A nova fachada do Castelão celebra o cinquentenário. Foto: Sesporte/divulgação.
Após a modernização em 2013, o Castelão passou a ser um estádio com excelente taxa de ocupação, alinhando o conforto para o torcedor ao crescimento técnico e administrativo dos dois principais clubes do estado, Ceará e Fortaleza, que já esgotaram várias vezes a capacidade máxima atual. Hoje, essa lotação é quase a metade do número liberado num passado já distante no local. Afinal, o Castelão acaba de completar 50 anos de inauguração, sendo há tempos o principal destino de todos os torcedores alencarinos.
A seguir, então, confira dez curiosidades nessas cinco décadas de atividade no estádio. Confira também publicações especiais do blog sobre a Fonte Nova, o Rei Pelé e o Arruda.
1) Um novo estádio para um novo patamar
A ideia do Castelão surgiu no governo de Plácido Castelo, que comandou o estado entre 1966 e 1971. Ganhou força após o tricampeonato mundial da Seleção Brasileira em 1970, que desencadeou o surgimento de estádios de grande porte país afora, num movimento populista do regime militar. Até a sua inauguração, o principal palco cearense era o Presidente Vargas, que chegou a receber 35.752 pagantes num Ceará 2 x 1 Santos, no 1.000º jogo de Pelé, em 1972. Contudo, aquele público já estava defasado. No Nordeste, Fonte Nova e Arruda impulsionaram as mudanças de patamar em Salvador e Recife. Em Fortaleza isso ocorreu em 1973.
2) Inauguração com clássico na Série A
Apesar da expectativa, o Campeonato Cearense de 1973 ainda foi finalizado no antigo PV, em 8 de agosto, com o título do Fortaleza. O Castelão só foi liberado três meses depois. Pode não ter sido numa decisão, mas foi em grande estilo. Simplesmente, no primeiro Clássico-Rei na história da 1ª divisão do Brasileirão. Homenageando o ex-governador, o “Estádio Governador Plácido Castelo” foi inaugurado em 11 de novembro de 1973. Num domingo à tarde, alvinegros e tricolores ficaram num empate sem gols. O primeiro gol saiu uma semana depois. Pelo mesmo torneio, o atacante Erandy Montenegro marcou o único gol da vitória do Ceará sobre o Vitória.
3) Sete anos até a grande ampliação
O primeiro jogo oficial do Castelão já levou 70 mil torcedores, sendo um dos maiores públicos até hoje. Porém, há uma particularidade. Apesar da multidão, superior à capacidade máxima atual, o estádio ainda não contava com todas as arquibancadas. O público ficou concentrado em dois lances nas laterais do campo. Porém, já havia a estrutura para a ampliação, semelhante ao visual dos maiores estádios paraibanos, Almeidão e Amigão. O Castelão só foi finalizado em 1980, com o complemento do anel superior, com as arquibancadas atrás dos gols. Sete anos depois, então, a capacidade máxima passou para 120 mil torcedores, sendo um dos maiores palcos do país.
4) O recorde do futebol e o verdadeiro recorde
Na história, apenas sete jogos passaram 70 mil torcedores, considerando o borderô oficial. E só um teve seis dígitos. Em 27 de agosto de 1980, o Castelão recebeu a Seleção Brasileira pela primeira vez. Num amistoso contra o Uruguai, numa época na qual todos os convocados atuavam no país, a Canarinha de Telê Santana venceu por 1 x 0, num gol de pênalti do lateral-direito Getúlio, do São Paulo. O lance foi visto por 118.496 torcedores! É o maior público registrado no futebol nordestino. Só não foi a maior presença do Castelão. Naquele mesmo ano, pouco antes, o local recebeu o Papa João Paulo II, que foi recepcionado por 122 mil fiéis. Este, sim, o recorde.
5) As reformas do Século XXI, até o Padrão Fifa
Em 2002, o estádio administrado pelo governo estadual passou por uma grande reforma, com a colocação de cadeiras e a cobertura. A obra foi concluída no segundo semestre, recebendo Brasil x Paraguai em 21 de agosto, num amistoso para festejar o penta – porém, os visitantes venceram por 1 x 0. Em 2011 começou a obra que o colocaria na Copa do Mundo de 2014, atendendo aos rigorosos requisitos do “Padrão Fifa”. Num investimento de R$ 518 milhões, houve troca da cobertura, a reconstrução do anel inferior, a modernização de todos os setores, novos assentos e a troca do gramado. Com 63.903 lugares, a “Arena Castelão” é o maior estádio do Nordeste, além de ser o 4º do Brasil e o 6º da América do Sul. A reabertura ocorreu em 2013, numa rodada dupla pela Copa do Nordeste, com Fortaleza 0 x 0 Sport e Ceará 0 x 1 Bahia, diante de 40 mil pessoas.
