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O quadro presente no regulamento oficial da Fifa sobre os espaços dos assentos nas arenas.

O governo do estado do Rio de Janeiro lançou em 22 de maio um programa sobre a flexibilização das atividades em relação à crise do Coronavírus, incluindo o futebol, com a possibilidade de jogos com público já em junho. À parte dos dados sobre o estado, um dos mais afetados nesta pandemia, me chamou a atenção os dados propostos. Segundo a reportagem do jornal O Globo, o “Pacto Social pela Saúde e pela Economia” prevê a reabertura dos estádios com 50% da capacidade e com um distanciamento mínimo de 2 metros entre os torcedores. Já haveria um debate severo sobre a saúde pública se apenas uma das medidas fosse adotada, mas no caso das duas, o cruzamento torna o cenário impossível, matematicamente falando.

Vamos lá. Considerando os dados oficiais em relação à capacidade de público, cada assento precisa ter 50 centímetros de comprimento, 40 centímetros de largura e mais 40 centímetros para a circulação no degrau – ou seja, 80 centímetros de um encosto para o outro. São as determinações presentes no relatório “Estádios de Futebol – Recomendações Técnicas e Requisitos”, em tradução livre. O documento de 420 páginas foi produzido pela Fifa em 2011, com 10 mil cópias, com a íntegra já disponível em PDF. O texto foi a base de todas as edições da Copa do Mundo desde então. Em relação à estrutura, trata-se do popular “Padrão Fifa”. Portanto, foi o quadro – nas páginas 109 e 110 – utilizado para as obras na Arena Pernambuco, na Fonte Nova, no Castelão e, claro, no Maracanã, o palco da decisão de 2014.

Embora seja limitado para 70 mil pessoas em jogos de clubes, a capacidade máxima do Estádio Mário Filho é de 78.838. Mesmo consciente em relação ao cenário prático menor para as apresentações de Flamengo, Vasco, Fluminense e Botafogo, fiz os cálculos levando em conta a carga total. Mesmo assim, com dez projeções distintas, o maior percentual de ocupação chegaria a 18%, muito abaixo do número divulgado pela Secretaria de Desenvolvimento Econômico, Energia e Relações Internacionais do Rio. E haja boa vontade, por exemplo, para imaginar grupos de até cinco torcedores em todos os setores, afinal, precisam ser pessoas que já convivam no mesmo ambiente nesta quarentena, e, ao contrário dos jogadores e profissionais envolvidos nos jogos, não haveria como promover a testagem no público. À vera, me parece uma forçada de barra daquelas. Que outros governos estaduais evitem a medida ou que, no mínimo, o governo carioca explique o cruzamento desses dados…

O método para chegar à capacidade mínima possível
No cálculo “horizontal”, quatro cadeiras precisam ficar vagas ao lado do torcedor para que seja respeitada a distância de 2 metros. Como cada assento tem 50 cm, o total aqui é de 2,5 metros, ou cinco lugares, sendo apenas um ocupável. Já em relação às fileiras, no cálculo “vertical”, o espaçamento entre os encostos é de 80 cm. Por isso, calculei a distância em 1,6 metro, com duas fileiras vazias – ou seja, 40 cm abaixo do mínimo estipulado. Caso o cálculo seja com três fileiras vazias, a distância sobe para 2,4 metros, o que reduziria ainda mais a capacidade.

Cenário 1 no Maracanã
Considera uma distância horizontal de 2,0 metros entre o torcedor mais próximo (do bloco seguinte) e uma distância mínima entre as fileiras de 1,6 metro. Neste caso, é um dado já abaixo do mínimo estipulado pelo governo. Ou seja, mesmo que fosse feita uma nova concessão sobre o distanciamento, a capacidade seguiria bem abaixo do dado total de “50%”.

1 pessoa para cada 15 assentos: 5.255 lugares (6,6%)
2 pessoas para cada 18 assentos: 8.759 lugares (11,1%)
3 pessoas para cada 21 assentos: 11.262 lugares (14,2%)
4 pessoas para cada 24 assentos: 13.139 lugares (16,6%)
5 pessoas para cada 27 assentos: 14.599 lugares (18,5%)

Cenário 2 no Maracanã
Considera uma distância horizontal de 2,0 metros entre o torcedor mais próximo (do bloco seguinte) e uma distância mínima entre as fileiras de 2,4 metros. Este é o menor quadro possível considerando o mínimo estipulado pelo governo do Rio, embora já exceda em 40 cm o hiato entre as fileiras.

1 pessoa para cada 20 assentos: 3.941 lugares (4,9%)
2 pessoas para cada 24 assentos: 5.569 lugares (8,3%)
3 pessoas para cada 28 assentos: 8.446 lugares (10,7%)
4 pessoas para cada 32 assentos: 9.854 lugares (12,4%)
5 pessoas para cada 36 assentos: 10.949 lugares (13,8%)

Após a apresentação desses dados, vamos a algumas observações (e variáveis):

– O tempo gasto para a entrada e saída dos torcedores seria um problema, sobretudo na saída, num movimento maior e com o público tendo que seguir respeitando o distanciamento durante o traslado. E olhe que isso considera todos os portões abertos.

– O difícil controle do público em lances importantes, com a marcação de um gol, de um pênalti ou de um lance irregular etc. Na comemoração do gol, especificamente, nada de abraços. Fora a utilização dos banheiros e bares, certamente escalonados

– Segundo o levantamento do site Globoesporte, as médias de público no Carioca de 2020 são as seguintes: Flamengo 43,3 mil (4 jogos), Fluminense 16,9 mil (6 jogos), Vasco 16,4 mil (3 jogos) e Botafogo 5,9 mil (4 jogos). A queda no borderô seria considerável em qualquer cenário real (tirando o Bota).

– Na Alemanha, com menos casos de contaminação que o Brasil e com a curva já sendo achatada, o campeonato nacional voltou de portões fechados, com no máximo 300 pessoas no estádio – todas envolvidas na realização. O menor cenário calculado neste post teria 3,9 mil torcedores, fora as pessoas envolvidas no jogo.

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