a previsão inicial de 40% na cota igualitária, estava abaixo da Bundesliga (50%), La Liga (50%) e da Premier League (68%). Em novembro isso foi ajustado para 45%. Visando a mediação de um acordo entre as duas ligas, o Bahia, que entrou na Libra só em janeiro de 2023, quer estipular uma diferença máxima de x3,09 entre a maior cota e a menor num mesmo campeonato. Hoje, a diferença é superior a isso – e a ideia ainda não vingou. Sobre o último percentual da divisão das receitas, o tal “apelo comercial”, o cálculo seria focado em 3 pontos: base de assinantes no PPV, audiência na tevê aberta e média de público nos estádios – inicialmente eram 5 pontos, tendo ainda redes sociais e pesquisa de torcida. Quanto à negociação com o fundo árabe, ainda não houve a formalização do acordo.

FILIADOS À LIBRA:
11 na Série A: Bahia (BA), Botafogo (RJ), Bragantino (SP), Corinthians (SP), Cruzeiro (MG), Flamengo (RJ), Grêmio (RS), Palmeiras (SP), Santos (SP), São Paulo (SP) e Vasco (RJ); 7 na Série B: Guarani (SP), Ituano (SP), Mirassol (SP), Novorizontino (SP), Ponte Preta (SP), Sampaio Corrêa (MA) e Vitória (BA)

Liga Forte Futebol (LFF)

Fundação: 28 de junho de 2022
Nº de filiados: 26 clubes (9 da Série A de 2023)
Captação de receita: até R$ 4,85 bilhões por 20%
Fundo investidor: Serengeti Asset Management, dos EUA (com pré-acordo)
Assessorias envolvidas: XP Investimentos, Setoguti Advogados, Álvarez & Marsal e LiveMode
Distribuição: 45% de forma aigualitária, 30% por performance esportiva e 25% em apelo comercial (divisão original: 50%, 25% e 25%)

SITUAÇÃO ATUAL:
A LFF é uma espécie de dissidência, pois antes de ser fundada os clubes fizeram uma contraproposta à Libra, ainda em maio de 2022, mas que não foi aceita na integralidade. Na fundação de fato, os clubes estipularam um percentual de 50% (cota igual), 25% (colocação no BR) e 35% (apelo comercial). Entretanto, o comunicado mais recente alterou isso para 45%, 30% e 25%, respectivamente, com a “base” também ficando abaixo das maiores ligas europeias. Entretanto, a diferença máxima entre as cotas teria que ser de x3,5 – como ocorre na Espanha. Sobre o “apelo comercial”, a divisão mais confusa nas duas ligas, a Forte Futebol quer que a divisão ocorra com “métricas objetivas e não manipuláveis”, apesar de não ter detalhado. Por fim, em relação ao acordo com o fundo, a expectativa é obter o aval dos filiados ainda neste ano.

FILIADOS À LFF:
9 na Série A: Athletico (PR), Atlético (MG), América (MG), Coritiba (PR), Cuiabá (MT), Fluminense (RJ), Fortaleza (CE), Goiás (GO) e Internacional (RS); 12 na Série B: ABC (RN), Atlético (GO), Avaí (SC), Chapecoense (SC), Ceará (CE), Criciúma (SC), CRB (AL), Juventude (RS), Londrina (PR), Sport (PE), Vila Nova (GO) e Tombense (MG); 5 na Série C: Brusque (SC), CSA (AL), Figueirense (SC), Náutico (PE) e Operário (PR)

As principais ausências do processo

Da discussão entre Libra e Forte Futebol, sempre me chama a atenção a ausência do Santa Cruz (PE) neste processo. Até quando? Embora esteja na Série D, o clube tem apelo popular e o projeto da liga começa só daqui a dois anos. Isso também vale para Remo (PA) e Paysandu (PA), hoje na Série C, que já é visada pelas ligas. Em tempo: são as três maiores torcidas ainda ausentes.

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