6) Ponto alto na Copa do Mundo
O Castelão foi escolhido como uma das sedes da Copa das Confederações de 2013 e da Copa do Mundo de 2014. No evento-teste, recebeu três partidas, incluindo um jogo da Seleção e a semifinal entre Espanha e Itália, com a classificação espanhola nos pênaltis. Já no Mundial foram seis jogos, sendo quatro na fase de grupos, um nas oitavas e um nas quartas de final. E o Brasil atuou duas vezes na capital cearense, com o empate em 0 x 0 com o México, pelo Grupo A, e a vitória por 2 x 1 sobre a Colômbia, nas quartas, no maior jogo do torneio na região. Curiosamente, ambos tiveram 60.342 espectadores. Aquela última partida na Copa ficou marcada pelo golaço falta do zagueiro David Luiz e pela grave lesão de Neymar, atingido por Zuniga.
7) Geraldino Saravá, o maior artilheiro
Nascido no interior, no município de Ipaumirim, a 420 quilômetros de Fortaleza, José Geraldo Olímpio de Souza é o maior artilheiro do Castelão. Por este nome talvez passe batido. Como “Geraldino Saravá” é impossível. Ao todo, marcou 98 gols entre as décadas de 1970 e 1980. Nenhum de pênalti, como gosta de frisar. Nesta conta entram os gols marcados com as camisas de Fortaleza (sobretudo), Ceará, Ferroviário, Tiradentes e Icasa. O curioso é que ele também é o maior artilheiro da história do Fortaleza, com 154 gols, e o maior goleador do antigo Estádio Romeirão, em Juazeiro do Norte, com 72 gols. Em tempo: considerando apenas o período a partir de 2013, como arena, o maior goleador é Magno Alves, do Ceará, com 53 gols.
8) Os números robustos do Clássico-Rei
Em 50 anos, o Clássico-Rei já foi realizado 308 vezes no Castelão, sendo de longe o palco mais recorrente do embate entre o vozão e o laion. De acordo com o levantamento de Mauro Bastos, do perfil História & Dados, foram 109 vitórias alvinegras, 87 vitórias tricolores e 112 empates. Pela Série A, com 17 clássicos, foram 10 vitórias do Ceará, 3 vitórias do Fortaleza e 4 empates. Lá, o Clássico-Rei decidiu o título estadual em 23 oportunidades, com Ceará x Ferroviário (6 vezes) e Fortaleza x Ferroviário (5 vezes) vindo depois. Dos 43 títulos estaduais definidos no período, foram 21 taças para o Ceará, 19 para o Fortaleza e 3 para o Ferroviário.
9) Palco recorrente na final do Nordestão
Em 20 edições na história da Copa do Nordeste, o estádio recebeu quatro decisões, considerando o jogo da entrega da taça. Só está abaixo da Fonte Nova, que tem cinco. No principal estádio cearense, todas as finais foram já no período como arena. A “orelhuda” foi erguida em 2014 (Sport), 2015 (Ceará), 2021 (Bahia) e 2022 (Fortaleza). Três desses jogos passaram de 60 mil pagantes, tendo como exceção o jogo de volta da final de 2021, com Ceará x Bahia, que ocorreu de portões fechados devido à pandemia da Covid-19.
10) Utilização excessiva e futuro tecnológico
O Castelão foi o estádio mais utilizado do futebol brasileiro em 2021 e 2022, com 83 e 73 jogos, respectivamente. Isso vem gerando uma preocupação constante com o gramado, que inclusive foi trocado visando o cinquentenário em 2023, assim como a drenagem. A qualidade do campo continua demandando atenção, mas o futuro também tem outras frentes. O atual governador do Ceará, Elmano de Freitas, projeta a instalação do sistema de reconhecimento facial em breve, tentando se antecipar à exigência prevista para junho de 2025, através da Lei Geral do Esporte (lei nº 14.597/2023), que estabelece a obrigatoriedade em estádios a partir de 20 mil lugares. Além disso, quer discutir a retirada das cadeiras dos setores onde ficam as principais torcidas uniformizadas de Ceará e Fortaleza – atrás dos gols. Neste ano, o governo investiu R$ 15 milhões no estádio, adquirido novos equipamentos de iluminação de LED e placares eletrônicos.
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A seguir, veja algumas imagens com a evolução do Estádio Castelão.
A inauguração em 1973, com a estrutura ainda incompleta.
O visual tradicional do Castelão nas décadas de 1980 e 1990.
A primeira modernização, com cadeiras e cobertura, em 2002.
O salto de qualidade com a reforma para a Copa do Mundo de 2014.